Mais uma vez vivemos um período eleitoral o que nos enseja, ou pelo menos atiça nossa curiosidade, de vislumbrar como está à presença da/os bibliotecária/os na política partidária brasileira disputando mandatos eletivos e quais os determinantes que as/os impulsionam na participação deste processo, sendo que a apatia política e a pseudoneutralidade são apontadas como características ainda presentes nos discursos e práticas da área.

“Odeio política”, “quem se envolve com política não presta”, “política é uma coisa suja”! Com certeza você já ouviu uma ou todas destas máximas que permeiam o imaginário popular do povo brasileiro, em nossas casas, nas esquinas, barzinhos, ônibus, metrô etc.. É muito comum perceber que um sentimento de “antipolítica”, que sempre existiu, mas têm se agudizado na contemporaneidade, apresentar-se como uma estratégia política ideológica.

A política na compreensão da grande maioria ainda é atrelada a uma política partidária e sempre relacionada aos maus exemplos, e a dimensão mais ampliada acerca da categoria política é esvaziada e perde-se o entendimento de que, historicamente, somos sujeitos políticos.

Trazendo esta discussão para o campo da biblioteconomia, percebe-se que uma pseudo e pretensa neutralidade fizeram parte da construção dessa área do conhecimento, seja pelo viés epistemológico ou prático e há ainda hoje quem defenda esta postura embasada num discurso conservador. Esta postura desvela uma apatia política e uma sub-representação de bibliotecária/os nos espaços decisórios, seja nos movimentos estudantis, associativos e, matéria deste texto, os partidos políticos.

A perspectiva apresentada aqui é do entendimento de que nossas eleições são burguesas, atendendo mais aos interesses da classe detentora dos meios de produção do que da classe trabalhadora. No entanto, se a correlação de forças e a disputa de poder não contar com sujeitos políticos que possam vir a empreender uma ação em favor dos sulbaternizados e dar voz a segmentos que foram historicamente negados a serem vistos e ouvidos em locais como câmaras municipais e assembleias estaduais, a opressão e exploração na sociedade tende a aumentar.

Mas como tem sido este enfrentamento por parte da categoria profissional da biblioteconomia? É comum vermos colegas lançando seus nomes nas disputas eleitorais em seus municípios e estados? Para tentar apreender a essência deste fenômeno e apresentar algumas possíveis respostas, mesmo que não definitivas, desenvolvi, junto com a professora Mary Ferreira, um mapeamento da participação de bibliotecária/os nas eleições municipais de 2016 e, depois de repostas obtidas mediante questionário, chegamos a alguns resultados interessantes que me impulsionaram a relatar, resumidamente, neste espaço algumas impressões, haja vista este ano (2020) estarmos novamente no período eleitoral.

O título do artigo é “Bibliotecária(o)s na política: perfil da(o)s profissionais bibliotecária(os) nas eleições municipais brasileiras de 2016” e foi mapeado a inscrição na Justiça Eleitoral um quantitativo de quarenta e uma (41) pessoas que informaram que sua ocupação seria a de bibliotecária/o. Destes, trinta e seis (36) concorreram a ocupação de uma vaga como vereadora/os, quatro (4) para prefeituras e uma (1) como vice prefeita.

Oito (8) tiveram sucesso no pleito de 2016, ou seja, pode ser que em sua cidade conte com colegas da biblioteconomia como vereadora/es ou como prefeita. Dito isto, seria interessante o exercício da prática de expertise em pesquisa na web para localizar esta/es mandatária/os e diagnosticar sua atuação no que tange a questões relativas a nossa área e outras demandas.

O estado do Maranhão conta com uma bibliotecária eleita como prefeita em um de seus municípios e um vereador na Câmara Municipal da capital, São Luís, uma vice prefeita eleita em um município da Bahia e vereadoras eleitas em municípios dos estados de Tocantins, Goiás, Rio Grande do Norte, Paraná, Amapá e Piauí.

Algumas questões são interessantes de pontuar: grande parte das candidaturas foi por partidos considerados de centro e direita, o que aponta que a política partidária reflete um conservadorismo também presente na área. Mas alguns pontos positivos foram levantados como quando a/os então candidata/os, que a participação no movimento estudantil, associativo contribuíram para a escolha de encarar uma disputa eleitoral.

É óbvio que não podemos perder de vista que a representatividade, por si só, não vai garantir uma atuação profícua com pautas progressistas e ligadas a área, pois sabemos que existem partidos que não tem pudor algum em rifar temas das discussões, caso sejam considerados polêmicos ou estejam em uma posição subalterna na lista de prioridades, onde alguns parlamentares abrem mão de suas convicções éticas e políticas por acordos que não contribuem em nada para a sociedade.

Mas a presença de bibliotecária/os nos parlamentos podem ser salutares, a exemplo da deputada federal Fernanda Melchionna, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL/RS), que têm tido uma participação ativa e alinhada aos interesses da classe trabalhadora e pautas de interesse da biblioteconomia, inclusive se destacando como um dos possíveis nomes a ganhar o prêmio Congresso em Foco, que agracia as melhores atuações de parlamentares por voto popular e se destacando nas pesquisas em uma pré-candidatura a prefeitura de Porto Alegre.

E como estão as candidaturas de colegas bibliotecária/os para o pleito deste ano? Como ainda estamos no período de pré-campanhas por conta do adiamento das eleições para novembro, em razão da pandemia, podem ser que mais nomes surjam, mas as redes sociais já apontam para pré-candidaturas de bibliotecária/os nos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Maranhão (este, só na sua capital, conta com três pré-candidaturas já declaradas), mas com certeza devem existir outras que já se organizam, no entanto não foram noticiadas ou divulgadas.

Acredito que delegar o poder decisório já tem demonstrado não ser a estratégia mais adequada, portanto é o momento do exercício da cidadania em seu aspecto político como principio de liberdade, na perspectiva de Hannah Arendt, ocupando conselhos de cultura e educação, como representação da sociedade civil organizada, e também ocupando os espaços legislativos por meio de mandatos oportunizados pela participação na política partidária e também por meio de coletivos que possam fazer pressão e garantir conquistas como à mobilização para a aprovação do FUNDEB.

Desta forma, porque não conseguimos uma mobilização a nível nacional para, por exemplo, garantir a efetivação da Lei 12.244/10? Nos falta força política, mobilização ou visibilidade enquanto categoria profissional? Panacéias para os males não existem, por isso conclamo que saiamos do lugar confortável da crítica vazia e escondida, ou da pseudoneutralidade, e assumamos o front de guerra para exercitarmos a boa política. Ou vamos reproduzir chavões do senso comum? Por isso conclamo novamente: “BIBLIOTECARIA/OS DO MUNDO: UNI-VOS”

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