Dizer que as novas tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) impactaram as relações humanas de forma a não permitir qualquer referência histórica semelhante seria redundante. As novas formas de se comunicar, de consumir, produzir informação e de conhecer são apenas algumas destas inovações que permeiam todas as esferas da sociedade – tais como as práticas profissionais e educacionais. O vocábulo “impacto”, por exemplo, é um dos mais utilizados atualmente para traduzir este fenômeno.

Entretanto, em relação às novas TIC’s, embora haja concordância em relação a sua quase onipresença, tal concordância inexiste em relação ao bom uso que se pode fazer delas. Os motivos são vários: desconhecimento, apego a tradição, preconceito, etc. A língua, inclusive, contribui para isso, pois, como certa vez escreveu o filósofo da informação Pierre Lévy, o uso da palavra “impacto” é equivocado, pois induz a crença de que as tecnologias viriam de outro planeta, impactando-nos, atingindo-nos, estranhas a toda significação humana – o que não é verdade, pois não são mais do que produtos sócio-culturais. As tecnologias, ao mesmo tempo em que são condicionadas pelo fazer social, condicionam este fazer.

Por exemplo: diz-se muito que a internet é um perigo. Ora, esta nada mais é do que um espelho da sociedade. Se existem malefícios na internet, não é esta última que os origina, mas aquela. Por outras palavras, as contradições são sociais; se alguém pretende dar um golpe pela internet, é porque a estrutura social assim lhe permite fazê-lo, sendo, então, a tecnologia, mero instrumento – e não causa.

A questão da educação à distância

Na área de educação, por exemplo, dá-se o mesmo. Muitos têm preconceitos contra o e-Learning, modalidade à distância de educação, instrução e que se utiliza de ferramentas de gestão do conhecimento (KM) por intermédio de computador ligado a internet. O equívoco mais comum é considerá-lo como substituto da sala de aula, porém não só: enganam-se também aqueles que o consideram como modalidade auxiliar e/ou alternativo à educação presencial, como escreveu Marc Rosenberg.  Fora isso, outro erro é considerá-lo como sendo somente um método de treinamento.

Quanto ao primeiro ponto, é um erro pensar que o e-Learning é (ou será) substituto da sala de aula. A existência daquele não pressupõe o fim dessa, pois se trata apenas de mais uma possibilidade existente. Carlos Rodrigues Brandão escreveu já há muito tempo que não existe educação, mas educações; ou seja, a educação depende do contexto ao qual se insere, de quem a elabora e para quem ela se destina. Se a educação por um lado contribui para a alienação, por outro pode (e deve) permitir a conscientização política; se aprofunda a divisão de classe, pode também contribuir para o seu fim; e, se a educação presencial, muitas vezes, mostra-se como insuficiente, o e-Learning, de acordo com suas potencialidades e possibilidades de uso, pode mostrar-se como satisfatório – assim como o contrário também é verdadeiro. Desta feita, o segundo ponto também foi refutado, uma vez que, novamente, o e-Learning não é alternativo a algo, simplesmente é. Como modalidade específica, deve ser analisada a fundo, de forma que seu aprimoramento permita aos seus usuários modelos cada vez mais adequados às suas necessidades.

O julgamento do e-Learning decorrerá do uso que se fizer dele

Quanto ao último ponto, pode-se dizer que o e-Learning não é só um modo de treinar – isto é, mostrar a alguém como se faz determinada tarefa. Com ele é possível também criar programas educacionais que tenham por norte a aquisição de conhecimento, através da disseminação (e troca) de informações relevantes capazes de permitir a reflexão e sua posterior mudança de pensamento/comportamento/ação. Sendo isso verdadeiro, ao contrário do que se pensa o e-Learning não se configura enquanto tecnologia de gestão de conhecimento, mas como instrumento/modalidade que se utiliza de tecnologias de gestão de conhecimento.  Sendo assim, não se pode julgá-lo a priori; o julgamento decorrerá do uso que se fizer dele.

Por fim, considerando o e-Learning enquanto modalidade educacional e de KM, o que significa, brevemente, identificação, organização, categorização e gerenciamento de conteúdos informacionais, visando um determinado público, este se apresenta como campo de atuação profissional por parte do bibliotecário. Isso porque o profissional que se gradua em Biblioteconomia é preparado para realizar tarefas de seleção, armazenamento, organização, criação, disseminação e intercâmbio da informação. Tradicionalmente isso era feito em bibliotecas, a partir do conteúdo/informação contidos em livros e revistas; hoje, porém, este profissional vem adquirindo outros espaços de atuação, organizando, criando e permitindo a troca de informações em ambientes variados, baseando-se para tal, no caso do meio digital, em conhecimentos de arquitetura da informação. Sites de internet e projetos de e-Learning são alguns exemplos disso.

Desta forma, conclui-se que a tecnologia pode ser útil ou inútil, boa ou má, necessária ou dispensável. Pode prejudicar, mas pode também beneficiar alguém. Quem decide, entretanto, é aquele que dela se usa como extensão de si mesmo.

Para saber mais, leia a monografia: http://rabci.org/rabci/node/268.

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