Por Luiz Felipe Reis de O Globo
A partir de março, quatro teatros da rede municipal receberão novos projetos de residência artística. O início deles acontecerá um ano após o encerramento dos últimos contratos pactuados entre a Secretaria municipal de Cultura (SMC) e os residentes que coordenavam a programação de oito importantes teatros municipais — Espaço Sérgio Porto, Teatro Ipanema, Teatro Café Pequeno, Teatro Maria Clara Machado, Teatro Gonzaguinha, Teatro Ziembinski, Teatro do Jockey e Sala Baden Powell.
Desde então, a programação destas salas — com exceção do Jockey, que deixou de pertencer à rede em maio passado — ficou a cargo do corpo técnico da SMC, enquanto a secretaria buscava validar junto ao Tribunal de Contas do Município (TCM) um novo formato para o edital de Residências Artísticas de Teatros de 2015, que soma R$ 9,23 milhões.
Lançado em junho de 2015, o novo edital passou por um longo processo de revisão e ajustes exigidos pelo TCM e só pode finalizar a sua etapa de inscrições em 3 de novembro. Após a análise das propostas, no último dia 26 a SMC publicou o resultado do processo licitatório no Diário Oficial.
O documento confirmou quatro novos projetos de residência, que vão assumir a gestão administrativa, técnica e artística dos teatros Ipanema, Serrador, Ziembinski e Sérgio Porto. No entanto, o D.O. decretou como “fracassadas” as licitações para o Café Pequeno e a Sala Baden Powell. De acordo com o secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero, elas não atingiram “seu objetivo de selecionar proponentes”:
— Até o fim de fevereiro abriremos a nova concorrência para esses dois teatros. No caso da Baden, a comissão de avaliação entendeu que nenhuma das propostas era merecedora da avaliação mínima no que diz respeito aos aspectos técnicos.
CONTRATOS DE 24 MESES
Para o Café Pequeno, apenas um projeto foi aprovado pela comissão, mas como os proponentes eram os mesmos aprovados para o Sérgio Porto, a licitação foi encerrada sem vencedores. Até a realização de nova seleção, portanto, a programação dessas salas segue a cargo da SMC.
Entre as novidades das residências está a duração mínima do contrato, ampliado de 12 para 24 meses. Outra mudança significativa é que, além da programação artística, os residentes serão responsáveis pela contratação e o gerenciamento da equipe técnica dos teatros, o que inclui serviços de produção, luz e sonorização.
— Esse é um dos principais aspectos positivos do novo modelo — diz o produtor José Carlos Della Vedova.
Proponente vencedor da licitação para o Teatro Ipanema, Vedova será um dos diretores artísticos do teatro, ao lado de Thiago Vedova, Mauro Luiz Viana, Alexandre Mello, Rogério Garcia e Fabianna Mello Souza.
Juntos eles conduzem o projeto Vem Ágora, resultado da fusão dos projetos Vem!, que guiou a programação do Gonzaguinha entre 2013 e 2015, e do projeto Ágora, que entre 2012 e 2015 esteve no Maria Clara Machado. Para os próximos dois anos, os residentes do Ipanema terão R$ 1,23 milhão para a programação e contratações técnicas.
— Agora os residentes poderão escolher seus técnicos e ter profissionais mais gabaritados de luz, som e palco — diz Vedova. — Antes tínhamos profissionais contratados sem passar pelo crivo dos gestores.
Um dos diretores do projeto Entre, que esteve à frente do Sérgio Porto entre 2010 e 2015, Joelson Gusson está de volta ao teatro do Humaitá, junto com Daniela Amorim e Marta Vieira. Com R$ 1,61 milhão de recursos, ele diz que os valores destacados para a programação artística “são basicamente os mesmos dos editais anteriores”:
— Vamos ter mais trabalho, porque cuidaremos da equipe técnica, mas isso também nos dá mais autonomia e qualidade.
Gusson ressalta, ainda, que o Sérgio Porto irá funcionar um dia a mais por semana, de quarta a segunda-feira, mas diz que o acúmulo de funções determinado pelo novo edital “exige mais de gestores e empresas”.
— Tive que alterar o escopo da minha empresa, torná-la maior, para poder concorrer. Gastei mais de R$ 5 mil só para poder entrar na licitação.
Recém-reformado e reaberto, o Teatro Serrador, no Centro, será administrado pela organização social (OS) Águas, que receberá R$ 1,96 milhão pelo período. Diretor-executivo da empresa, Selim Harari diz que ainda está definindo sua equipe curatorial.
Já o Ziembinski, na Tijuca, será conduzido pelos produtores Monique Carvalho e Robson Sanchez, que terão R$ 1,23 milhão. Sobre os Gonzaguinha, a SMC informou que lançará, em breve, um projeto de “residência experimental”, enquanto o escopo de residência para o Maria Clara Machado “está em processo de definição”.