Como bem destacou o jornalista Bernardo Mello Franco em artigo publicado ontem (26) pela Folha de São Paulo, o novo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, assumiu a pasta prometendo socorro às escolas de samba do Rio, enquanto as bibliotecas públicas sucumbem ao desinteresse político.

“O novo ministro é carioca e poderia ter estreado com um socorro às bibliotecas [parque], [porém], preferiu prometer mais dinheiro público aos copos do carnaval”, disse o colunista destacando que a festa já conta com investimentos da Prefeitura, dos bicheiros e da TV.

De fato, as bibliotecas públicas parecem enfrentar um calvário, dado o desprezo que os políticos têm por estes instrumentos culturais. As bibliotecas-parque (só para ficar no exemplo do Rio) vivem um interminável dilema sobre quem assumirá à sua administração: ONG, OS, OSCIP? Estado ou prefeitura? Servidores da educação ou da cultura? Bibliotecários ou leigos?

Numa sociedade capitalista como a nossa, em que o que não gera lucro de forma expressa não vale o investimento que consome, a cultura em geral e as bibliotecas públicas em particular parecem fadadas ao descompromisso do poder público. E muito mais do que não gerar lucro de forma expressa, as bibliotecas também não geram votos, tendo como consequência o desinteresse dos políticos.

Biblioteca-parque da Rocinha, zona zul do Rio de Janeiro, ocupa uma área de 1,6 mil metros quadrados (Foto: Divulgação)

Embora eu reconheça o profundo dilema econômico pelo qual passamos, ressalto que o motivo pelo qual vemos nossas bibliotecas cambalearem não é necessariamente de ordem econômica, mais política. A falta de uma política consistente para este setor é por si só uma política, ou seja, uma medida deliberada, pensada para que as pessoas não tenham acesso à cultura letrada.

Todos os ministros da Cultura da era Temer (Marcelo Calero, Roberto Freire e mesmo João Batista de Andrade, que ocupou a pasta de forma interina) se mostram “solidários” à questão do livro, da leitura e das bibliotecas. No entanto, essa “solidariedade” ficou no plano do das intensões. E como “de boas intensões o inferno está cheio”, as coisas não saíram do discurso.

Nenhum deles fez avançar um centímetro sequer nestas áreas. Ao contrário! Nunca se viu na história recente do país as bibliotecas públicas padecerem tanto. Não existem grandes investimentos, nem grandes programas que contemplem as bibliotecas. Bibliotecas, aliás, que permanecem como elementos raros na paisagem urbana brasileira.

Lembrando que sob a estrutura do Ministério da Cultura (MinC) existem instrumentos importantes de promoção de políticas nessa área como o Departamento do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), o Plano Nacional do Livro e da Leitura, entre outros.

Enfim, mesmo não podendo esperar muita coisa do novo ministro em relação às bibliotecas e as demais políticas públicas do livro e da leitura (visto compor um governo que despreza a Cultura), a luta política deve continuar. As bibliotecas precisam entrar definitivamente na agenda política dos movimentos sociais e culturais, pois sem leitura não se avança.

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