Os estudos nos acompanham por longos anos em nossas vidas e muitos desses anos ele se mostram de forma fundamental e obrigatória. Enquanto crianças, o víamos como enfadonho e, por vezes, o trocávamos por brincadeiras e a televisão. Eu mesmo só entendi a importância do estudo já homem feito, e tive que “correr atrás” do tempo que perdi quando não dediquei ao estudo a importância que ele merecia.
Como toda a criança, eu tive meus momento de alegria ao ser arrumado pela minha mãe – e não raro minha madrinha -, para ir à escola. Confesso que comecei tarde a vida estudantil, pois nem eu e nem a minha irmã frequentamos creches na primeira infância. Lembro-me como era bom e divertido prepara a mochila para as aulas do dia seguinte, todavia muito mais prazeroso era preparar a lancheira com suco, fruta, sanduiche ou biscoito recheado. Bons tempos de infância na escola…
Mas nem tudo era prazeroso em minha vida de estudos. Confesso que o ciclo fundamental foi de fato prazeroso, mas o estágio seguinte – que outrora era chamado de ginásio -, foi penoso para mim. Tempos depois, com o ensino fundamental e médio concluídos, eu fui me tocar o motivo pelo qual o ginásio e os ciclos posteriores foram penosos para mim. A resposta veio em uma simples frase: a falta de dedicação ao estudo me fazia ver o estudo como algo sem prazer.
Quando eu terminei o ensino médio, eu tinha uma certeza que faria alguma faculdade na vida. Pensava em História e Geografia, e por um longo tempo estes dois cursos “brigaram” para ter a minha total atenção. Todavia, como a maioria dos leitores sabem, fiz Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio Janeiro (UNIRIO), e não me arrependo de ter feito – embora eu adoraria ter feito História ou Geografia.
Lembro que da minha turma do terceiro ano do C. E. Machado de Assis, em Niterói, eu fui o único aluno que passei para uma universidade pública; outros 3 passaram para faculdade particulares. Em um universo de quase 50 alunos, apenas 4 desses seguiram os estudos para além do ensino médio. No meu caso, já era sob a nova perspectiva que eu enxerga o estudo, e a sua importância para as etapas vindouras da vida.
Entretanto, antes de ingressar para o curso de biblioteconomia na UNIRIO, em 2007, passei o ano anterior todo estudando em um cursinho de pré-vestibular oferecido pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi neste curso – e digo sem medo de errar -, que eu pude entender que o estudo está para além da sala de aula, e que o contato com o material do curso era necessário para um melhor aprendizado. Aprendei lendo os textos, que um autor aponta para o outro – na maioria dos casos -, e que a busca por outros textos se apresentava de forma natural, na medida em que se seguia os estudos.
Foi cursando biblioteconomia que eu entendi que não tinha estudado o suficiente, principalmente nos primeiros períodos do curso. O déficit em que eu me encontrava nos primeiros anos da faculdade era lastimável. Oriundo de escola pública, em que estudei do antigo C. A. ao terceiro ano do ensino médio, associado a falta de estímulo para estudar, e a baixíssima carga de leitura que possuía, me vi completamente perdido nas aulas, principalmente quando havia professores que passava um texto por aula e eu, claro, por muitas vezes, não li nada.
Tive que penar e muito para acompanhar algumas aulas, e por justiça e falta de comprometimento meu, tive que repetir algumas. Eu demorei para “acordar” no curso, e isso teve consequências em minha permanência no mesmo. Demorei um tempo considerável para concluir o curso – tudo bem que teve uma greve e conflitos de horários entre as disciplinas também -, mas a minha falta de comprometimento com os estudos para além da sala de aula me deixaram um tempo além do razoável na faculdade.
Quando conclui o curso de biblioteconomia em 2013, eu estava sentindo um vazio que a ausência do estudo iria me causar. Imagine, você, uma pessoa que durante seis anos foi para a faculdade quase todos os dias; o que fazer para amenizar a ausência dos estudos que eram tão presentes em minha rotina?! Queria continuar, precisava continuar, e assim o fiz. No mesmo ano em que conclui, fiz o ENEM afim de saber como estavam os meus conhecimentos nas áreas que eu não me dediquei mais. Para a minha surpresa, obtive nota suficiente para ingressar em algum curso das áreas humanas e sociais, e como já estava imbuído por alguns conceitos das Ciências Sociais que havia usado no meu Trabalho de Conclusão de Curso, optei por fazer uma nova faculdade: Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia.
Nada foi fácil no novo curso. É claro que eu já possuía a experiência de já ter cursando uma faculdade antes, e essa experiência me fez atentar para as exigências que um curso universitário possui. Tudo o que não fiz no primeiro curso, eu fiz no segundo, ou seja: li os textos antes, estudei não só na sala de aula, busquei mais informações para um maior e melhor entendimento das disciplinas que eram ministradas.
Escrevi este texto como testemunho de experiência, para mostrar como eu fui “picado pelo mosquito do estudo” ao longo dos anos. Hoje eu estou caminhando para a metade do segundo curso universitário e nem vejo a possibilidade de interrompe-lo por motivo algum. Além da segunda graduação, eu quero fazer mestrado e, quem sabe, tentar um doutorado. A área que vou tentar ainda não está definida, devido o leque de temas que eu gostaria de estudar, mas a certeza de que quero continuar os meus estudos é irrevogável.
Infelizmente não temos incentivo em nosso país para os estudos, embora, segundo reportagem publicada no site da Rede Brasil Atual, o número de doutores no país cresceu cerca de 486% em 18 anos; isso é uma vitória em um país em que o analfabetismo estrutura e funcional ainda acomete boa parcela da população. Como ocorreu comigo, muitas pessoas tomam gosto pelos estudos ao longo da vida, mas infelizmente isso não é a realidade da maioria da população.