Na manhã do dia 24 de novembro de 2021 foi mais um dia de luta para o Coletivo de Bibliotecários Negros. Diariamente lutamos para compartilhar conhecimento, lutas, ações, reflexões, criar e refundar visões de mundo. Essas lutas podem não ser visíveis, mas ser preto no Brasil é uma prova de resistência diária. Entrou rápido demais na loja e poderia ter sido morto se não fosse o ao vivo do Instagram. Chacina no Rio de Janeiro. Bala perdida. É, temos medo. Somos a pele alvo.

Mas o medo não nos cala e por isso denunciamos em conjunto o evento “Competência crítica em informação e o feminismo negro”, a ser protagonizado por uma mulher branca, Daniella Alves de Melo, doutoranda em ciência da informação pela UFPB. O feminismo negro não é para lábios brancos. Os brancos podem ainda nos utilizar como peças e nos objetificar, mas não sem a nossa resistência.

A organização errou e a participante errou em aceitar participar. A reflexão sobre o lugar de fala popularizada pela Djamila Ribeiro deve ser sempre lembrada para que epistemicídios como esses não se repitam.

A violência epistemicida se apoia no violento processo de silenciamento de vozes negras. Da invisibilidade de pesquisadores negros. Para encontrar uma pesquisadora negra basta dar uma olhada nos títulos da Nyota, nas publicações da Biblioo, do Quilombo Intelectual, do Geledés. Dá trabalho revisitar suas referências, mas é um trabalho necessário.

Seguiremos resistindo ao epistemicídio na biblioteconomia. Estamos em retomada dos espaços pela branquitude que não reflete. Passamos os últimos anos em diálogo, com humildade para que fossem escutadas nossas demandas na biblioteconomia e na ciência da informação. Fomos didáticos e pacientes, mas agora estamos cobrando as nossas aulas gratuitas, o nosso tempo para explicarmos, nossa paciência.

Não somos seus objetos de pesquisa e projetos sociais. Não somos suas cotas! Estudem a própria branquitude, ainda existe um sem número de estudos a serem feitos sobre a branquitude na biblioteconomia e na ciência da informação.

A Sala Aberta ICI/UFBA, ao ser questionada, informou que não cancelaria o evento e que a narrativa de Daniela seria pelo prisma de sua pesquisa e que já havia tido a participação de uma mulher negra escritora, poeta e ativista, certamente trata-se de Elizandra Souza. A resposta da Sala Aberta colocou Elizandra com a vivência em contraposição a pesquisadora Daniella.

Não são elementos comparáveis, mas que tem hierarquia muito diferente nos ambientes acadêmicos. Após as críticas nos comentários da publicação serem apagados e restringidos, o evento foi cancelado, mas parece que não houve uma reflexão por parte da organização. Ainda falta muito para a biblioteconomia e a ciência da informação sejam realmente antirracistas, mas seguimos alertas, produzindo, pesquisando, atuando e o que desejamos ainda não tem nome, não tem definição e não tem uma única voz.

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