Ao passar pela Glória, olho para o mar, estendo os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e tenho assim, a sensação do futuro longo, longo, interminável…

Pareço estar num século passado qualquer, dentro de um livro de Assis, pois parece está tudo muito simples e diferente demais ao mesmo tempo em que tudo é muito confuso também. Quando é pelas alamedas do Passeio Público, num vagar de horas a fio e ao lado de um amigo, desaguando minhas queixas, que tento entender as variações de espírito de minha amada nas páginas de Dom Casmurro. Ou no Largo do São Francisco, quando as carruagens parecem brotar do chão, enfileiradas no fim de tarde, na deliciosa descrição de Esaú e Jacó. E em um dos trechos mais bonitos de Quincas Borba, o meu personagem parece acordar em meio ao movimento frenético do Cáis Pharoux, no momento em que só ouço a confusão de línguas dos turistas no ancouradouro e percebo que além da barra, debaixo do céu fechado, só há o mar e a solidão…

Talvez esteja em mim também, esta solidão, tanto, e o Rio, parece se espalhar como um labinrinto de ruas por estes livros de Assis. Entretanto, sei que não é 1889, nem nasci no morro do livramento, que não sou o maior escritor e nem frequentei academia de letras para descrever melhor do que outros, esta cidade antes que o diga. Sei apenas das minhas angústias e as escrevo, e você, não sabe, não há de saber que a quero tanto, conquistar-te na página de um jornal e dizer nas minhas primeiras edições que são mais do que as francesinhas da Rua do Ouvidor, a sua beleza arquitetônica dos arcos da lapa.

Entretanto, se eu a encontrasse numa esquina dessas da Rio Branco, eu lhe diria que a amo, mas não por acaso, sei que não, mas por senso e paixão, eu selaria esse amor com um beijo ao meio-dia, em frente a igreja da Praça da Sé, com as badaladas do meu coração. E então, seguiria-mos de manhãzinha pela Beira-Mar a caminhar, vendo as ondas ali baterem e morrerem nas pedras como é em meu coração. Ah, e mais tarde em Botafogo, me encontro a estar entre o mar e um pensamento em ti, a te buscar, sabendo que nem se quer sonhas comigo, mas mesmo assim, eu quase posso ouvir os seus batimentos enquanto ainda dormes.

E se o mar bate forte em ressaca, é verdade, porém, o mar é um tolo. Pois bate sem saber por que, enquanto que o meu coração sabe que bate por ti… E depois disto me sinto só, não a vejo no Alto da Boa Vista, nem na Rua do Lavradio, nem no morro de Santa Tereza, não a vejo mais, pois de repente somes como a lua encoberta por uma nuvem.

Então, só me resta voltar ao Cosme Velho e dizer isto a Assis. Certamente, ele me fará um poema que te darei ó minha amada, quando eu partir para estação Leopoldina e nenhuma imagem, desvario ou reflexão, trará uma lembrança qualquer tua, mas não me esqueço do seu sorriso no Largo da Carioca, nem nosso aperto de mão na Lagoa, juro que não, que não volto ao teu encontro no morro do Castelo, posto que não se preocupes comigo, pois só tenho o Rio agora e nem isto mais, pois não quero nada além de escrever, pois é o que sei fazer enquanto não trazes seu perfume e assim, te esqueço e te venero como se acaso uma ideia aparecesse, definida e bela, e era eco apenas de uma peça alheia, que a memória refletia, e que eu supunha inventar como invento você no meu Rio de Assis.

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