RIO – A coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Acre fala dos avanços e das dificuldades em relação a implementação de bibliotecas naquele estado.

Chico de Paula: Quais são as principais dificuldades que vocês encontram para atender as demandas das bibliotecas públicas?

Helena Carloni: Na verdade cada estado tem uma formatação. A nossa é um departamento do livro e da leitura onde estão inseridos a biblioteca e o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas. É bem parecido com vários estados. Para nós que representamos acumulativamente as funções, torna-se um problema, porque além das atividades do Sistema, que seria o de dar apoio as bibliotecas municipais, também acumulamos diversas funções, inclusive a de direção da própria biblioteca. Um dos maiores problemas especificamente no estado do Acre são as distâncias territoriais de chegarmos a alguns municípios. Como essa questão geográfica onera, temos que sempre possuir um aporte financeiro maior para dar conta. Temos o compromisso moral, embora não seja nada formalizado, mas existe um compromisso com o sistema em que no nosso estado esse apoio seria fornecido. Ele vai desde a implantação à formação de equipes. Assim como o Sistema encontra dificuldades, os estados também têm dificuldades para dar conta dos objetivos.

C. P.: Quantas bibliotecas o Sistema Estadual do Acre agrega hoje?

H. C.: São todos os municípios. Nós conseguimos zerar, mas sempre acontece uma intempérie. Tivemos uma enchente que acabou com a biblioteca de um município, aliás, acabou com quase todo município. Então tem sempre que existir propostas para acudir essas situações emergenciais. Temos poucos municípios no Acre, mas a dificuldade maior seria territorial. Existem municípios que nós temos o acesso em época de chuvas somente de avião ou então de barco. Isso onera muito, sendo de seis a oito horas de viagem.

C. P.: Em relação às prefeituras, uma das maiores dificuldades encontradas pelos Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas é o fato destes Sistemas receberem os kits e não conseguirem implantar as bibliotecas ou então perceber que estas foram desmontadas pela administração local. Como você enxerga a dependência que o Sistema tem em relação a questão político-partidária?

H. C.: Vejo que em primeiro lugar existem algumas dificuldades. Os municípios não têm orçamento. Eles pegam um pacote pronto. Embora seja uma coisa doada, ele também tem que fornecer contrapartida. Às vezes eles não colocam a imposição de não querer. As responsabilidades dos municípios são grandes e eles não têm a visão do bem que estão fazendo para a comunidade. Infelizmente eles percebem somente a dificuldade de ter pessoas específicas para aquele momento para poder gerenciar. Eles têm que colocar pessoas para trabalhar. Então, essa é a dificuldade maior. Nem chega a ser político-partidária. A dificuldade maior é de fazer esse convencimento de que aquilo vai ser um bem muito maior para a comunidade. Acredito que seja esse o nosso papel e só temos essa preocupação quando for instalada uma biblioteca que seja um espaço próprio justamente para não sofrer essa interferência político-partidária. A política vai existir sempre e é necessária que tenha, porque tem que ter política pública. Mas partidária não é interessante, porque a biblioteca não está a favor de um partido e sim a favor de toda a comunidade. É esse convencimento que temos que fazer. É uma coisa bem interessante porque não conversamos somente com o prefeito, colocamos a comunidade para dialogar com a câmara de vereadores, porque a câmara é formada pelas opções da comunidade e de vários partidos. Então mesmo que seja por oposição ao prefeito, a cobrança vai ser feita. Mesmo que o vereador não tenha o caráter de comunidade, mas pelo menos de oposição ele vai fazer e a comunidade participando, ela adquiri poder daquilo. Então seria interessante que o convencimento ao prefeito não seja feito somente para ele.

C. P.: Nesse encontro vocês estão tendo a oportunidade de colocar esses problemas para os colegas. Que tipo de problemas que vocês enfrentam e que necessitam de apoio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, da Biblioteca Nacional, do Ministério da Cultura e do poder público em geral?

H. C.: A relação do Sistema Nacional com os Sistemas Estaduais sempre foi boa. Tivemos momentos em que não nos comunicávamos muito, mas nunca deixou de ser uma relação. Boa porque a mesma situação que eles sentem nacionalmente, nó sentimos também nos estados. Quando fazemos alguma reivindicação não é especificamente para o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, mas seria para a Biblioteca Nacional via Ministério da Cultura que olhem mais para o Sistema Nacional, dando poder para ele o apoio também será passado para os Sistemas Estaduais porque está cristalizado. Eles sabem as suas funções e precisam de nós que estamos na ponta. Poderia ser uma coisa mais formal que envolvesse repasses financeiros para que tivéssemos uma representação formal nos municípios. Estaríamos inclusive fazendo o monitoramento das ações da implantação com respaldo do próprio Ministério.

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