Desde que a Prefeitura de São Paulo anunciou, por meio do seu prefeito, João Dória, e do seu secretário de Cultura, André Sturm, o lançamento do “Biblioteca Viva”, um programa que, entre outras coisas, pretende ampliar os dias e horários de atendimento, aumentar as atividades culturais e alterar a forma de aquisição de lançamentos literários nas 54 bibliotecas da rede municipal, a medida vem sendo alvo de duras críticas por parte de profissionais e ativistas das áreas de livro, leitura e bibliotecas.
De acordo com os críticos, o Biblioteca Viva seria um apanhado de ideias apresentadas como “inovadoras”, mas que em sua maioria já são programas desenvolvidos desde a gestão anterior.
Em artigo publicado na Biblioo na semana passada, a educadora e mediadora de leitura, Mara Esteves, aponta o fato do programa da Prefeitura ignorar o histórico processo de luta dos movimentos culturais da cidade, bem como de desconsiderar as diretrizes estabelecidas pelo Plano Municipal de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB), cujo principal objetivo é orientar a criação de políticas públicas nestas áreas.
“O primeiro eixo de transformação do programa propõe a ampliação do horário de atendimento oferecendo ao público no mínimo 4 horas de atendimento aos fins de semana. André Sturm afirma que não haverá contratação de novos profissionais ou a convocação dos bibliotecários aprovados no concurso realizado em 2015. Para ampliar o quadro de funcionários, serão contratados estagiários, ou melhor, os Jovens Monitores Culturais. Este eixo está totalmente em desacordo com as metas do PMLLB/SP, por isso já demonstra a ilegalidade do programa”, aponta a educadora.
O educador e escritor, Rodrigo Ciríaco, também criticou as medidas que, segundo ele, desconsideram o trabalho, o tempo e esforço de milhares de pessoas que trabalharam na construção do Plano. “Pior ainda é decretar o fim, enterrar um programa importante para as políticas do livro, leitura, literatura e biblioteca como o ‘Veia e Ventania’ e apresentar agora um novo programa, mais TOP, mais eficiente, mais super-mega-blaster que traz como novidade propostas e ações que já são realizadas há anos na cidade – como os saraus nas bibliotecas”, aponta o educador.
Durante o Seminário “Bibliotecas Comunitárias: entre saberes e fazeres”, realizado ontem (30), na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), o bibliotecário e ativista da área de livro, leitura e bibliotecas, Ricardo Queiroz, denunciou a apropriação que a gestão municipal de São Paulo está fazendo das atividades que já são desenvolvidas pelas comunidades onde as bibliotecas estão inseridas.
“Secretário, André Sturm, colocou que a biblioteca tem de ter vida, como sendo pequenos centro culturais. Eu acho que não. As bibliotecas têm de ser bibliotecas públicas, né? E como tal elas têm um papel na sociedade muito claro e muito importante. É o equipamento cultural que está aberto, o equipamento cultural que fica aberto diariamente, quase todos os dias da semana, de segunda a sexta, e o secretário fala que é importante abrir sábado e domingo – eu também acho, concordo com ele neste ponto – mas está aberto mais, muito mais do que teatro, do que cinema, e aberto não só todos os dias, mas aberto a qualquer pessoa da população. Ninguém pode ser impedido de entrar na biblioteca pública. Então para a biblioteca ser viva de fato o secretário tem de ver, olhar – o secretário, seus assessores – para a vida que já existe na biblioteca. E a partir disso, ai sim ressignificar e melhorar o projeto que já é bom, no meu ver”
Contatada pela Biblioo para comentar os fatos, a Prefeitura não havia dado retorno até o fechamento desta matéria. Já a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo respondeu pedindo para especificarmos os pontos a serem esclarecidos. As perguntas foram enviados, mas as repostas ainda não nos foram enviadas.
A palestra na integra do bibliotecário Ricardo Queiroz será disponibilizada em breve pela TVBiblioo. Abaixo a entrevista concedida por ele logo após sua apresentação.
Nesta ocasião Luzia De Seta, que é uma das representantes do Conexão Leitura, que juntamente com a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias organizava o seminário, falou das expectativas em relação ao evento. Segundo ela, um dos motivos de escolher a UNIRIO para realização do evento seu deu pelo fato do grupo sempre notar um distanciamento entre as bibliotecas comunitárias e a universidade. “Como a gente está num lugar de formação, a gente pensou que as nossas bibliotecas poderiam trazer pra cá a nossa experiência e somar com aquilo que chamamos de saber universitário, pra ver se daqui pra frente a gente constrói juntos uma política pública de verdade para a cidade do Rio de Janeiro, uma política pública do livro, leitura e biblioteca”, disse.