As fases da comunicação e transmissão da informação e do conhecimento perpassam as épocas da oralidade, escrita e eletrônica. Em épocas de oralidade o conhecimento era transmitido de pai para filho, de geração a geração através das rodas de conversas, grupos familiares etc. Baseavam-se em lembranças, conhecimentos adquiridos e memória auditiva. As sociedades, mesmo que primitivas, mantinham uma forma de comunicação.

Para Pierre Levy, em sua obra As tecnologias da Inteligência “a oralidade primária remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita, a oralidade secundária está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita, tal como o conhecimento hoje”. Atualmente, busca-se saber como, a partir do “tsunami” de informações flutuantes na grande rede/Internet, como podemos alcançar conhecimento e como podemos transmiti-lo.

É notório que a sociedade do século XXI perdeu a prática de transmissão de conhecimentos como acontecia na época da oralidade, de pai para filho. As transformações da sociedade refletem as mudanças de comportamentos inclusive na transmissão dos saberes. A dinâmica estabelecida pelas tecnologias, o aumento de oferta de informações, permitindo que as pessoas, hoje, façam suas pesquisas por informações na Internet e nos diversos repositórios existentes de forma autônoma sem intermediações.

O principal desafio das empresas, neste século, é o de conseguir abandonar o modelo tradicional da era industrial e incorporar-se à era da informação e do conhecimento. Antes, o que colocava uma empresa na linha de competitividade era sua capacidade de produção e sua infraestrutura. Atualmente, a informação e o conhecimento são fontes de geração de riquezas e vantagens competitivas, através da administração do capital intelectual. Uma empresa necessita gerenciar, de forma eficaz, seus bens intangíveis, ou seja, as informações e os conhecimentos, a fim de manter-se competitiva no mercado.

Esta mudança de paradigma, aliada ao volume informacional intenso, ocasionam necessidade do uso de mecanismos de gerenciamento de informação e de conhecimento. As empresas possuem os conhecimentos tácitos e explícitos embutidos em seu meio, porém, o conhecimento tácito precisa ser trabalhado para que o grupo possa compartilhar experiências, sucessos e decepções para buscar soluções e assim transformá-lo em conhecimento explícito.            Este artigo visa discutir a gestão do conhecimento, apresentando os conhecimentos tácitos e explícitos e as comunidades de prática, foco principal deste trabalho.

Gestão do Conhecimento

Antes de avançarmos na discussão, cabe aqui definir o que é conhecimento e, consequentemente, as diferenças entre conhecimento tácito e explícito.

Oliveira Jr, em sua Tese Administração do conhecimento em redes corporativas globais: um estudo de caso na indústria de propaganda afirma que conhecimento “é a relação que se estabelece entre sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer”. Já no livro Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual, Davenport e Prusak dizem que conhecimento “é uma mistura fluida de experiências condensadas, valores, informação contextual, insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações”.

Percebe-se, nesta última definição, que a construção do conhecimento surge, também, de resultados de interpretações e contextualizações de informações e experiências, ou seja, há um conhecimento que flui no meio. Trata- se do conhecimento tácito: ideias e experiências que provêm de diferentes culturas, sendo adquirido no cotidiano, diferente do conhecimento explícito, que está registrado nos meios formais, ou seja, nos livros, publicações científicas, manuais etc. Mendes, em seu artigo Conhecimento tácito e explícito, afirma que o “conhecimento tácito é aquele que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, que está na cabeça das pessoas”.

Sabemos que esse conhecimento pode ser formalizado, embora muitos autores afirmem ser difícil de mensurar. Afirma ainda Mendes que o “conhecimento explícito é aquele formal, claro, regrado, fácil de ser comunicado. Pode ser formalizado em textos, desenhos, diagramas etc.”. Esse pode ser guardado e publicado para utilização da organização. Na literatura encontra-se que a concepção do conhecimento tácito e explícito se deu em meados do século XX e foi elaborado pelo filósofo Polanyi e mais tarde popularizada por Nonaka e Tacheuchi.

Considerando os modelos de gestão e a forma de produção e disseminação do conhecimento nas empresas, citamos o trabalho de Nonaka e Takeuchi, intitulado Gestão do Conhecimento que trata a teoria de criação do conhecimento, baseada em conhecimento explícito e tácito. Para eles “a empresa [é] ‘criadora de conhecimento’, cujo negócio principal é a inovação constante”. Estes definem as atividades que as organizações necessitam focar quando se trata de competitividade no mercado. Estas atividades são: 1) criar constantemente novos conhecimentos; 2) disseminar esse conhecimento na organização e 3) incorporar esse conhecimento em novas tecnologias e produtos.

