A censura está de tal forma ligada à ditadura que com esta se confunde. Por vezes a censura apareceu como um dos instrumentos mais contundentes dos regimes autoritários, sejam eles de esquerda ou de direita, atuando de forma prévia ou à posteriori, limitante sobremaneira a liberdade de manifestação da arte, do teatro, da música, da literatura etc.
A história está recheada de exemplos, apresentando-se caso após caso em absurdos memoráveis, como é o caso da longa “Macunaima” de Joaquim Pedro de Andrade que em 1969 só pode ser lançado após se submeter aos cortes impostos pelos censores, tirando cenas de nudez e o musical “Calabar, o elogio da traição” de Ruy Guerra e Chico Buarque proibido na véspera da estreia em 1973.
Ao debruçar-se sobre o tema da censura, verifica-se com facilidade uma literatura considerável no que diz respeito à perseguição às ideias expressas por meio da arte em geral, ficando a censura aos livros como um campo de estudo pouco explorado. Talvez este fato por si só justificasse esta edição especial da Revista Biblioo. Mas há muito mais justificativas que não ensejam um debate neste momento.
O que sem dúvida vale dizer é que no limiar desta data que merece ser “descomemorada”, ou seja, os 50 anos da instauração da ditadura militar brasileira, não podemos esquecer do que esta nos legou no campo das ideias e do conhecimento: um descaso e despreparo para lidar com questões que não tenham um apelo político imediato, pois não rendendo votos, não suscita a vontade dos governantes.
Esta edição especial da Revista Biblioo é apenas uma contribuição singela para que não esquecemos de que as ideias em geral e os livros em particular também padecerem deste mal chamado censura, criando reflexos na sociedade brasileira que talvez ainda demoremos a resolver. Boa leitura!