O Sindicato dos Bibliotecários do Estado do Rio de Janeiro (SINDIB/RJ) publicou nesta quarta-feira, 31, uma nota de apoio ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. “Se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele”, disse o presidente da República Jair Bolsonaro se referindo à Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido após ter sido preso no Rio de Janeiro por agentes da ditadura, 21 em fevereiro de 1974, e posteriormente assassinado por estes.

“O Sindicato dos Bibliotecários do Estado do Rio de Janeiro, SINDIB/RJ, através de sua Diretoria e de seu Conselho Fiscal, em decorrência das manifestações públicas do Senhor Presidente da República, na data de 29 de julho de 2019, vem a público manifestar seu apoio ao Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz Oliveira Scaletsky, ao ataque desmedido sofrido”, diz a nota, afirmando que as palavras de Bolsonaro atingiram também as famílias que tiveram seu entes exilados, torturados, desaparecidos e mortos durante a ditadura.

“Como entidade que representa uma categoria que prima pela história, pela memória e, por fim, pela informação verídica, não podemos deixar de manifestar nossa execração a qualquer ato que venha atacar o documento mais importante que rege nossa nação, a Constituição [Federal de 1988], que pouco a pouco vem sendo desconstruída em um total ataque às cláusulas pétreas e aos direitos humanos nela estabelecidos”, afirma o documento que também repudia o que chama de “ataques realizados nos Sistemas Sindicais e Trabalhistas do país”.

As declarações de Bolsonaro foram proferidas durante uma entrevista em que o presidente da República criticava a OAB pela sua atuação na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do ferimento a faca que sofreu no período eleitoral. A OAB de Minas Gerais havia impetrado mandado de segurança ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) pedindo a suspensão da análise dos materiais do advogado de Adélio, Zanone Manuel de Oliveira, apreendidos em dezembro de 2018. Para a Ordem, a ação viola o sigilo profissional do exercício da advocacia.

Sobre o pai do presidente da OAB, embora Bolsonaro negue, documentos da Comissão da Verdade, da Marinha e da Aeronáutica indicam que Fernando Santa Cruz, que era militante da Ação Popular, organização que combatia a ditadura militar brasileira, foi preso por agentes do regime um dia antes da data em que morreu. O atestado de óbito diz que ele teve “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.

“O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram – e sempre estarão – sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil. Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente”, disse Felipe Santa Cruz nas redes socais.

Abaixo a nota do SINDIB/RJ:

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