Estes autores afirmam que o “cerne da abordagem japonesa é o reconhecimento de que a criação do novo conhecimento não se refere simplesmente ao ‘processamento’ da informação”, se refere à exploração dos insights tácitos e palpites dos funcionários. E para isto, o foco é a identidade; o compromisso pessoal dos funcionários. Enfatizam que, para uma empresa criadora de conhecimento, o novo conhecimento não é uma atividade especializada, mas sim uma forma de comportamento, “uma forma de ser, na qual todos são trabalhadores do conhecimento”. Para os autores, o novo conhecimento começa com o indivíduo e tornar esse conhecimento disponível para os outros é uma atividade da empresa criadora de conhecimento.

Tratando a conversão do conhecimento de tácito para explícito, verifica-se, na literatura, como é complicado expressar os insights, palpites e opiniões para que se tornem conhecimento explícito. Takeuchi e Nonaka afirmam que os conhecimentos tácitos e explícitos não estão totalmente separados, são mutuamente complementares. Esse pressuposto de interação dos conhecimentos nos encaminha para os quatro modos de conversão do conhecimento, ou modelo SECI.

Explicando esse processo, temos:

  • Socialização – de tácito para tácito

Ocorre na interação entre indivíduos que, de alguma forma, estimulados, passam a compartilhar seus conhecimentos, habilidades, experiências, idéias, percepções, etc.

  • Externalização – de tácito para explícito

Busca-se transformar o conhecimento do indivíduo em um conhecimento articulado e transmissível.

  • Combinação – de explícito para explícito

Ocorre quando os conhecimentos explícitos existentes podem ser combinados para gerar um novo conhecimento.

  • Internalização – de explícito para tácito

Criado através da interpretação dos conhecimentos explícitos que estão em manuais, livros, normas, comunicados e diversos tipos de documentos que estão na empresa.

Comunidades de Prática: o que são e para que servem

As empresas buscam a vantagem competitiva e para isso é utilizada a gestão do conhecimento, o qual está estruturado a partir do capital intelectual. As organizações precisam interagir com o ambiente e absorver as informações e transformá-las em conhecimento para formação de suas competências.

Para início de nossa construção apresentamos alguns pontos de vista encontrados na literatura para enfatizar o que as empresas atualmente pensam em relação à gestão do conhecimento. O trabalho de Berbe, intitulado Gestão da Informação e do Conhecimento: reflexões de conceitos e o papel da Biblioteconomia, afirma que as empresas mais inovadoras, que se voltam para a Gestão do Conhecimento, necessitam de uma abordagem que veja a organização, como uma comunidade humana, cujo conhecimento coletivo representa um diferencial competitivo em relação aos seus mais diretos concorrentes. Já Oliveira Jr diz que o conhecimento da empresa “é o resultado de interações específicas que ocorrem entre indivíduos de uma organização e é, portanto, um ativo socialmente construído”.

Com base nos autores estudados é importante lembrar que o conhecimento isolado de nada serve a um grupo ou empresa a não ser que se torne um conhecimento explícito permitindo que seja compartilhado ao um grupo de indivíduos e assim, agregar valor ao conhecimento.

O conhecimento tácito ou informal é gerado a partir do uso do conhecimento formal, constituindo-se de ideias, fatos, suposições, decisões, questões e pontos de vista. Já o conhecimento formal ou explícito está materializado em livros, repositórios de documentos científicos, periódicos. Por tanto, um dos grandes desafios das organizações, segundo Berbe, é gerenciar o conhecimento informal.

Uma estratégia encontrada para gerenciar esse conhecimento informal são as Comunidades de Prática. A partir desse ponto discutiremos o que são as comunidades de prática, para que servem e suas fases.

As comunidades de prática integradas a ferramentas tais como, email, internet, fóruns de discussão, messenger e outras tecnologias de informação promovem a criação e disseminação do conhecimento.

Guilherme Lima Moura, no artigo Somos uma comunidade de prática?, afirma que o primeiro uso conhecido da expressão “comunidade de prática” é atribuído aos pesquisadores sociais Lave e Wenger (1991), que as definem como organizações informais naturalmente formadas entre praticantes de dentro e de fora das fronteiras de organizações formais. No artigo Gestão do Conhecimento: Comunidades de Prática e as Ferramentas que podem propiciar um diferencial competitivo às organizações, ou autores Djair Picchiai, Paulo Sergio Gonçalves de Oliveira e Meire dos Santos Lopes (2007) tratam as comunidades de prática como grupos auto-organizados de pessoas, que costumam ser iniciados por funcionários, para discutirem e compartilharem práticas, interesses ou objetivos de trabalho.

