Embora não existam dados precisos sobre o número de bibliotecas comunitárias no Brasil hoje, sabe-se que elas são muitas e que estão espalhadas por diversas regiões do país. Estes espaços cumprem uma função social primordial, sobretudo se consideramos o fato de que em muitos municípios eles são os únicos instrumentos culturais disponíveis.

O problema é que nem todo mundo sabe onde estão estas bibliotecas. Pensando nisso um grupo de estudantes, dentre os quais uma aluna de biblioteconomia, resolveu desenvolver um aplicativo para bibliotecas comunitárias contendo informações sobre contato, acervo, doações, voluntários e eventos culturais nesses espaços. Além destas funcionalidades, o aplicativo também permite ao usuário seguir uma biblioteca, cadastrar-se como voluntário e compartilhar informações no espaço feed.

O Mapa da Leitura, nome do aplicativo desenvolvido para Android, surgiu com o edital do Campus Mobile, um projeto voltado a estudantes de graduação, de diferentes áreas, estimulando o empreendedorismo e contribuindo com a formação destes. Yasmin Wink Finger, estudante de biblioteconomia na UFRGS e educadora social da biblioteca comunitária do Arquipélago, Tairon Neitzel, voluntário da ONG Cirandar e estudante de engenharia elétrica, além de Guilherme Donada, também estudante de engenharia elétrica e técnico em desenvolvimento de hardware, idealizaram o aplicativo, cujo objetivo é dar visibilidade às bibliotecas comunitárias, bem como entrelaçar voluntários.

Vencedores da Campus Mobili 2017 na cerimônia de premiação. Foto: divulgação

Eles ficaram entre os nove vencedores, dentre 600 projetos de todo o Brasil, da semana presencial realizada no último mês fevereiro. Todo desenvolvimento da ferramenta foi feito pela equipe de estudantes até janeiro deste ano e em fevereiro, com a premiação, veio um aporte R$ 1.800,00 para dar seguimento ao projeto.

Yasmin explica que o objetivo do grupo é cadastrar um número representativo de bibliotecas comunitárias no Brasil para então expandi-lo para outro países da América Latina. “Queremos disponibilizar pequenos vídeos de relatos sobre democratização do acesso ao livro e formação de leitores. Estamos trabalhando também com a ideia de disponibilizar o acervo das bibliotecas, mas isso veremos ao lançarmos o aplicativo se isso se tornara uma demanda dos nossos usuários”, esclarece a estudante.

Ela explica que como estudante de biblioteconomia e educadora de uma biblioteca comunitária acha incrível participar do projeto, pois além de estar em contato com bibliotecas do Brasil inteiro, conhecendo suas particularidades, seus agentes, suas atividades, ela ainda tem a oportunidade de ver que diversas pessoas de outras áreas tem interesse em conhecer este universo. “Acho que o Mapa está junto de diversas ações  que são agentes da transformação do olhar pra formação de leitores”, destaca.

Crianças participam de atividade na Biblioteca Atelier das Palavras, localizada na Mangueira, no Rio de Janeiro, primeira biblioteca integrante do Mapa da Leitura. Foto: Divulgação / Mapa da Leitura

“Como estudante de engenharia elétrica e que trabalha com inovação, trabalhar neste projeto é motivador. É usar a tecnologia para um fim social, para ajudar as pessoas que estão inseridas nesse contexto das comunidades, das bibliotecas. É usar a tecnologia para dar voz a esses espaços e mostrar que existem trabalhos muito legais acontecendo nestes espaços. A cada mensagem de apoio que recebemos, fico mais feliz de ter iniciado e ver que este projeto esta acontecendo”, orgulha-se Tairon Neitzel.

De acordo com Fábio Rodrigues, integrante da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC), a entidade que representa tem o entendimento da importância de se ter números e dados das bibliotecas comunitárias no Brasil, enxergando nesse aplicativo uma ferramenta potencial para reunir dados mais diversos sobre as bibliotecas que atuam no país e estão invisíveis até mesmo nas regiões que atuam.

“Muitas vezes, esses espaços têm excelência na formação de leitores, tem bons números de empréstimos de livros, um trabalho primordial com literatura, apenas não têm visibilidade. Por isso, a RNBC valoriza ações como estas que querem desbravar e fortalecer as bibliotecas comunitárias. Além disso, a Rede aproveitará esses dados para se aproximar dessas bibliotecas e trazê-las para integrar a RNBC”, afirmou Fábio Rodrigues.

Biblioteca Comunitária do Arquipélago em Porto Alegre, RS. Yasmin aparece na foto, a primeira da esquerda para a direita, agrachada. Foto: Yasmin Wink / Mapa da Leitura

A RNBC

Criada em 2015, a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias tem representação nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste e tem como objetivos democratizar o acesso às bibliotecas e à cultura literária, além de articular a manutenção, o reconhecimento e a sustentabilidade de bibliotecas comunitárias, influenciar e construir políticas públicas do livro e da leitura no Brasil. A Rede Nacional tem o apoio financeiro e técnico do Instituto C&A.

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