RIO – Ousadia é a palavra que define Todeska Badke, Consultora Sênior de negócios em gestão de documentos e informações da Keppel Consultoria. Desde muito jovem Todeka demostra inquietude, num tempo em que as liberdades políticas eram muito restritas. Como a maioria dos bibliotecários, a consultora caiu de paraquedas na Biblioteconomia e não se arrependeu. Com mais de trinta anos de experiência, Todeska já prestou consultoria para empresas da envergadura de Coca Cola e Petrobrás. “Interessante notar que o meu perfil lá da adolescência, em que não gostava de rotina e gostava de desafios, me levou para a área comercial. Dando um novo corte em minha vida profissional: hoje reestruturei meu portfólio profissional e estou atuando na área de eventos e capacitação”, destaca. Nesta entrevista Todeska procura destacar sua trajetória profissional na qual o espaço tem crescido para os bibliotecários, sobretudo no que se refere à Gestão Eletrônica de Documentos.

Chico de Paula: Conte-nos sobre sua formação. Porque escolheu a Biblioteconomia?

Todeska Badke: Trabalhar com gestão da informação foi fruto do meu perfil: sempre muito curiosa em relação a tudo. Eu queria abraçar o mundo. Na adolescência meu sonho era ser aeromoça [risos]. Isto porque queria conhecer o mundo, falar várias línguas, e principalmente não ter rotina. Porém, naquela época não havia informação a respeito e eu nem sabia por onde começar. Então fiz Dança, estudei musica (piano e flauta) e pintura. Isto tudo ainda adolescente. E comecei a estudar línguas. Entre tantos assuntos que me interessavam, também gostava de desenho-design, e ai resolver fazer curso de edificações na antiga Escola Técnica Federal do Espírito Santo (atual Ifes). Fui da primeira turma de “meninas”, pois até então a escolha era de domínio masculino. Foi uma revolução para os padrões da época. Depois de passar pelo ensino técnico e me tornar uma profissional de edificações, restava fazer engenharia, curso para o qual rumaram meus colegas. Mas definitivamente não era o que eu queria. Agora me identificava com Arquitetura, porém, a UFES [Universidade Federal do Espirito Santos] não oferecia este curso na época (1975).  E foi assim: na hora de me inscrever para o vestibular eu não queria nem Engenharia, nem Direito, nem Medicina… As opções eram poucas e naquele ano a universidade oferecia o curso de Biblioteconomia. Pensei: “este curso me interessa, afinal eu vou trabalhar com algo bem genérico e sem fronteiras; vou trabalhar com informação”. Confesso que até hoje não sei da onde tive esta “intuição”. E passei no vestibular sem saber quase nada a respeito do curso.

C. P.: Você poderia, por favor, falar um pouco sobre sua trajetória profissional?

T. B.: Logo que iniciei “aquele curso” que tinha na época apenas três ou quatro professores, e como não havia profissionais em Vitória (ES) fui contratada para estruturar uma Biblioteca técnica de projetos de arquitetura e urbanismo.  E ai foi sopa no mel… Não fiz uma simples biblioteca, sem saber, pois na época não tinha informação a respeito. Eu acabei estruturando um centro de documentação com: biblioteca, arquivo de desenhos, arquivos de fotos, arquivo de recorte de jornais, historia oral etc. Fazia contato com institutos como aquele em que eu trabalhava, para compor acervo. Isto em 1976, quando o único equipamento que existia era uma maquina de escrever. Fazíamos todos os índices à mão ou datilografados. E o meio de comunicação mais eficaz eram as milhares de cartas que enviava para o mundo todo.  Não existia computador… Nem o Google… E nem existia em Vitória [capital do Espirito Santos] um local como aquele que estruturei. Então me pergunto até hoje como consegui tal proeza. Só tenho uma resposta: meu gosto por desafios e meu tédio por rotina. Eu era “chefe do setor de documentação”, mas detestava o titulo de chefe e tomei duas decisões: uma foi pedir a minha equipe para não me chamar de chefe. Eu sabia que não era isto, mas naquele tempo não existia a palavra gestor ou líder. A outra decisão: o projeto CDI estava funcionando e na época inovei: abri o espaço para todos que quisessem pesquisar (pois quase não havia em Vitoria espaços para pesquisa).  Passamos a atender jornalistas, pesquisadores, estudantes e mais quem quisesse. Isto eu ainda era estudante do tal curso de Biblioteconomia. Um dia entrei na sala do meu diretor e falei que gostaria de criar projetos para produzir informações. Isto porque o Espirito Santos era carente de informações.  E ele me disse: “apresente suas ideias”. Concluindo, fiz: o primeiro catálogo de teses do ES; um projeto sobre como surgiram as cidades do ES; exposições nas ruas de vitoria, com informações sobre a cidade; fiz a biblioteca popular de um bairro popular e vários outros projetos. Enfim… Minha ideia era disponibilizar informação para todos. Tinha nesta questão uma veia política muito forte. Estávamos saindo de uma ditadura e eu participava nos bastidores de movimentos pela anistia e por um país mais justo.  Foi uma luta linda e o melhor que naquela época tínhamos um ideal de Brasil. Até este momento eu morava em Vitória. Agora terei de pular algumas etapas, caso contrário a entrevista ficará muito longa. Em 1979 fiz o curso de especialização no IBICT, no Rio de Janeiro. Em 1983, numa outra etapa da minha vida profissional, agora morando em Belo Horizonte, capital mineira, fiz o mestrado na UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais] e trabalhava com carteira assinada, mas me sentia desconfortável em ir todos os dias para o mesmo lugar, fazer as mesmas tarefas… Então pedi demissão e abri uma empresa de Consultoria, numa época em que ninguém fazia tal loucura (e neste momento eu estava com dois filhos ainda bebês). Importante dizer que nesta época não tínhamos Sebrae. Os termos “empreendedorismo” e “consultoria” não eram usuais. Estruturei minha empresa de consultoria na década de [19]80, ou seja, foi quase um pioneirismo. Teve uma fase que ministrei palestras pelo Brasil afora e também nas universidades para explicar aos estudantes o que era “esta tal” de Consultoria. Preciso registrar um momento que me marcou, quando numa palestra na universidade em que me formei (UFES) uma professora do curso de biblioteconomia (ela ainda é professora), disse que o profissional que se intitulava consultor era na verdade um “picareta”. Quanto atraso! Senti pena dos alunos. Fora este episódio “peculiar”, minha trajetória de Diretora Comercial de minha empresa de Consultoria foi um sucesso. Foram meus clientes grandes corporações como Vale, Rhodia, Coca Cola, Unimed, Gerdau, Mendes Junior, Andrade Gutierrez, Fiat, BMG, Petrobras entre muitos de uma relação honrosa. Interessante notar que o meu perfil lá da adolescência, em que não gostava de rotina e gostava de desafios, me levou para a área comercial. Dando um novo corte em minha vida profissional: hoje reestruturei meu portfólio profissional e estou atuando na área de eventos e capacitação como fica demostrado no meu site www.kappelconsultoria.com.br

