E não me canso de buscar alguma coisa que ainda não existe.

Procuro-a em tudo quanto é canto. No céu ela não se encontra. Na terra que me foi possível percorrer também não a encontrei. No tempo, senhor dos instantes, ela não reside. Nos livros (suas páginas, sua capa, seu conteúdo…) não há vestígio disso.

Quando penso que a coisa só existe no meu pensamento, me engano, porque nem lá ela tem forma, pura abstração. Ela não tem cor, tamanho, cheiro ou gosto. Não é sólida, líquida ou gasosa, nem puramente etérea.

Quem procura acha. Será?

O problema é permanecer na inércia, esperar que o tudo se faça sem um forçoso “fiat lux”. Será que isso que busco teria um sentido para ser? Teria uma essência utilitária ou seria pura fruição, como diria Santo Agostinho? O que procuro seria colocado na caixa de ferramentas ou na caixa de brinquedos, como diria Rubem Alves? O que busco faz parte do princípio do prazer ou do princípio do dever, como diria Freud? Não sei. E não saber às vezes me anula; outras vezes me impulsiona.

Se soubesse para que servem as coisas, não seria um humano.

Eu busco a coisidade da coisa, como diria Heidegger. Eu busco modelar a coisa para que ela exista e me faça também criador de algo. Meu apelo demiúrgico. Porque somos simples mortais e temos consciência disso, erramos por aí, esquadrinhando sentidos. Não, não é o sentido que eu busco.

Eu estou no mundo como alguém que entra numa biblioteca apenas para bisbilhotar, sem um motivo claro do que vai buscar. É fácil perder-se numa biblioteca se você entra assim, sem um plano. Em que estante ir? Qual tema te interessa? Que grande área o comporta? Um mundo aí encerrado em livros e a gente perdido porque não fez planos. Mas também não saber o que se vai buscar pode servir como uma atitude lúdica. Pode, assim, ocorrer o inesperado. Pega-se um livro, abre-se uma página qualquer e… BUM! O Big Bang acontece nesse momento ante nossos olhos.

Mas o mundo inventou as regras, e as leis, e a educação metódica até dizer chega, e os currículos, e os conteúdos conceituais que aprisionam leituras, e os livros de tópicos, e o ensino topicalizado e o círculo vicioso, a cobra que engole sua própria cauda: ouroboros. Não saímos disso.

Eu procuro minha coisa como quem entra numa biblioteca para descobrir o gênesis e o êxodo, não o apocalipse.

Se essa coisa que procuro não existe de fato, precisarei fazê-la. Neste momento, minha oração é só esta: “faça-se, ó coisa!”

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