Eu poderia começar este texto com palavras de baixo calão contra todos os meus irmãos brasileiros, que ganharam às ruas de todo o Brasil em um frenesi, pedindo a imediata saída da então presidente da República, a senhora Dilma V. Rousseff. Poderia também cantar vitórias aqui, dizendo que fiz bem em não ter ido às manifestações convocadas por um tal de Movimento Brasil Livre (MBL), e ainda por cima vestido com a camisa da seleção brasileira de futebol. Poderia estar agora fumando um charuto barato, mas fazendo alusão a Cuba e cuspindo na cara dos “salvadores da pátria”, cuja alcunha é coxinha. Eu poderia… sim, eu poderia, mas não o farei! Continue a leitura, que antes do fim, você entenderá porque eu não o farei.

Faz pouco mais de um ano, que à Câmara dos deputados decidiu abrir o processo de impedimento, contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Naquele domingo de abril, mais precisamente no dia 17, o país parou para ver uma votação, que cá prá nós, serviu apenas para “cumprir tabela”, pois bem antes já se sabia qual seria o resultado da votação. Teatralizaram um processo que é sério, e deveras traumático para um país, pois deixar a cargo do legislativo, resolver uma questão que o soberano escolheu (na democracia, o soberano é o povo!). Como uma final de copa do mundo em que o Brasil esteja jogando, aquele domingo atraiu a atenção de esmagadora maioria da população.

Aprovação do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Foto: Tempo

Já sabemos o que se deu depois da abertura do processo de impedimento da ex-presidente. Também sabemos, e não é novidade, os motivos que levaram o então presidente da Câmara a aceitar a abertura do processo. Bom, podemos então passar ao tema deste texto.

Durante meses (quase o ano todo de 2016), o Brasil viveu uma polarização exacerbada, algo que só víamos em discussão por causa de religião e time de futebol. Os assuntos da política nunca foram tão falados, debatidos, questionados, absorvidos pela população, como no último ano. Era um tal de petralha daqui, coxinhas de lá, comunista ali, emergente acolá… Essa polarização serviu para fazer nascer um grande debate nacional, que, levando do lado positivo, foi bom ter vivido um período de grande efervescência política, mas em contra partida, as emoções foram levadas a cabo, e muitas pessoas se magoaram mutuamente, e deixaram de se falar.

O que não gostei desse movimento todo, foi o constatação de que seu eu não fosse do Partido dos Trabalhadores (PT), ou defendia o mesmo, eu, necessariamente era coxinha, e se não opinasse contra a Dilma e/ou o Governo Federal, eu me tornava um autêntico petralha, comunista, defensor de Cuba e da Venezuela, e por aí vai. Isso era muito chato. Eu não poderia dizer nada que não agradasse ambos os lados, para não ser acusado de ser de algum lado.

Lembro-me que fiz ácidas críticas a forma de governo que o Partido dos Trabalhadores adotou, a até cheguei a publicar alguns textos nesta linha de raciocínio (alguns inclusive aqui na Biblioo, como: “Carta ao Partido dos Trabalhadores”, e “E sua educação, como vai?!”). Todavia, eu não pedi a saída de Dilma, pois sabia que ela não fez nada que os outros que a antecederam não tenham feito, e que, com a ciência do Congresso, terminaram seus mandatos. Podemos discutir se as tais “pedaladas fiscais” são/foram crimes ou não, mas se for crime, como a maioria resolveu dizer, por que, cargas d’água, o probo Congresso Nacional não retirou pelo processo de impedimentos, os exs presidentes?!

Sabemos, como já supracitado, o que levou o Cunha a abrir o processo. Mas, será que todos os brasileiros que saíram às ruas com panelas nas mãos, ou os que bateram-nas em suas varandas gourmet, sabiam o que estavam fazendo? Essa pergunta eu não tenho a pretensão de responder, pois se assim o fizesse, entraria em contradição comigo mesmo, haja vista que deixei claro no início do texto, que eu até poderia falar algumas coisas, mas que não o faria. E porque não o faço?! Primeiro por que sinto vergonha alheia por aqueles que foram nos protestos vestidos com a camisa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e pediam o fim da corrupção; segundo que não é uma luta de quem vence ou quem perde; com a corrupção, toda a sociedade brasileira perde; terceiro é que não sei “tripudiar em cadáveres”, ou seja, os que foram às ruas julgando estar defendendo o país contra a onda vermelha do comunismo (coisa que o PT nem na origem foi), devem estar se mortificando toda vez que se olham no espelho.

Penso que essas pessoas estejam vivendo em outro país, e que não estão sabendo o que está se passando no Brasil. Custo acreditar que, ao verem os pseudos heróis que foram exaltados nas manifestações, sendo alvo de várias acusações de receberem dinheiro de forma ilícita, essas pessoas não sintam vontade de vomitarem, ou ao menos fazerem uma mea culpa.

Eduardo Cunha amarga uma prisão preventiva há 4 meses; Aécio Neves é o campeão de acusações nos depoimentos da delação premiada; 8 ministros de Estados estão sob investigação da Procuradoria Geral da República; 24 senadores, 39 deputados federais, também estão sob investigação… E as panelas parecem ter voltado para o fogão, pois não se ouvi mais barulhos dessas sendo golpeadas por colheres e/ou outros tipos de objetos.

Eduardo Cunha e Aécio Neves em evento político. Foto: Brasil 247

Eu não quero acreditar que, uma vez descoberto que tudo não passou de uma farsa patrocinada pela grande mídia/legislativo/judiciário = burguesia nacional, os patriotas de verde e amarelo não sintam vergonha de terem participado deste golpe, e pior, de terem sido usados como bonecos de manobra, para terem uma contra partida para fazerem o que já queriam há tempos.

Resta-nos chorar pelo o que está, e pelo o que virá, pois, de acordo com os prognósticos, nas próximas eleições gerais, a população pode entregar o seu voto a figuras pouco conhecidas no meio político (como o prefeito de São Paulo, por exemplo), ou então, e isso é o pior dos prognósticos, colocar a faixa de presidente nos peitos dos representantes daquilo que é mais pérfido na sociedade; falo do machismo, racismo, xenofobia, utra militarismo… bolsomismo. Credo!

Finalizo este texto me valendo de uma frase do ex presidente da Câmara dos Deputados, o réu e preso preventivamente, o senhor Eduardo Cunha, antes de dar o seu voto na noite do dia 17 de Abril de 2016, e que me perdoem os ateus e os não cristãos: “Que Deus tenha misericórdia desta nação. Voto sim!”

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