Seis histórias curtas. É tudo o que “The Wedding Eve — a véspera do casamento e outras histórias” (original Shiki no Zenjitsu, 2012) precisa para fazer o leitor enxugar os olhos mais de uma vez. Lançado no Brasil pela editora Panini, o mangá de Hozumi vai costurando enredos de pessoas que ficam e pessoas que vão; amores que derretem e outros que se eternizam.

Capa de The Wedding Eve / Foto: Mara Torres

Conheci o trabalho de Hozumi através do conselho amigo da minha irmã, que o colocou na minha mesa de trabalho com um bilhetinho: “Leia com a mente do coração, como você costumava fazer.” Quando toquei a capa de qualidade, sentindo os dedos escorrendo pelo material liso, e folheei ao acaso o mangá, tive certeza de que sim, eu o leria com o coração.

Essa coletânea do tipo slice of life (retrato de experiências e situações do cotidiano) sopra em nossos olhos várias biografias diferentes. Conhecemos mais sobre a separação de dois irmãos que viveram unidos durante suas vidas inteiras; choramos junto com uma garotinha que recebe, uma vez por ano, a visita do pai ausente; conversamos lado a lado com outros dois irmãos que choram as mágoas do enterro de uma amiga e descobrem segredos sobre si mesmos; aconselhamos um escritor preso no ‘maelstrom’ do tédio e da falta de criatividade, até que algo surpreendente acontece; observamos outros dois irmãos que encontram um método nada convencional para superar — ou pelo menos tentar — a dor do abandono, e sorrimos com a divertida relação entre um homem e o gato (e sua consciência felina tenaz) de quem cuida.

Hozumi tem um jeito delicado de abordar a dor. Deslizando como uma gota de água na pele com sabão, os traços bonitos e as situações que podem ser minhas, suas e até das pessoas que nunca imaginamos pegam nossos corações em cheio. Pessoalmente, senti o toque de conforto da mangaká ao ler “Reencontro com Azusa nº 2” e “Pequeno Jardim de Outubro”, já que, há quase um ano, venho caminhando lado a lado com a ausência física de uma pessoa muito amada. A profundidade bela e respeitosa com que esse tema foi abordado nessas duas histórias, donas de contextos diferentes, mas com pontas que se tocam, conquistou minha atenção.

Muito além do drama e da tristeza, observamos que as situações pesarosas encontram um jeito de apontar caminhos e capacitar os personagens para que sigam em frente. “Há uma lamparina indicando uma nova saída depois de toda essa escuridão”, as histórias parecem revelar. E não custa nada tentar seguir esse rastro de luz.

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