O aumento do uso das novas tecnologias de informação e comunicação, principalmente das redes sociais nos últimos anos, alterou de forma quase que irreversível, as relações sociais, os hábitos cotidianos e os costumes das pessoas, especialmente nas grandes metrópoles.

A internet rompeu fronteiras e democratizou o acesso à informação e a cultura, entretanto, tem demonstrado ser prejudicial em alguns aspectos e como consequências de seu mau uso, podemos citar: a cultura do ódio e cancelamento, a popularização das fake news, uma maior fragilidade nas relações sociais e a espetacularização da vida. Vamos nos ater a estas duas últimas. Neste sentido, as redes sociais têm contribuído para diversas mudanças na sociedade contemporânea, estando cada vez mais presentes em nosso dia a dia que não nos damos conta do quanto as utilizamos e somos dependentes delas.

De acordo com uma pesquisa da Microsoft, 72% da população utiliza as redes sociais como primeira fonte de informação. Logo, com tanta gente navegando e consumindo informação nas redes sociais, estas tornaram-se palco para a espetacularização da vida privada com sua supervalorização sob a forma de imagens. Atualmente, com o crescente uso das redes sociais, os palcos se multiplicaram, servindo para todo e qualquer tipo de espetáculo, e de meros espectadores e consumidores de informação passamos a ser também produtores de conteúdo.

No livro “A sociedade do espetáculo” de 1967, o filósofo francês Guy Debord faz uma análise, que numa mudança de contexto continua ainda super atual, sobre o poder que as imagens exerciam numa sociedade de cultura de massa. Para Debord, a questão é a relação social entre pessoas mediada por imagens. É o que percebemos no Instagram, uma das redes sociais mais utilizadas pelos brasileiros, exibir-se, postar fotos, compartilhar e curtir passaram a fazer parte da nossa rotina virtual. Nas sociedades modernas tudo é representação e isso se relaciona diretamente com a decomposição da vida cotidiana.

De acordo com uma pesquisa do Capterra/2022, o Brasil é o terceiro país do mundo que mais usa as redes sociais, sendo o Whatsapp a mídia mais utilizada (98% dos entrevistados), seguido do Instagram (91%) e do Facebook (89%). As imagens que as pessoas tentam passar de si mesmas nas redes sociais ultrapassam a realidade e as tornam, uma representação fictícia num mundo paralelo, no qual o chamado “espetáculo” contribui para a criação de uma realidade ficcional coletiva nos dias atuais.

Além disso, estabeleceu-se uma nova relação social/digital nas redes na qual surgem os chamados “digital influencers”, que conforme um estudo da Qualibest já são a segunda maior fonte de informação para a tomada de decisão dos consumidores. Na sociedade do espetáculo necessidades são fabricadas, o marketing sabe muito bem disso, e assimiladas por milhões de “seguidores”, gerando novas tendências de consumo e de conduta, que interferem na maneira como vestir-se, desejar e comportar-se, consolidando a imagem como a informação representativa do capital de mercado.

Neste sentido, a produção e veiculação de imagens nas redes sociais funcionam como um mecanismo de poder e de dominação social, para gerar engajamento, visto que numa sociedade capitalista é impossível separar as relações sociais das de produção e consumo, na qual somos todos commodities, já dizia o filósofo Karl Marx sobre o fetiche de mercadorias.

A mercadoria e a aparência tornaram-se mais valorizadas no contexto das relações sociais, nos quais o ter e o aparentar ser sobrepõem o viver, artificializando as relações e as experiências humanas. Em vista disso, num mundo cada vez mais globalizado, no qual a concorrência dos mercados, o aumento da competitividade e a velocidade na transferência de informações, o sociólogo Zygmunt Bauman o classificou como modernidade líquida, que diz respeito sobre as relações sociais, econômicas, de produção e consumo cada vez mais frágeis, voláteis, fluidas, gerando uma sociedade temporal e instável, carente de aspectos sólidos.

Dispersa e superficial. Estes são os adjetivos que melhor denotam a sociedade pós-moderna, que apesar de termos acesso e muito mais informação ao nosso dispor, estamos cada vez mais incipientes no que diz respeito ao conhecimento. O mundo está passando por um empobrecimento cultural. Estamos presenciando a prevalência da ignorância, do desconhecimento, da superficialidade. As pessoas leem cada vez menos, e quando leem, optam pela leitura fácil, pelo texto curto e que não exige muito da compreensão.

Considerando-se tudo isto, as redes sociais nos últimos anos tornaram-se fundamentais para a vida moderna, evoluíram e revolucionaram a forma como as pessoas se comunicam, se informam e consomem. Entretanto, é preciso estarmos atentos ao modo como as utilizamos, pois não adianta fugir, se isolar e dizer que não faz parte, a tecnologia e as novas formas de comunicação de hoje estão vinculadas a tantas outras, que vão desde serviços básicos, educação, entretenimento, comércio, entre outros, que fica difícil não participarmos delas.

Assim sendo, as redes sociais estão nos condicionando à brevidade, a alienação e têm refletido comportamentos da vida real e ditado novos comportamentos. Esta é apenas a ponta do iceberg, há muito o que refletir sobre os fatores que desencadearam esse novo e estranho jeito de se viver.

As pessoas sempre buscaram nos meios de comunicação de massa formas de fugirem de sua própria condição humana e o uso excessivo das redes sociais, principalmente para ostentação da vida privada e de objetos de consumo simboliza bem esta fuga da realidade. Faz-se necessário, portanto, repensar os limites da auto exposição e o papel que as redes sociais ocupa em nossas vidas, pois estão inseridas cada vez mais em nosso dia a dia, seja para fins recreativos, aquisição de conhecimentos, comunicação ou consumo de notícias.

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