Por Antonio Gois, O Globo

Apenas 35% das escolas do país têm biblioteca e, ao final do ensino fundamental, a maioria dos alunos utiliza pouco esses espaços

As bibliotecas escolares no Brasil são pouco utilizadas pelos estudantes ao final do ensino fundamental. Essa constatação é de um estudo realizado pelo movimento Todos Pela Educação, a partir do questionário da Prova Brasil, avaliação aplicada a todas as escolas públicas do país. O levantamento revela também que o uso desses espaços em nossos colégios diminui significativamente do 5º para o 9º ano.

Este fato é agravado por ainda estarmos longe de garantir que todas as escolas da educação básica do país tenham biblioteca. A obrigação consta de uma lei aprovada em 2010, que dava um prazo de dez anos para que todos os estabelecimentos de ensino se adequassem a ela. Pelos dados do Censo Escolar de 2013, no entanto, apenas 35% dos 190 mil colégios do país já dispunham desse espaço.

A existência de uma biblioteca, no entanto, não garante que ela seja bem utilizada. No 5º ano do ensino fundamental — onde estudam crianças de 10 anos de idade, caso não repitam de ano —, a pesquisa do Todos Pela Educação mostra que 57% dos estudantes dizem frequentar sempre ou quase sempre esses espaços. Quatro séries depois, no 9º ano, o percentual cai para 30%, com um agravante: 35% dos jovens neste nível de ensino relatam nunca frequentar as bibliotecas de suas escolas.

Essa diminuição da frequência do 5º para o 9º ano sugere um desinteresse crescente dos alunos maiores pela leitura. Mas os dados devem gerar também uma reflexão sobre como as poucas escolas que já dispõem de biblioteca podem melhor utilizar esses espaços para incentivar o hábito de leitura desde cedo.

Para Alejandra Velasco, gerente da área técnica do Todos Pela Educação, uma possível explicação para essa queda na frequência é que sobra menos tempo aos professores do segundo ciclo do ensino fundamental para realizar atividades de leitura na biblioteca. Até o quinto ano, o mais comum é as turmas terem apenas um professor para todas as disciplinas. Do sexto em diante, aumenta o número de matérias obrigatórias do currículo, e na maioria das escolas públicas a jornada diária é de apenas quatro horas.

Volnei Canônica, coordenador do programa Prazer em Ler, do Instituto C&A, critica também o uso das bibliotecas apenas como espaço para pesquisa escolares. No primeiro ciclo do ensino fundamental, ele destaca que é muito comum os professores trabalharem com livros apenas como estratégia para alfabetização. No segundo ciclo, em tempos de acesso crescente à internet, a utilidade de livros só como instrumento de pesquisa é ainda menor. Canônica defende que o principal objetivo das bibliotecas escolares seja a formação de leitores, estratégia que demanda certamente o trabalho de um profissional qualificado e políticas públicas.

Num país em que a maioria da população tem pouco hábito de leitura, o desafio das escolas, especialmente as públicas, é ainda maior. No último relatório do Pisa, exame internacional realizada pela OCDE em 65 países, os alunos brasileiros aparecem apenas à frente dos colombianos num ranking de número médio de livros que eles tinham à disposição em casa.

Garantir, como prevê a lei, que todas as escolas do país tenham biblioteca é uma ação necessária para incentivar o hábito de leitura entre os jovens. Mas só isso não basta. É preciso também ter profissionais qualificados e políticas públicas que incentivem o bom uso desses espaços.

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