Sou uma numa multidão de viciados em TikTok. Confesso que comecei com as dancinhas, passei pelas dicas de casa e atualmente gosto dos crimes reais, memes e vídeos da Dra. Linn. O algorítimo coloca umas coisas para mim que eu ainda me surpreendo por gostar. A modulação algorítmica, como discutido por Tarcízio Silva no curso Internet e Desigualdades, é um processo de controle da visualização de conteúdos. As plataformas distribuem e controlam os discursos. E o TikTok usa isso muito bem, ele decide o que devo consumir, e minha “for you” é permeada de coisas que não escolhi para mim, ou que em algum momento me interessei e a plataforma decidiu que aquilo me definia.

Além dessa massificação de conteúdos, me chamou a atenção o uso das hashtags na plataforma. Não acredito que as ideias que eu tenho sobre o uso das hashtags se restrinjam ao TikTok, mas nessa plataforma me chamou mais atenção, porque é mais fácil procurar um som viral que um conteúdo. Os sons utilizados na postagem podem ser facilmente encontrados na plataforma, basta clicar no áudio do vídeo, que aparecem nos resultados todos os vídeos que usaram o mesmo som. Essa dispensa do uso das hashtags faz com que muitos usuários deixem de utilizá-las.

A plataforma recompensa os conteudistas entregando o conteúdo a mais usuários da plataforma se estes fizerem conteúdos utilizando as hashtags patrocinadas. Sabendo dessa estratégia da plataforma, os conteudistas inserem na descrição dos vídeos as hashtags monetizadas mesmo quando elas não se refiram ao conteúdo. Tal uso pode não ter um impacto significativo no acesso à plataforma por entretenimento, mas pode ter impactos na organização da informação.

Os conteúdos das plataformas não se referem somente a dancinhas, e mesmo que assim o fosse se trataria de informação que deve ser organizada para a recuperação. Nestas plataformas é comum a ocorrência de violência contra diversos grupos minoritários e a organização da informação é uma forma de aumentar a possibilidade de identificação, recuperação e responsabilização de autores de crimes cibernéticos.

Nestas plataformas também cresce exponencialmente a disponibilização de conteúdos para fins profissionais e pode ser uma das competências profissionais do futuro. Essa tendência deve ser acompanhada por um processo de qualificação da encontrabilidade do conteúdo. Assim como cresce a profissionalização da influência digital, e uma marca que paga para expor um produto nas redes sociais também deseja ser encontrada. Assim, surge para os profissionais da informação, que detém o conhecimento de linguagens documentárias, a responsabilidade e mercado de qualificação da encontrabilidade de conteúdo digital.

Não se pode deixar de mencionar que as plataformas são construídas por pessoas que transportam sua visão de mundo para o ambiente digital, o que acaba por silenciar o conteúdo de diversas minorias. A qualificação da informação digital possibilita enfrentar o silenciamento promovido pelas plataformas e fazer com que os conteúdos de minorias não tenham mais essa barreira a enfrentar.

Esse trabalho de qualificação das linguagens documentárias no ambiente digital deve se dar em diferentes níveis de idade e de acesso ao conhecimento. Devem ser dadas orientações para a criança que vai usar o YouTube Kids e para o advogado que irá fazer conteúdo para as redes sociais. Essa qualificação permite a encontrabilidade da informação, mas também o acesso adequado ao nível etário de conteúdos digitais, permitindo certa autonomia à criança na busca de conteúdo no ambiente digital, com a observação dos responsáveis.

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