Quando conheci Luiz Antônio, em 2016, logo percebi que sua vida profissional dava uma grande história. Além de um elogiado professor do curso de biblioteconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e bibliotecário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Luiz Antônio foi bibliotecário por mais de 40 anos na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro.

Isso me fez imaginar, mais do que sua relação com os imortais, sua dedicação às coleções de diversos gênios da literatura e das letras em geral, dentre os quais estão, além de Machado de Assis (fundador da ABL), Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Afrânio Peixoto e Domício da Gama.  

Luiz Antonio tinha muitas histórias para contar, e certamente as contava sempre que tinha uma oportunidade. Mas eu não pude ouvi-las (suas histórias), pelo menos não atentamente, pois a doença sorrateira tirou de mim e de muitas pessoas a oportunidade de conhecer mais detidamente este importante profissional, dedicado esposo e pai devoto que era.

Nossa breve convivência foi o suficiente para que eu pudesse perceber que Luiz Antônio não era só um bibliotecário de profissão. Ele era antes um bibliotecário de alma, que se orgulhava de se apresentar como “Luiz Antônio Souza Bibliotecario”. Ou seja, seu nome era Luiz, mas a biblioteconomia estava gravada no seu sobrenome.

O homem que se dedicou a organizar a produção intelectual dos imortais do Petit Trianon por tantos anos nos deixou nesta sexta-feira, 9, dois dias após Alfredo Bosi, intelectual com quem certamente conviveu e trocou muitas impressões, ambos acometidos por essa terrível praga que nos assola: a Covid-19.  

Graduado em biblioteconomia e documentação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1979, e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1995, Luiz Antônio se especializou em conservação na Bibliothèque Nationale de France em 2004. Na UERJ atuou, entre outros, como bibliotecário na Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel.

Na biblioteconomia e na ciência da informação atuava principalmente, como registra seu currículo, nos seguintes temas: história do livro e da biblioteca, bibliografia de sobre literatura brasileira, periódicos literários, bibliotecas universitárias, memória, com especial atenção para a memória literária dos membros da Academia Brasileira de Letras.

A morte de Luiz Antônio, bem como de tantos outros e de tantas outras, principalmente de trabalhadoras e trabalhadores, deve nos alertar para o fato de que as mortes resultantes da Covid-19, ou dos seus efeitos político-econômicos, não são mais números abstratos, estatísticas na mídia como parece ter sido outrora.

Estas mortes são uma triste e revoltante realidade que nos acossa diariamente, ao mesmo tempo em que parece nos imobilizar. É urgente que o cidadão brasileiro, especialmente aqueles mais pobres e, por consequência, mas sujeitos aos efeitos sanitários e sociais da doença, reaja. (sobre isso eu reflito um pouco mais aqui)

Luiz Antônio repetia que não era o passado, mas sim a soma deste. Portanto, que este acumulo do outrora, pautado pelo humanismo e dedicação aos seus, se reflita nas próximas gerações. Mais do que inspirar novos bibliotecários e novas bibliotecárias, que Luiz Antônio inspire novos seres humanos, nestes tempos tão carentes de humanidade!

Neste 9 de abril, dia da biblioteca, nosso grande bibliotecário fará falta. No mais, minhas condolências aos familiares, especialmente à sua esposa, a bibliotecária Gilda Alvarenga, minha amiga pessoal, aos filhos e amigos. “Luiz Antônio? Presente!”

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