É indiscutível que o Luís Antônio Giron proferiu inverdades e incorreu em velhos preconceitos contra os bibliotecários em seu tão comentado artigo “Dê adeus às bibliotecas”. Mas o que mais incomodou em seu texto foram as verdades ditas. Sim, porque combater as inverdades é fácil, pois como já dizia minha avó “mentira tem perna curta”, mas combater as verdades não é fácil.

Não vou me deter no que seriam as tais verdades ou inverdades, preconceitos ou clichês no texto de Giron, o fato é que nossa categoria padece muitas vezes de uma condescendência, de uma displicência, de uma preguiça mental (como queira chamar), que muito me assusta. Das muitas respostas e comentários dirigidos ao texto do jornalista, pouquíssimos se dignaram a fazer a mea culpa. Ao contrário, a maioria se deteve na condição de vítima, como se precisássemos apelar o tempo todo para que a sociedade brasileira (que por sinal é pouco afeita às bibliotecas) nos olhasse com um pouco mais de respeito profissional, quando muitas vezes nem nós mesmos nos respeitamos.

Não é verdade quando o Giron diz, com ironia e generalizando (diga-se de passagem), que nossa categoria guarda uma “cortesia típica”, mas qual de nós nunca se deparou com um colega de profissão que mais parece ter saído da masmorra do que de uma formação para atender o usuário com um mínimo de cortesia? Qual de nós não conhece um bibliotecário que conduz sua carreira mais como um fardo do que como uma “missão”, (para usar a expressão do José Ortega y Gasset, no seu famoso texto “Missão do bibliotecário”)?

O que quero dizer com isso tudo é que antes de nos alvoroçarmos com as críticas (injustas ou não) direcionadas a nós, precisamos olhar para dentro de nossa categoria e, com um mínimo de hombridade, admitirmos que não somos e nunca seremos os paladinos do conhecimento, até por que tal figura não existe, por mais que alguns acreditem nisso. Enquanto nos preocuparmos com as nossas reservas de mercado, com nossas barganhas polítiqueiras e com nossos regozijamentos vespertinos no interior de Conselhos de casse, sindicatos e associações profissionais, e continuarmos negando a luta política, nada acontecerá de fato.

Nosso clamor é por uma Nova Biblioteconomia. Por uma biblioteconomia menos corporativista e mais comprometida com sua missão, por mais utópico que isso possa parecer. Não é necessário lembrar a condição histórica da biblioteca como espaço de resistência e, por consequência, da condição do bibliotecário como agente de transformação. A condição de agente político do bibliotecário é algo intrínseco a sua profissão, posto que o seu elemento de trabalho, sua matéria prima, que é a informação, é algo indissociável do conhecimento, tendo como consequência a exigência de um mínimo de senso critico por parte deste indivíduo.

Nessa edição especial de aniversário a biblioo brinda seus leitores com o que de maior qualidade há em termos de produção crítica em torno da biblioteca e dos bibliotecários e de todo o um bojo de cultura informacional.  Afinal, discussões a parte, os bibliotecários não estão parados e um exemplo visceral disso é o movimento “Abre Biblioteca” acontecendo em Manaus que reivindica a abertura da biblioteca pública da cidade. O movimento foi retratado na seção “Atitude” com a matéria de Rodolfo Targino e mais informações podem ser encontradas na entrevista de Soraia Magalhaes na seção Na Íntegra.

Junto com o primeiro ano da biblioo, chega também o vigésimo ano de existência do Programa Nacional de Incentivo à Leitura, os detalhes disso você pode conferir na matéria “Vinte anos do PROLER” de Rodolfo Targino e também na entrevista de Carmem Pimentel, na seção Na Íntegra.

Já sobre na seção Empresas e Iniciativas, trazemos uma entrevista que todo bibliotecários precisa ficar de olho: “Livros de Biblio” por Hanna Gledyz. E finalmente alguém dá uma luz na pergunta que todos tem feito “Tablets ou e-readers?,” na matéria da seção Conectado por Fábio Sobral.

E em nossa estante trazemos duas resenhas de obras polêmicas e atuais: “Traços de uma sociedade revoltada”, por Claudio Rodrigues e “A questão dos Livros”, por Janda Montenegro. Já na seção Educação “A nova leitura e a nova (re)escrita”, por Cássia Furtado.

Na seção Cotidiano “Adeus às bibliotecas?”, a resposta de Luan Yannick a Luís Antônio Giron e “Que tipo de bibliotecário você estar se tornando” onde Agulha nos chama a reflexão e nos ajuda no mea culpa tão necessário. Aproveitando o debate da “Nova Biblioteconomia”, trazemos na seção diálogos Alberto Calil e André de Araújo que discutem com Emília Sandrinelli os rumos da área da Biblioteconomia e as mudanças na sociedade.

Na capa desse mês, uma questão que “não de hoje” é debatida, embora “até hoje” não se tenha sido aplicada adequadamente: “Marketing em bibliotecas: ferramenta indispensável para alcançar o usuário” por Adriano da Silva e mais sobre o assunto vocês podem conferir na entrevista de Gilda Queiroz na seção Na Íntegra. Também na capa a entrevista de Moreno de Barros, onde ele nos conta sobre a nova geração de bibliotecários.

Por ultimo a grande novidade: A seção estreante “Raio X” onde Thiago Cirne nos aprensentará acervos e bibliotecas nem sempre tão evidenciados. E esse mês começamos com “A ‘noite carioca’ dos livros”.

Convidamos vocês para embarcar conosco nesse trem já em movimento da “Nova Biblioteconomia” e desejamos uma boa leitura!

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