Se existe algo inquestionável é a ideia de que o Brasil sempre foi um país alegre. Em nossa cultura, tudo é motivo para festa. Em ritmo de Copa do Mundo a cena se repete: Ruas decoradas com bandeiras, calçadas pintadas e pessoas se reunindo nos bares, nas praias, nos botecos para ver o tão esperado jogo. O verde e amarelo dos murais dão um colorido artístico. O Brasil grita! Geme! Canta! E  xinga! …Até que um gol do país rival seja feito,  dando lugar a um ar de tristeza tão intenso que não se pode dizer que o  nosso sangue não é o da Pátria Mãe Gentil.

Mas para entender um pouco de futebol, conhecer a história tem sua pertinência em nossa cultura.  Segundo relatos de Mario Filho, o jogo de futebol como é jogado hoje, tem suas origens na Inglaterra. Em 1175 já havia registros em algumas obras inglesas de um jogo, disputado no período dos feriados nas cidades, cujos habitantes corriam atrás de uma bola de couro no meio das ruas. No entanto, foi em meados de 1855 que o futebol foi oficializado como jogo, quando o primeiro time e as regras do jogo foram legalizadas na Inglaterra. Porém, em 1894 quando Charles Miller retornava dos seus estudos na Inglaterra carregando na mão uma bola de futebol desembarcou em São Paulo, difundindo o esporte no Brasil. Naquela época, o time elementar de futebol do país foi escolhido para o  São Paulo Athletic Club. O primeiro evento futebolístico demorou um ano para ser organizado, sendo disputado entre o time dos funcionários da Companhia de Gás contra o time dos funcionários da Estrada de Ferro São Paulo Railway que venceu a partida com o placar de 4 a 2.

O futebol se espalhou totalmente pelo Brasil em meados do século XX, sendo um dos fatores que facilitou a globalização e um dos mais poderosos elementos definidores da nacionalidade. Apesar disso, só  chegou no Rio de Janeiro depois de um tempo. O esporte que predominava na cidade era o remo. Mais tarde, o entretenimento começava a aparecer timidamente em alguns clubes, mas não havia tanta aceitação pela sociedade carioca, sendo fundado em 1902, o primeiro time de futebol do estado, o Fluminense Football Club. Logo depois, em 1904, foram fundados os times do Botafogo de Futebol e Regatas, do America Futebol Clube e do Bangu Atlético Clube. Essa modalidade esportiva teve um papel marcante para a inclusão do negro na sociedade, pois mesmo com a abolição da escravatura, a maioria da população negra da cidade era vista com preconceito e encontrava muita dificuldade em fazer parte da sociedade. O futebol tem sua parcela de contribuição para a inserção do negro, uma vez que a elite passou a “permitir” negros e afro-descendentes em campo.

O futebol era o esporte de rico, sobretudo da elite branca, e essa postura mudou completamente a sociedade brasileira. Os negros que eram “excluídos” da sociedade passaram a fazer parte dela. Isso partiu do ano de 1934, quando houve a convocação de dois jogadores negros para a Copa. Desde então, foi surgindo ídolos negros no futebol brasileiro, concorrendo para a identificação da população com uma seleção mestiça.

Podemos enxergar as características do visual do jovem brasileiro como uma pequena amostra representativa do país. A maioria de origem humilde, um ou dois de classe média. O afrodescendente da Bahia, o filho do imigrante europeu  do Sul, o outro de olhos puxados com origem indígena. Juntos e misturados, prontos para brilhar, nas palavras da cientista Janet Lever “um registro vivo do potencial da sociedade.” Opa! Pera lá… Mas isso tem seu preço, a marca de  carregar por toda a história o estigma do jogo trágico.  Os jogadores de futebol terão de lidar com a mídia no decorrer de todo campeonato!

O sociólogo Roberto Damatta dá um pontapé inicial para fomentar debates sobre: Quem são os brasileiros? Quais são seus pontos fortes e fracos? Qual o seu lugar no mundo? Isso não vai acontecer nos campos de futebol, deve ocorrer fora dos estádios para protestar contra os gastos públicos, contra o aumento do preço da gasolina, contra a corrupção, contra as drogas, contra a violência, as taxas altas de desemprego, precariedade da saúde pública…

Há dois meses o país parou por causa da crise do Diesel, consequência da política adotada pela Petrobrás, disparando com o preço do dólar  frente ao valor do real. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos apresentou um ofício ao governo solicitando congelamento dos preços, porém o que se obteve foi puro descaso e oposição das mídias televisivas.

Vivemos em uma luta de classes que precisa ser transformada em coisas mais concretas.  Quando nos deparamos com problemas relacionados à educação, escolas fechadas, ensino primário vergonhosamente pornográficos, hospitais que  deixam o pobre morrer na fila, precisamos nos perguntar: Para onde vai o dinheiro dos impostos?

Enquanto a história se faz em campo, a história da sociedade se faz fora de campo e um Brasil novo será tão brilhante quanto o verde-amarelo que decora as ruas.

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