Por Yuri Ramires, do MidiaNews.

As deficiências da educação na comunidade de Bonsucesso, a 10 quilômetros do Centro de Várzea Grande (MT), levaram o estudante Jefferson Gabriel da Silva Melo a encarar a maior empreitada de seus 13 anos de vida: a construção de uma biblioteca.

O menino mora com a mãe, os avós e os tios, em casas ladeadas, sem muros, na comunidade que é rota turística na cidade.

Jefferson está agora, com cerca de 2 mil livros aptos para a biblioteca. Foto:  Marcus Mesquita / MidiaNews.

Na porta da casa, ao lado de uma árvore grande, que em dias de sol faz uma sombra fresca, e um banco de madeira improvisado, ele tenta erguer sua biblioteca, que vem sendo idealizada há um ano.

“Eu nasci e sou criado aqui. Estudei até a metade do ano aqui, na escola estadual, onde fui alfabetizado. Aprendi a ler com seis anos”, contou Jefferson ao MidiaNews.

Desde o meio do ano, o menino vem para Cuiabá diariamente para estudar em uma escola salesiana, onde conseguiu uma bolsa de estudos. Apesar disso, não deixou de lado o sonho de construir a biblioteca em sua comunidade.

“A nossa escola aqui em Bonsucesso não tinha biblioteca. Foi aí que surgiu a ideia de fazer uma”, contou.

Desde que fixou a ideia, começou a arrecadar livros de todos os estilos, desde os didáticos até os de literatura estrangeira. Até meados do ano, mais de seis mil tinham sido arrecadados.

“Hoje, estamos com 2 mil livros, mais ou menos. Os livros passaram por uma triagem junto com uma bibliotecária do Governo do Estado. E só ficaram por aqui aqueles que estão aptos para serem colocados na biblioteca”.

Os livros selecionados já estão encaixotados no fundo da casa da família. “Na triagem, os que não estão em condições são levados para a reciclagem. A nossa biblioteca vai ter capacidade para 2.500 livros”, disse.

100 livros em 2016

Jefferson conta que só em 2016 leu 100 livros, o que ele considerou pouco. “Foram poucos. Eu fiquei muito corrido por causa da escola. Então, não deu tempo de ler mais. Gosto muito de ler”, contou.

Segundo ele, seu gênero preferido são as HQs, ou seja, histórias em quadrinhos. “Mas gosto de literatura brasileira também. Gosto de qualquer tipo, na verdade”.

Seu autor favorito? Maurício de Souza, o criador da Turma da Mônica. Gibis também foram arrecadados, alimentando ainda mais sua fixação pelo autor.

Para a avó, Valdivina Ferreira da Silva, de 60 anos, o neto está trazendo um diferencial para a comunidade, onde vai deixar um legado.

O menino leu 100 livros em 2016, o que ele considerou pouco. Foto:  Marcus Mesquita / MidiaNews.

“Eu fico muito feliz. Ele, com essa idade, pensando numa coisa tão grandiosa. E todo mundo ajudando, dando a apoio. Fico muito feliz. Tem que ser assim, ajudar a ir para frente”, disse.

A ligação entre avó e neto vai além. Jefferson conta que a biblioteca levará o nome deu seu bisavô, pai de Valdivina. “Vai se chamar Biblioteca Comunitária Boaventura Ferreira Campos, em homenagem a ele”, disse.

O menino não teve a oportunidade de conhecer o bisavô, mas sempre ouviu a avó contando muitas histórias, fazendo com que ele se tornasse uma figura importante nesse processo.

Já para dona Valdivina, a homenagem é motivo de honra. “Eu fico emocionada. Meu pai foi nascido e criado aqui, assim como eu. Então é uma lembrança muito boa, um legado que fica marcado”.

Quase pronta

A obra está quase pronta. A estrutura já está em pé. Alguns acabamentos estão sendo realizados e ainda falta colocar o telhado. “A obra está sendo tocada, foi paralisada por conta das festas de fim de ano, mas será retomada em janeiro”, contou Jefferson.

Estrutura está sendo construída com a ajuda de reeducandos das cadeias públicas de Mato Grosso. Foto:  Marcus Mesquita / MidiaNews.

A obra vem sendo tocada pelo Núcleo de Ações Voluntária de Mato Grosso (NAV-MT), em parceria com a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh-MT).

“A construção está sendo feita por reeducandos. Eles são supervisionados e são bacanas. Estão ajudando na construção do meu sonho”, lembrou Jefferson.

Ainda na busca pela concretização da biblioteca, no ano passado, ele teve a surpresa de conhecer a apresentadora Xuxa Meneghel. “Eu fui até Várzea Grande para buscar um projeto da biblioteca, mas, quando cheguei lá, me falaram que uma pessoa queria ajudar. Quando eu vi, era a Xuxa”, contou.

A apresentadora contribuiu com um cheque de R$ 5 mil. O dinheiro foi usado na compra dos materiais para a obra, que, até então, estava no início.

Sobre a sombra da árvore, aquela que fica na porta da casa do menino, a ideia é fazer um tablado de madeira, como um píer, para que as crianças e frequentadores possam desfrutar da leitura, ali, debaixo da árvore.

Jefferson espera, agora, que nos primeiros meses de 2017 a obra seja inaugurada. “Agora é só esperar, estamos na reta final”.

Doações ainda estão sendo aceitas. Quem tiver o interesse de ajudar, é só chegar no Distrito de Bonsucesso e perguntar para qualquer morador onde mora o Jefferson, o menino que está construindo uma biblioteca. O garoto é o orgulho do local.

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