Muitas evidências nos indicam que a informação (ou mais precisamente a internet) está cada vez mais deixando de ser um fim em si mesma, um fator de diferenciação, para se tornar uma tecnologia de propósito geral. O acesso à informação deixou de ser um objetivo para se tornar uma ferramenta na busca de outras tarefas. O que quer que seja: hoje, por exemplo, é praticamente impossível não encontrar um trabalho intelectual, um emprego, que não incorpore em maior ou menor grau a informação ou comunicação digital.

Assim, além de obter informações, agora se torna obrigatório aprender a gestão do conhecimento: não se trata, de novo, sobre o acesso à informação, mas sobre a tomada de controle do processo de acesso à informação, de saber como se chegou a um conjunto específico de informação para que o processo possa ser replicado no futuro. Ou seja, a informação como um instrumento, a busca de informação como uma habilidade adquirida, saber chegar ao tipo desejado de informações e ser capaz de executar outras tarefas igualmente ricas em informações.

Finalmente, o acesso à informação deixa de ser o ponto final para tornar-se um ponto de partida. Assim, a biblioteca e outros intermediários digitais se tornam portas para o governo eletrônico, a saúde eletrônica, a educação digital… Quase tudo a que se pode acrescentar um “eletrônico” ou “digital”.

E as bibliotecas?

Tácita ou explicitamente, as bibliotecas já estão se movendo nessa direção. Se esquecermos por um momento o discurso tradicional, podemos dizer que as bibliotecas e o sistema que opera nesse mesmo campo já estão deixando para trás o acúmulo de papel para se concentrar na transferência de competências para que outros possam acumular as suas próprias informações, que provavelmente também não serão impressas. Menos bibliotecas, mais usuários.

Vale a pena fazer uma última declaração sobre o “sistema que opera nesse mesmo campo”, porque o futuro formal das bibliotecas, especialmente as públicas, dependerá em grande parte se (a) serão capazes de integrar as funções da “competição” ou (b) como serão capazes de estabelecer estratégias compartilhadas com esta competição.

Se listarmos lanhouses, telecentros, escolas, pontos de acesso de wifi gratuito, livrarias, bares e cafés como atores convergindo no campo da intermediação digital, devemos definitivamente acrescentar à esta lista centros de inovação, espaços de trabalho colaborativo, laboratórios de criação, centros comunitários e uma série de centros, lugares e organizações que incorporaram as TICs no seu dia a dia e estão abertas ao público.

Este sistema todo – bibliotecas incluídas – não está trabalhando apenas para o acesso, mas para a apropriação da tecnologia e da gestão da informação; eles evoluíram para pontos de encontro centrais, onde o acesso à informação é mais uma ferramenta; e tornaram-se áreas de co-criação, onde o objetivo esperado é um conjunto enriquecido de informações resultante da interação entre pares.

O futuro da biblioteca será real se for capaz de lidar com estas novas tarefas e estabelecer um diálogo estratégico com outros atores. Isso provavelmente vai exigir uma nova instituição – não necessariamente com um novo nome – que ofereça conexão wifi grátis, que permita a conversa dentro da biblioteca, ou imprimir objetos 3D ou a criação de uma rede Raspberry Pi de microcomputadores conectados por uma matriz de Arduinos. Ou talvez a biblioteca – especialmente se for pública – deve liderar uma rede de organizações com uma estratégia comum para que ninguém seja excluído deste novo sistema de intermediação digital, de acesso (real, quantitativo) para a gestão do conhecimento.

Eu, pessoalmente, acho que as bibliotecas já estão nesta fase. Não estou tão certo, entretanto, que esta seja a fase em que encontramos os que promovem um zilhão de iniciativas de inclusão digital, aqueles que promovem a modernização da administração, da tecnologia educacional, das cidades inteligentes e uma longa lista de projetos, os quais têm, em essência, o mesmo diagnóstico… Mas que aparentemente todos visam à cura por conta própria.

Tradução de El futur de les biblioteques, si és que en tenen.

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