Desta forma, “se sua comunicação revelar-se útil ao longo do tempo, eles podem formalizar o arranjo, atribuindo a si um nome de grupo e estabelecendo um sistema de intercâmbio”. Para Takimoto, no artigo Afinal, o que é uma comunidade de prática?, “as comunidades de prática são formadas por indivíduos que se envolvem em um processo de aprendizado coletivo, portanto no domínio de uma atividade humana compartilhada pela comunidade”.

Entendemos que as Comunidades de Prática são agrupamento de pessoas com foco comum para discussão e aprendizado sobre sua atividade e assim compartilhar conhecimento.

Muitas empresas estão trabalhando com a Gestão do Conhecimento e implantando Comunidades de Prática. Um exemplo é o Ministério da Saúde, com a Comunidade de Prática da Atenção Básica de Saúde. Essa comunidade abarca a atenção primária de saúde, ou seja, as unidades básicas de saúde e clínicas de saúde da família. Pode-se encontrar maiores informações no site: http://atencaobasica.org.br.

Outra experiência é da Editora Abril–Educação para colaboração entre alunos e professores. Um espaço em que o professor obtém materiais adicionais para as aulas e ainda compartilha experiências e ideias sobre diversos temas educacionais. No site se encontram diversos materiais, entre livros, vídeos etc. Com relação aos livros, o site apresenta cada capítulo e assim os mestres podem se utilizar desse saber explícito em suas aulas. Maiores informações podem ser encontradas no site:  http://www.comunidadespraticas.com.br.

Outros casos como a Petrobrás e Embratel podem ser citados, como tantas outras empresas que instituíram as Comunidades de Prática e essas vêem agregando conhecimentos. As comunidades de prática trazem maior benefício tanto para as empresas quanto para as ambições profissionais, pois potencializam o desenvolvimento de suas atividades técnicas e intelectuais.

Há cinco fases do ciclo de vida das Comunidades de Prática e podem ser classificadas como: potencial ou inicial, crescimento, maturidade, sustentação e transformação.

Na fase inicial ou potencial é o lançamento da Comunidade, onde se estabelece o escopo, se insere membros e se demonstra o valor que os membros adquirirão. A fase de crescimento é aquela na qual a comunidade torna-se ativa, os membros começam a identificar o valor, aprendizado. A maturidade da Comunidade é relacionada ao apoio e reconhecimento da empresa e começa a ter uma estrutura sustentável. A próxima fase é a sustentação, que é um desafio para manter o ritmo na comunidade. Os membros podem se desinteressar pelo conteúdo. É importante, nessa fase, motivar os membros a continuar sua participação. Na fase de transformação, a Comunidade já não é de interesse, porém se mantém viva, mas é reconhecida na organização. Já possui material para manter sua existência. Nessa fase a organização deve preservar o material histórico.

Observamos o potencial dessas comunidades nas pesquisas realizadas para este trabalho, porém há muitos outros casos de sucesso.

Gerenciando os conhecimentos informais

A conhecida terceira onda, ou Era do Conhecimento, traz a informação com a principal fonte de matéria prima. A informação torna-se indispensável na nova sociedade e com isso nova organização da comunicação, educação etc. Surge a Internet, o que permite as pessoas estarem em vários locais ao mesmo tempo, transforma a comunicação ágil e a resolução de questões em poucos minutos. Com isso as pessoas tornam-se cada vez mais ávidas de conhecimento e as organizações apenas buscam aqueles trabalhadores mais qualificados.

As empresas buscam, atualmente, as habilidades e conhecimentos capazes de fazer com que continuem na competitividade do mercado. Deixam o valor pelo capital tangível (unicamente) para a busca pelo valor intangível para agregar novos conhecimentos ao seu rol de saberes.

Vive-se em na Sociedade da Informação e do Conhecimento e com isso há o novo perfil de profissional. O perfil de empreendedor de se adaptar ao meio e estar constantemente em busca de novos saberes e de autorrealização.

Neste trabalho enfatizamos os conceitos de gestão do conhecimento e comunidades de prática como forma de encontrar na literatura experiências para compartilhamento de saberes e assim construir conhecimento coletivo e também apontamos alguns caminhos para formação de uma comunidade de prática Observamos que a Comunidade de Prática é uma das melhores formas de gerenciar os conhecimentos informais que estão na cabeça dos profissionais. Esperamos poder construir uma comunidade e assim levar para a empresa mais conhecimentos e compartilhá-los com os demais profissionais.

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