Vivenciar os problemas, compreender suas razões, entender suas perspectivas para a profissão que você está projetando, tudo isso só é possível, ou será melhor compreendido por você, caso se permita circular por vários ambientes que contemplem a formação do seu curso, entre eles, o tal estágio.

O primeiro momento do estágio é caracterizado por dúvidas, medos, anseios. Como mostrar o que você sabe e aprendeu se você ainda acha que não sabe? E se pergunta: serei uma espécie de escravo da biblioteca? Um faz tudo, um pau mandado? Bem… Estagiário é aquele que faz um estágio e um estágio é compreendido por “método de aprendizado através de exercícios, de funções profissionais que agregam conhecimentos, somados aos teóricos aprendidos em escola ou universidades e desenvolvidos num lugar de trabalho”.

Fazendo uma alusão ao trabalho do homem do campo, o estágio é para se lavrar a terra com arado, preparar o terreno para que possamos entrar da melhor forma possível na nossa profissão e, assim, poder plantar, cultivar e desenvolver o terreno para colheita do saber. A vivência nos faz perceber, principalmente, a validade que tem a prática no aprendizado das teorias.

O fato de ter passado por pelo menos quatro estágios e dois projetos, ambos financiados pela FAPERJ (um sobre o Samba como Patrimônio Cultural e o outro sobre a Música Popular Brasileira), além do trabalho voluntário (coordenei a implantação da Biblioteca Comunitária do Morro do Borel, em parceria com o G.R.E.S. Unidos da Tijuca, em troca do espaço para festa do Encontro Nacional de Biblioteconomia, que aconteceu no RJ há alguns anos). Essas experiências me mostraram exatamente o quanto tudo isso é válido. Nos últimos anos estagiei e participei de pequenos trabalhos remunerados ao mesmo tempo, ufa! Precisava de renda para me manter. Passei por muitos apertos, mas valeu.

Minha primeira experiência foi na Biblioteca da Universidade Cândido Mendes (UCAM). O acervo de lá é composto de 144.204 documentos variados. É um acervo de caráter geral, cobrindo mais especificamente os temas relativos aos cursos de Direito e Administração de Empresas. Assuntos na qual eu não tinha o menor domínio e interesse. E isso foi assustador, não vou negar. Mas a recepção por parte dos funcionários foi muito boa e isso me ajudou e me tranquilizou um pouco, nesse início.

A despeito de todas as dificuldades individuais de adaptação, falta de conhecimento técnico e condições naturais adversas, segui em frente. A minha função era especificamente voltada ao serviço de referência. O usuário não tem acesso à estante nessa biblioteca, portanto cabia a minha pessoa, correr atrás o mais rápido possível para entender, identificar e conhecer o acervo e onde estava cada assunto dentro daquele espaço. Não foi nada fácil! Saí de lá devendo isso, pois fiquei pouco tempo, mas o suficiente para observar a dinâmica de trabalho deles e cultivar boas amizades.

Por conta de outra proposta de estágio, que me pareceu muito adequada e compatível com o tempo e espaço dentro dessa dinâmica de correr de um lugar para outro, já que na época, eu morava distante da UNIRIO, optei em trocar a UCAM pela Biblioteca da Casa da Moeda do Brasil. A instituição ficava mais perto da minha antiga residência e isso era um atrativo a mais, além da boa remuneração que era oferecido por eles e também do transporte e alimentação no local.

Benefícios fazem muita diferença na vida de um estagiário (gostaria que todas as instituições contratantes soubessem disso!). Explico por quê: antes de enveredar por esse caminho, eu tinha um emprego onde eu era bem remunerado, mas tive a necessidade de entender, captar um pouco mais do que o curso na teoria estava me dando e por esse motivo resolvi arriscar e largar o meu emprego, sendo assim, passei a receber como estagiário bem menos do que recebia na empresa onde tinha vínculos empregatícios – isso muda a sua vida, pode apostar. E essa é uma decisão muito difícil de tomar.

Não foram poucas as vezes que ouvi do professor e na época diretor do curso, falar da importância dessa tomada de decisão. Mas voltando à Casa da Moeda, local onde guardo boas lembranças e onde comecei de verdade a captar na prática os ensinamentos das aulas. O meu plano pessoal me estimulou e me permitiu um processo amplo de compreensão da minha função na Biblioteconomia e na Biblioteca da Casa da Moeda. Naquele exato momento eu já estava compreendendo melhor tudo que estava acontecendo e/ou o que estava por vir. Minha função nessa biblioteca me permitiu o contato com a parte do processamento técnico, sempre muito bem assessorado pelo bibliotecário responsável por essa área.