C. P.: Você teve algum incentivo para começar seu próprio negocio?

T. B.: Não, nenhum. Apenas minha vontade de inovar. Importante registrar que o mercado me reconheceu. Como? Pelos inúmeros contratos assinados e pelas inúmeras homenagens que recebi ao longo destes mais de trinta anos de carreira.

C. P.: Em outra conversa você falou que está organizando vários eventos. Que eventos são esses?

T. B.: Eventos já faziam parte de minha vida profissional desde 1985. Porém, agora estou numa nova fase profissional. Deixei a consultoria de grandes projetos e estou me dedicando a atuação em projetos de capacitação e eventos e alguns projetos especiais que tenho em mente, como escrever um livro sobre minha experiência profissional e outros projetos que estou rascunhando.

C. P.: Porque escolheu GED, Gestão Eletrônica de Documento?

T. B.: Meus eventos foram evoluindo. Fiz o CBBD [Congresso Brasileiro de Bibliotecas Digitais] em 1985. Depois veio eventos sobre bibliotecas, gestão de arquivos, gestão da informaçao, vários sobre gestão do conhecimento (fui presidente da SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento) e por demanda de mercado, desde 2009, o GED.

C. P.: Como você avalia o campo de atuação profissional para o bibliotecário hoje?

T. B.: Muito promissor, com muito espaço e muita demanda.

C. P.: Você organiza eventos que aborda a questão do GED. Como está sendo a participação das empresas e instituições da área de Biblioteconomia?

T. B.: Pouco representativo na minha visão, pois gostaria de ter o bibliotecário à frente destes projetos. Mas aos poucos eles estão participando junto com os profissionais de TI [Tecnologia da Informação], Administradores, Contadores, Arquivistas e Advogados. Curioso: em um dos eventos um Dentista participou e está à frente de um projeto de GED.

C. P.: Hoje as empresas e os bibliotecários reconhecem a importância do GED no cotidiano de suas atividades?

T. B.: As empresas estão cada vez mais ligadas na questão da gestão da informação. Estão começando a descobrir a importância deste patrimônio. Os bibliotecários estão aos poucos… Espero que entendam que gerir informações de uma Organização é papel deles.

C. P.: Você se considera uma pessoa bem sucedida?

T. B.: Sim, por ter vencido muitos desafios. Porém, tenho muitos outros desafios a vencer. Portanto eu ainda quero chegar ao sucesso. Minha visão e postura: ser bem sucedido é um ciclo que não se fecha. Temos de buscar este sucesso todos os dias.

C. P.: Que mensagem você pode passar para os profissionais que estão buscando começar seu próprio negocio?

T. B.: Sonhem, criem, planejem, se preparem tecnicamente e se preparem para o mercado, ou seja, acreditem no produto que é você. O mercado precisa de você e de seus serviços. Sucesso a todos. A todos nós.

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