“Aí estão nas altas estantes,
A um tempo próximo e distantes,
Secretos e visíveis como os astros,
Aí estão os jardins, os templos”.
(Jorge Luis Borges).
Algo fácil de ser encontrado nos dias atuais, o livro nem sempre foi objeto de procura dos mais acessíveis para a humanidade. Desde a invenção da prensa móvel (imprensa) no século XV, a produção dos livros cresceu de maneira vertiginosa, mas antes desse feito histórico que mudou paradigmas, a produção de um livro exigia tempo, paciência, disciplina, dom artístico e uma boa quantia em dinheiro.
Sabemos que o livro sempre foi objeto de desejo em boa parte das nações do planeta. Quem nunca viu e/ou ouviu uma entrevista em que o cenário de fundo é composto de livros organizados em estantes bem acabadas, misturados a outros elementos artísticos? Os livros remetem ao conhecimento, a informação, e, desde os tempos imemoriais, ter conhecimento era algo fundamental para se manter em posição de privilégio; reinos buscavam obter o maior número de informações acerca de seus inimigos, a fim de surpreendê-los e subjugá-los.
Antes da grande invenção do alemão Johannes Gutenberg pelos idos de 1430, a produção de livros era feita de modo manual, por monges isolados em conventos e/ou monastérios, longe de qualquer atmosfera que viesse atrapalhar essa função. Os monges copistas passavam semanas, meses, a até anos para concluir a cópia de um exemplar. O suporte que usavam geralmente eram pergaminhos, material que valia uma considerável continha em dinheiro, e que precisava de extrema atenção para não haver erros.
A história nos conta que quando o monge errava uma palavra, usava-se de alguns recursos para minimizar o feito, tais como cópia literal da mesma em outra parte da página. Tal erro era atribuído ao demônio Titivillus, que segundo a lenda, ficava ao lado dos monges soprando-lhes no ouvido para que aquele errasse, pois a missão do demônio era encher a sua bolsa com cerca de mil erros e levá-los ao inferno, a fim de acusar o monge que os cometeu no dia do juízo final. Foi neste contexto que surgiu o recurso da errata.
Foi através da invenção da prensa móvel por Gutenberg, que a produção de livros deu um salto significativo, todavia, além de ainda ter um custo considerável em que poucos podiam pagar, o índice de analfabetismo na Europa era imenso. Quase a totalidade da população não sabia ler e escrever. Usando de sua autoridade como instituição e do capital cultural de seus clérigos (alfabetizados), a Igreja Católica Romana influenciou sobremaneira na circulação de livros. Mediante a censura prévia, a Igreja permitia ou não a circulação de livros. Sabemos que muitos livros foram queimados em fogueiras juntamente com seus donos, e outros tantos estão guardados na Biblioteca Vaticana, dando um valor inestimável a esta coleção.
À medida que o tempo foi passando, a produção de livros foi aumentando. Com a universalização da Educação, cada vez menos analfabetos se faz perceber. A leitura ganhou espaço; o mundo mudou; o livro é objeto do mais alto desejo, e empresta a pessoa que o possuí, ares de cultura (mesmo que os livros sirvam apenas para decoração em suas casas). É aqui que começamos a falar do livro antigo e/ou raro.
Como objetos que atravessaram anos, trazendo conhecimentos de tempos remotos, se livrando muitas vezes de sinistros e intempéries, os livros antigos precisam de uma atenção pra lá de especial. Hoje ainda podem-se ver certos títulos com mais de 500 anos de idade, e que estão em perfeito estado de conservação. Esse estado de conservação credita-se aos cuidados de mulheres e homens que se dedicaram na preservação e conservação das obras; por uma questão laboral, mas, principalmente, pelo amor ao livro e a sua missão de passar conhecimento.
Manter um acervo de livros antigos ou mesmo de livros raros, precisa de ingredientes que, aliados ao amor e o cuidado, darão sobrevida as obras. É preciso, antes de mais nada, adequar o local que vai receber a coleção rara e/ou antiga. A temperatura deve variar entre 16 a 25º (aproximadamente), a iluminação precisa ser bem dividida no espaço, e nunca incidir diretamente sobre as obras, além de está fixada no teto a uma altura considerável; telhados, calhas, ralos e bueiros devem ser avaliados periodicamente, além de toda a instalação elétricas; a depender da localização do local que abrigará a coleção, precisará de telas especiais nas janelas, para impedir a entrada de partículas de poeira e de poluição, dentre outros cuidados.
Há de se ter atenção quanto ao manuseio da obra. O livro é segurado pela lombada, apoiado na palma da mão aberta. A depender do tempo de existência do material, é recomendado calçar luvas, usar máscaras e óculos especiais. Em hipótese alguma deve-se manusear as obras com material aquoso próximo (na verdade, não entra nada aquoso na área de guarda do acervo).
A segurança do local, é outro item importantíssimo para a salvaguarda de livros raros e/ou antigos. A equipe precisa estar em sintonia e bem atenta, pois há um mercado oculto que consome objetos de artes (no geral), pagando altos valores, e fomentando os furtos a tudo que possa ser avaliado em alta monta. Livros raros não estão fora desse mercado, devido o seu grau de raridade e valor monetário. Manter o livro raro em bom estado de conservação é fundamental para qualquer biblioteca e/ou centro cultural; mantê-lo íntegro à coleção, é garantir que esta e a próxima geração tenham contato com o suporte e o conhecimento que ele traz!
A lista de cuidados para se manter um livro raro e/ou antigo em condições de serem consultados e contribuírem com a ciência, cultura e informação via mais além, e não será na seção de opinião deste veículo que poderemos exaurir a questão, porém, é preciso ter conhecimento que a forma com que tratamos os livros, vai implicar diretamente na sua permanência ou extinção. Os livros são nossos amigos, possuem vida, falam! É preciso ter cuidado, carinho e ouvidos atentos para ouvi-los.
Os livros são para a circulação; há leitores para cada livro; não é par ficar enfileirados em estantes que eles foram criados, mas sim para circularem entre mãos, sacolas, bolsas, mesas, escrivaninhas, etc. Um livro preso em uma biblioteca é sinal de condenação, mas um livro maltratado fora dela, causa morte informacional a uma sociedade inteira. Usemos sem medo de sermos felizes os livros, mas tenhamos o máximo de cuidado com eles, pois depois de nós virão outros, assim como antes tiveram tantos mais, que nos deixaram obras maravilhosas que nos causam admiração hoje.