Durante muito tempo a biblioteconomia teve um sentido instrumental na minha vida. O meu ganha-pão. Aliás, um belo ganha-pão, graças às coisas materiais que me propiciou. No entanto, era pouco. Porque para mim biblioteconomia era um apanhado de técnicas pura e simplesmente.

Nada contra as técnicas, a princípio. Mas elas precisavam fazer mais sentido do que ter um fim em si mesmas. É assim porque é assim. Ora, como eu, aquele cara que aos 10 anos perguntou ao professor de religião sobre Deus ter ignorado a salvação dos dinossauros na arca de Noé, poderia não problematizar o sentido do próprio ofício?

Em algum momento, a conjuntura política do país me fez enxergar as possibilidades da profissão e de como ela poderia ser muito maior e de como já existiam bibliotecárias, bibliotecários, nao-bibliotecárias, não-bibliotecários que já a faziam maior.

Biblioteconomia, para mim, é coletividade, é empoderamento do outro. É prática social. É fazer a diferença num país tão marcadamente racista, misógino, classista, homofóbico quanto o Brasil. Tudo isso por meio da democratização do acesso à informação. Possibilitar que as pessoas enxerguem a própria realidade e passem a questioná-la.

Quero agradecer a todas e todos que me fazem acreditar na biblioteconomia. Não é fácil. É preciso ter coragem para atuar nessa profissão. E digo isso mesmo estando apartado das maiores dificuldades que a maioria dos colegas passa. Mas o problema é nosso.

Então, não vou desejar “Feliz Dia do Bibliotecário”, mas fôlego para continuar na luta. Porque já somos sementes. E que enfim possamos ter política de Estado, quando o Estado for reconstituído, porque temos que acreditar que ele será. Que, enfim, possamos sonhar com algum vislumbre de democracia e isso tem a ver com a igualdade de oportunidades, dentre elas, friso, a democratização do acesso à informação.

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