Como de praxe, não fui pra Esplanada neste 7 de setembro. Em 42 anos de vida, nunca ousei sair de casa e completar o percurso desértico entre a Biblioteca Nacional e a Praça dos Três Poderes. Já tentaram sustentar uma bandeirinha de plástico sob as lufadas de gente sitiada por uma grossa camada de pó advinda de uma grama seca e cinza?

O sol de Brasília, particularmente escaldante neste mês glorioso, me dá uma leseira diabólica, que faz com que meu corpo se lance, ainda que de forma involuntária, numa cadência preguiçosa somente controlada por sombra e água fresca do filtro de casa.

E para uma figura que por ossos do ofício deve se exibir, semanalmente, paramentado com terno e gravata de seda, não pode soar antipatriótico recorrer a própria preguiça para escapar da liturgia cívica de Brasília.

Pois cá estou, neste sábado, desfrutando da minha dhoti (saia indiana, para os nãos iniciados) e de todo e qualquer líquido estupidamente gelado, capaz de matar a sede criada pelo sal e a pimenta das sessões e reuniões solenes dos gabinetes e ministérios.

Pois, mesmo nesta leseira, não deixo de, entre uma bebericada e outra, mirar o céu e pedir para Jesus e todos os outros seres de luz que olhe para o Brasil. É que embora a coisa esteja nebulosa em todo o perímetro da Via Láctea, o clima abaixo dos trópicos me parece particularmente custoso. Pois aí vão os meus nove desejos:

  1. Que o livro analógico e digital seja introduzido na cesta básica do país;
  2. Que a prática da leitura seja reconhecida como geradora de emprego e mobilidade social;
  3. Que o brasileiro tenha o direito de usufruir da presença da biblioteca no bairro em que mora;
  4. Que as bibliotecas públicas do país optem por acervos visibilizadores da diversidade, motor de justiça e paz;
  5. Que a biblioteca escolar, garantida por meio de lei ordinária, se torne realidade em todos os nossos municípios;
  6. Que os bibliotecários brasileiros se preocupem por políticas públicas tanto quanto se interessam por catalogação;
  7. Que a liberdade de expressão nunca seja definida como de “direita” ou de “esquerda”, mas como direito constitucional inalienável;
  8. Que a Frente Parlamentar Mista do Livro, da Leitura e da Escrita, a ser lançada na próxima semana, resista ao jogo binário, congregando deputados e senadores de todas as legendas em prol de um Brasil letrado;
  9. Que todos nós, autores e leitores, combatamos as práticas de censura, ainda que discordemos das ideias disseminadas.

Isso é pedir muito? Seguramente. De todo modo, o que se pode esperar de um bibliotecário além de uma lista de desideratada presunçosa? Feliz dia da independência pra todos!

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