O Brasil viveu um período de vinte e um anos de regime autoritário na figura da Ditadura Militar, onde as liberdades individuais foram cerceadas e muitos tiveram suas vidas ceifadas por lutarem pela liberdade de expressão e pelo direito de votar.

Atualmente vivemos em uma conjuntura bem diferente dos anos de chumbo, mas alguns fatos e continuidades nos levam a algumas reflexões: por que os questionamentos incomodam tanto? Por que os que questionam são sempre mal vistos?

O preço que se paga por dizer aquilo que se pensa, em alguns casos, pode ser alto. Essa semana alguns fatos em comum tiveram repercussão nos jornais e nas redes sociais. Primeiro foi o do cartunista brasileiro Carlos Latuff, colocado na lista de pessoas e organizações consideradas antissemitas, por denunciar os crimes cometidos pelo estado de Israel contra os palestinos através de suas charges (http://migre.me/cPjmH).

O segundo fato foi a morte do fundador do sistema RSS, Aaron Swartz (http://migre.me/cPjqw). O programador norte-americano foi encontrado morto no seu apartamento em Nova Iorque, onde teria se enforcado. O fato curioso é que Aaron se suicidou semanas antes de enfrentar um julgamento que poderia condená-lo a trinta anos de prisão. Swartz defendia a circulação livre de conteúdos na Internet. A família do programador divulgou um comunicado dizendo que a morte foi decorrente de “um sistema judicial repleto de intimidações”.

O último fato que está relacionado com os citados acima é o processo que o bibliotecário e editor chefe da Revista Biblioo, Chico de Paula, está respondendo perante o Conselho Regional de Biblioteconomia da 7ª Região (CRB7), pela charge e editorial publicado na edição 10 da revista.

O conteúdo da charge publicada pela Revista Biblioo diz repeito a questões referentes à taxa de anuidade cobrada pelo CRB 7 (http://biblioo.info/charge-edicao-10/ ). O editorial da edição 10, intitulado A nova Biblioteconomia, apresenta pontos e discussões a respeito das novas formas de percepção do mundo e da profissão de bibliotecário. (http://biblioo.info/a-nova-biblioteconomia/).

Para entender mais sobre essa questão e ter conhecimento das alegações do Chico de Paula, sugiro a leitura do artigo publicado hoje (15 jan. 2013) pelo Observatório da Imprensa, intitulado, “Quando falar é perigoso”.(http://migre.me/cPjtn).

Esses assuntos estão sendo discutidos há bastante tempo pelos bibliotecários, tanto de maneira formal como informal, ou seja, em artigos e também em conversas pelos corredores. Um exemplo claro disso, é o texto publicado no site Bibliotecários Sem Fronteiras, pelo Moreno Barros, intitulado Pra que serve o CRB? (http://migre.me/cPjvm). Moreno coloca sua opinião a respeito da falta de transparência por parte do CRB7 em relação a prestação de contas e do que é feito com o dinheiro recebido das taxas anuais.

Em nenhum momento as publicações da Revista Biblioo têm o interesse em agredir e nem de desqualificar o trabalho do CRB 7, mas sim de trazer a classe para refletir sobre questões que dizem respeito aos bibliotecários.

Sentimos falta de maiores explicações do conselho a respeito desses pontos levantados. Existem demandas e dúvidas sobre algumas questões: Por que não convocar a classe para um debate? Por que sempre que algo é questionado as respostas são agressivas? Por que não ter um diálogo mais próximo com os bibliotecários?

Não temos a intenção de comparar esses três fatos que, apesar de ter pontos em comum, apresentam realidades diferentes. O que chama a nossa atenção é a forma como ambos profissionais são penalizados porque fizeram uma crítica real. Por fim, registro esse texto em solidariedade ao Chico de Paula e a todos aqueles que defendem a liberdade de expressão e o pensamento crítico.

Conforme diz Chico Buarque nos versos de Apesar de você:

“Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar”…

 

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