Também cobria alguns funcionários no horário de almoço no setor de referência quando era preciso. Fui muito bem recebido pela bibliotecária-chefe, na qual deposito todo meu respeito e admiração até hoje. O acervo é muito bem cuidado e tratado, tanto pelos funcionários como pelos usuários da instituição. O lugar é ótimo para uma boa temporada de dois anos de estagio, como fiz.

Meu terceiro estágio foi na biblioteca de uma instituição federal, incorporando seus  problemas, dificuldades, anseios e motivações. Acredito que foi o local onde mais refleti sobre a função do ser bibliotecário. Neste momento esqueci por algumas vezes de verdade que estava ali como estagiário e tentava, dentro da minha cabeça, me projetar como se fosse um bibliotecário. Achei que deveria fazer isso naquela época.

Vi ali as dificuldades enfrentadas por alguns profissionais, o valor da profissão e do bibliotecário para o mercado e também seu posicionamento dentro desse espaço e em suas respectivas empresas. Aprendi muito neste local. Lá não foi como o aprendizado da teoria na pratica, como ocorreu nos meus dois estágios anteriores. O que ocorreu nessa biblioteca foi algo bem diferente. Mas saí de lá com muito orgulho de mim. Contribui bastante e sei que deixei de alguma forma um pouco de mim nesse local. Deixei lá uma grande amiga, que foi a minha chefe nestes dois anos de convivência.

Prestes a concluir o curso, passei uma pequena temporada na Biblioteca Parque de Manguinhos. Não sei por onde começar para descrever a experiência que esse local me proporcionou em tão pouco tempo de estadia. Mas vamos lá! Inaugurada em abril de 2010, tendo como principais referências às bem-sucedidas experiências de Medelín e Bogotá, na Colômbia, a Biblioteca Parque é uma biblioteca pública multifuncional em área de risco e assim, contribui para a diminuição da violência, criando um espaço de convivência da comunidade.

A biblioteca é muito bem servida no que diz respeito ao acervo, lá é feito uma série de trabalhos voltados para comunidade, tem uma boa Ludoteca, muitos computadores para acesso a internet, espaço para deficientes visuais, sala para aulas de percussão com muitos instrumentos musicais, um teatro, um excelente acervo literário. Enfim, um mundo em um belo espaço preparado para atender. E atender é a questão chave dessa biblioteca.

O tempo e a transformação que as experiências nos proporcionam me permitem fazer uma reflexão um pouco mais apurada para algumas questões delicadas em que o profissional, seja ele de qualquer área do conhecimento, tenha que passar, para que em algum momento ele tenha a percepção real e noção da sua função como profissional de servir, ser a ponte, o caminho para o conhecimento de outras pessoas.

E isso lá é aplicado com muita dignidade e respeito. Imagino as dificuldades percorridas por todos para chegar a esse ponto, que este espaço se encontra agora. Cada dia foi um aprendizado diferente, me surpreendi com tudo que vi e fiz por lá! E o mais estranho é que tudo isso relatado por mim, me deu muito prazer e motivação para seguir firme no meu propósito. Ainda não sei explicar exatamente por quê. Mas sinto e percebo a cada dia que fiz sim a escola certa! A biblioteconomia me escolheu! E eu escolhi a Biblioteconomia!

Portanto, pessoal: estágio é necessário! Não percam essa oportunidade de fazer novos contatos, criar laços, adquirir conhecimento. Graças a tudo isso relatado acima, estou empregado e administrando duas bibliotecas de uma instituição particular, atuando como bibliotecário com muito orgulho da profissão e completei um ano de casa, no último dia 16 de setembro de 2014. Fui indicado por uma profissional com quem tive a oportunidade de trabalhar em um desses estágios por onde passei. Agora estou tendo a oportunidade de aplicar todas essas experiências adquiridas na sala de aula e fora dela!

Não tenha medo, aproveite cada momento. Boa sorte a todos!

Duvidas sobre a função dos estagiários?

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) preparou a cartilha esclarecedora sobre a Lei de Estágio. Clique aqui para baixar.

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