A biblioteca estava igual há todos os dias: tranquila, silenciosa, muito silenciosa. Era um silêncio que se podia sentir a alma, era como se alguém ali alguém tivesse morrido.

– Quinto andar, por favor.

De tão apressado que estava, saí do elevador e nem agradeci ao encarregado que nos transportar de um andar para outro.  Adentrei a biblioteca como se fosse um vento que tão rápido levantara as saias das meninas que andavam na rua não deixando tempo para as baixarem. A biblioteca estava igual há todos os dias: tranquila, silenciosa, muito silenciosa. Era um silêncio que se podia sentir a alma, era como se alguém ali alguém tivesse morrido.

Dirigir-me ao balcão na ânsia de sair urgentemente daquele âmbito gélido. O aparelho do ar condicionado estava numa temperatura que os dentes entre si batiam-se. No exato momento em que ponho a falar com a atendente, uma senhora grita: AI! Num tom tão alto que até meus ouvidos começaram a piar, sentia que começara a perder uns cinquenta por cento da minha audição. O grito foi tão alto, mas tão alto, que todos direcionaram o olhar a essa senhora. Não era comum um grito daqueles. Com as bochechas já murchas por conta da idade, mesmo assim, ficou nítido a vermelhidão em seu rosto que de tão espantada não olhava para ninguém, nem sequer para si mesma, não olhava para o chão.

Passaram-se uns cinco minutos e todos ainda continuavam a olhar para a senhora. Como se não fosse tão humilhante estar ali sendo vista, a energia desse centro de informação subitamente some como somem os peixes ao tocar o pé na água, ameaçando assim, o seu habitat. Por alguns segundos a face da senhora de tão vermelha já acabara mudando de cor, ficando roxa, mas o momento de atenção era todo voltado para falta de energia que existia.

Numa fração de segundos tentei correr para fora da biblioteca, mas não consegui. A luz tinha voltado. Mesmo assim, todos continuaram a olhar para a senhora que envergonhada e tímida solta a sua voz em alto tom:

– O que foi? Nunca viram uma pessoa? Ninguém pode errar?

A senhora não tinha nenhuma perspectiva de que aquelas perguntas lhes fossem respondidas, mas aparentemente serviam para demonstrar seu arrependimento pelo ato dantes praticado. Todos a olhavam e esta estarrecida desviava o seu olhar. Como se não fosse o bastante, começara a chover e como não tinha nenhum guarda-chuva, ficou com medo de estragar os livros que segurava nas mãos. Devolveu sem pelo menos lê-los completamente. Decidiu nunca mais em sua vida ir naquela biblioteca. O que em seguida se arrependeu.

Entendeu que a sua necessidade de informação está mais a frente do que qualquer olhar que possa existir, não importa que estejam olhando-a, mesmo que com a feição de pedir silêncio absoluto, pois quisera ler. Não, não vou deixar me abater – pensava ela. Em seguida a senhora se posicionou no centro da biblioteca e pediu respeito, educação, mas todos riam dela. A cada gargalhada que ecoava naquele lugar a irritação era mais e mais constante.

– Estão rindo de quê? Digam!

As risadas altíssimas eram para demonstrar à senhora que naquela biblioteca podia sim falar normal ou rir normal, pois para um estudo concentrado existia cabines específicas. E a senhora continuou a não entender e não entendendo um dos atendentes a avisou que aquilo era cotidiano. Pois porque tão grande espanto ao me ouvir gritar? Segredo! Disse o balconista.

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