Ela veio de uma tradicional família cearense, que em 1913 estava instalada no norte do país, no estado do Pará, onde ela nasceu no dia 23 de março. Aos 16 anos Lydia já era casada com Júlio Furquim Sambaquy, passando a residir em São José do Rio Preto. Em 1929, devido a crise econômica, mudaram-se para o Rio de Janeiro.

As autoras Ana Carvalho e Maria Nascimento apontam em seu artigo, Lydia Sambaquy e suas Contribuições para Biblioteconomia e Ciência da Informação no Cenário Brasileiro, que em 1938 Lydia foi incentivada pela irmã Sylvia de Queiroz Grillo, que na época chefiava a biblioteca do DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), a participar de treinamentos realizados nessa instituição. Lydia logo se interessou pela área e começou o curso para bibliotecária oferecido pela Biblioteca Nacional. Em 1939 Lydia assumiu a direção da biblioteca do DASP depois do afastamento da sua irmã e começou a publicar alguns conteúdos referente a biblioteca na Revista do Serviço Público. Antes de assumir o cargo e dar continuidade ao trabalho da irmã, Lydia já era bastante atuante na biblioteca do DASP, trabalhou como assistente técnico e técnico administrativo antes de se tornar diretora. Logo em seguida, em 1941, tornou-se bibliotecária pela Biblioteca Nacional. Lydia via a necessidade de qualificação de pessoal para atuar nas bibliotecas do país, então iniciou parcerias com a Biblioteca Nacional, que na época, era a única instituição formadora de bibliotecários do Brasil. Com o apoio do DASP iniciou o curso preparatório para bibliotecários. Isso abriu portas para novos cursos de biblioteconomia nacionais.

Antes de Lydia Sambaquy tornar-se diretora da biblioteca do DASP, os livros daquele acervo não eram catalogados. Eles estavam reunidos nas estantes por assunto. Sua antecessora procedeu dessa maneira, pois, antes de classificar o acervo, ela queria conhecer e possivelmente aplicar o método Anderson-Glidden, que era um modelo americano de organização. Porém, a constante aquisição de livros e o pouco espaço disponível demandam uma solução urgente. De acordo com as autoras Ana Carvalho e Maria Nascimento, no ano de 1942, sob a direção de Lydia, a biblioteca do DASP tornou-se um laboratório experimental para o SIC (Serviço de Intercâmbio de Catalogação), que tinha como objetivo principal desenvolver uma rede cooperativa de bibliotecas para a catalogação de livros. Foi um projeto ousado e inovador, que juntamente com o trabalho árduo realizado pela equipe começou a elevar a biblioteca do instituto ao nível de biblioteca referência para as outras do serviço público. Esse novo modo de pensar começou a revolucionar aos poucos as características das bibliotecas daquela época.

No texto O IBBD e a Informação Científica: Uma perspectiva histórica para ciência da Informação no Brasil, a autora Nanci Oddone informa que em 1945 Lydia é nomeada professora efetiva da Biblioteca Nacional, do curso de graduação em Biblioteconomia,  lecionando Catalogação e Classificação. Tendo em mente que ações cooperativas poderiam alinhar as divergências entre as unidades de informação do país, Lydia defendia o apoio e a interação entre bibliotecários e bibliotecas. Nesse mesmo ano ela deixou a biblioteca do DASP e continuou a desenvolver o SIC, que ao longo da sua existência foi alvo de muitos debates e críticas. No entanto, esse sistema representou um importante passo para a integração das bibliotecas brasileiras, criando uma rede de cooperação que até 1968 atendeu mais de 300 bibliotecas e produziu fichas catalográficas para mais cem mil livros. Com o passar dos anos a convicção de Lydia a respeito da necessidade de cooperação na área da biblioteconomia só cresceu. Ana Carvalho e Maria Nascimento pontuam que Lydia Sambaquy desenvolveu textos e artigos com esse assunto e após participar da Conferência da Unesco em São Paulo em 1951 ela começou a integrar o Comitê II, que abordou a ação interamericana necessária para o desenvolvimento das bibliotecas públicas. Nessa realidade o IBBD começa a ser idealizado por ela. Lydia também foi responsável pelo estreitamento dos laços entre a área de biblioteconomia e de documentação. O cenário particular de cooperação que temos hoje no Brasil entre esses dois campos não é visto internacionalmente.

Em 1952, Lydia e Jannice Monte-Mór, em uma parceria com a Unesco, fizeram uma viagem de quase um ano conhecendo e estudando as bibliotecas e centros de informação nos Estados Unidos e na Europa. De acordo com Nanci Oddone no seu artigo anteriormente citado, essa viagem fez com que Lydia retomasse a ideia de um órgão centralizador, capaz de capitalizar recursos bibliográficos de diferentes origens e que pudesse ser usada por toda a comunidade científica. Porém, embora a ideia fosse bem aceita, problemas de natureza financeira barravam o projeto. Só em 1954, depois de muito esforço e dedicação, ocorreu a implantação do IBBD (Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação). Lydia Sambaquy desenvolveu dentro do IBBD ações mais abrangentes, que incluíam, por exemplo, a criação de cursos para interessados na área que não fossem bibliotecários. Essa atitude distanciava a sua direção da visão mais “pura” e mais restritiva das bibliotecas tradicionais. E foi duramente criticada por profissionais conhecidos na área como Laura Russo.

No final de 1965, após 11 anos à frente desse projeto, Lydia deixa a presidência do IBBD, por força do golpe militar de 1964. Dando continuidade ao seu trabalho ficou Jannice Monte-Mór, Celia Ribeiro Zaher e Hagar Espanha Gomes, sendo que as duas últimas bibliotecárias, futuramente, iriam juntas organizar o primeiro curso de mestrado em Ciência da Informação da América do Sul. Em 1976 é criado o IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), que incorpora e assume as atividades antes executadas pelo IBBD.

Lydia Sambaquy escreveu sobre a sua atuação através de publicações em revistas especializadas e também escreveu algumas obras:

➢ O IBBD e os serviços que se propõe a prestar – 1957

➢ Como usar as fichas impressas pelo Serviço de Intercâmbio de Catalogação – S. I. C. – 1959

➢ A biblioteca do futuro – Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG – 1972

➢ Catalogação cooperativa e catalogação centralizada – Revista do Serviço Público – 1951

➢ Catálogo coletivo de periódico – IBBD Boletim Informativo – 1956

➢ Como a biblioteca pode e deve servir ao Brasil – Conferência Pronunciada no salão nobre da Biblioteca Pública – 1943

➢ Despedida do IBBD – Manuscrito – 1965

➢ Da biblioteca à Informação – Artigo – 1978

Lydia Sambaquy dedicou a sua trajetória profissional a desenvolver e aplicar estratégias que auxiliassem o progresso da biblioteconomia brasileira. Ao criar ferramentas como o S. I. C e o I.B.B.D, juntamente com a sua equipe, deram largos passos na criação de uma base sólida para que a Ciência da Informação se desenvolvesse no nosso país.

Lydia tinha como ideal a cooperação entre as unidades de informação, bibliotecas e bibliotecários, com base nisso traçou estratégias inovadoras que revolucionaram o modo de gerir e compartilhar informações. Sendo assim, ela conseguiu criar com o seu legado uma nova perspectiva para a biblioteconomia que inspirou e inspira diversos profissionais até hoje.

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