No dia 31 de março, das 14 às 17h, foi realizado o 1º Seminário de Encontros com a Diversidade: Seminário sobre as diversas formas de protagonismo da mulher em nossa sociedade, pelo SESC – Rio de Janeiro, mais precisamente no teatro da Unidade São Gonçalo.
A plateia era composta em sua maioria por mulheres gonçalenses de todas as idades, inclusive alunos do Colégio Clélia Nanci, que forma professores primários. O evento trouxe para o público uma programação rica em informação e entretenimento. Iniciou com o Momento poesia com Maria de Freitas Ferreira. Em seguida à declamação, houve uma mesa redonda composta pelas representantes das Mulheres do Salgueiro (SG) e do Movimento de Mulheres em São Gonçalo, pela representante do SESC, Katiane Silva e pela doutoranda em Comunicação da PUC-RJ, Beatriz Beraldo. Após as explanações, houve um bate-papo com a plateia sobre o assunto comentado na mesa. Durante o bate-papo, abordou-se vários assuntos, como os direitos das mulheres, à violência, à discriminação que nós mulheres sofremos há anos dentro e fora de casa. Teve também uma peça teatral, um desfile de moda e um coffee-break.
Durante a mesa redonda, Beatriz Beraldo (PUC-RJ) tratou da questão do protagonismo feminino voltado para a mídia e a cultura. Iniciou a sua fala com uma mensagem da escritora francesa Simone Beauvoir (1908-1986, filósofa e feminista): “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Em seguida, mencionou que, infelizmente, durante anos, a mulher foi vista pela sociedade como segundo sexo, sempre atrás do homem, esta ideia vem sendo corroborada através da mídia em mensagens sublinhares, como nos anúncios, nas revistas, entre outros meios. Essa diferença entre os sexos tem inicio ainda na infância quanto aos brinquedos (a menina brincando de fazer comida e o menino com brinquedos para ser engenheiro, médico, etc) e modo de agir (meninas falando baixo, com pernas fechadas; meninos, aquele que deve ser o paquerador e que não pode ajudar em casa em atividades domésticas). Beatriz mostrou para a plateia que Feminismo não é o contrário do Machismo através de definições de diversos dicionários. Feminismo é um movimento que luta pela igualdade da mulher na sociedade com direitos iguais aos dos homens, porém, o Machismo não é um movimento, e sim, uma atitude apresentada por muitos onde o sexo feminino é sempre inferior. A sua tese de doutorado tem como foco a Marcha das vadias na mídia. Tal marcha teve início no Canadá, em 2011, quando uma universitária foi abusada sexualmente e o policial tentou justificar o ato do agressor pela roupa que a aluna se vestia. As alunas foram para as ruas em forma de protesto irônico com roupas provocantes. Este movimento ganhou adeptas pelo mundo todo e tornou-se bem agregador. O movimento protesta contra a ideia de que as vestimentas e o comportamento das mulheres justificam a violência (estupro) por seus agressores. Na verdade, elas buscam a autonomia de ser livre para usar o que quiserem. Colocou que a sociedade faz representações errôneas quanto à imagem de uma mulher feminista, que esta não liga para a estética, porém, ser feminista não impede a mulher de ser feminina. A doutoranda nos contou que durante uma das passeatas, conheceu uma garota negra que estava protestando durante a Marcha da Vadia. Essa garota relatou que, antes dela conhecer o preconceito racial, ela conheceu o machismo, dentro de sua própria família. Isto acontece quando certas frases são ditas como “Menino não chora.”;“Isso é coisa de menina.”; “Engole o choro”; entre tantas outras e com atitudes, tais como só as mulheres ficam na cozinha, enquanto os homens assistem ao futebol.
A representante do Movimento de Mulheres em São Gonçalo comentou sobre a existência do movimento no município e que, além da defesa das mulheres, elas lutam em defesa das crianças, dos idosos, dos deficientes, dos homossexuais, contra as desigualdades e as discriminações. É uma entidade sem fins lucrativos e de utilidade pública, que dá auxílio a 100 famílias e oferece cursos à comunidade. Falou também sobre a parceria que o Movimento tem com a Fundação para a Infância e a Adolescência (FIA/RJ) e que coordena o NACA (Núcleo de Atenção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Maus Tratos) nas cidades de São Gonçalo, Niterói e Araruama.
O Movimento das Mulheres do Salgueiro (SG) é um movimento sem fins lucrativos e que também não possui vínculo governamental. Teve início a partir de uma creche comunitária em 2006, quando as professoras perceberam que as crianças passavam mal pela alimentação dada em casa, pois as mães tiravam o sustento no lixão. O movimento tem patrocínio da Coca-Cola e da Petrobrás. Possui o Projeto Rede Eco Sol: comércio justo e solidário, onde as mulheres da comunidade aprendem a profissão de costureira para serem empreendedoras. Com a parceria do SESC, as mulheres estão fazendo curso de corte e costura e de modelagem. O movimento vende roupas e artesanato feitos por elas. A representante enfatizou que “Para transformar o mundo é preciso se transformar primeiro” e, é isto que o movimento tenta fazer, transformar a Comunidade do Salgueiro através da mudança de cada membro da comunidade e o que está gerando resultados positivos. Mencionou que a mulher sofre vários tipos de violência: a física, a moral, a psicológica/emocional e a financeira/patrimonial, e que muitas de nós, já sofremos essas agressões e que nem temos noção por estarmos numa sociedade machista. Ela finalizou a sua apresentação com a seguinte frase “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem” (Rosa Luxemburgo, 1871-1919, filósofa e economista marxista).
Quanto ao teatro, a peça Amanheceu, um monólogo apresentado pela atriz baiana Juliana Bebe é protagonizada por uma senhora idosa, costureira que, inicialmente, demonstra alegria, debate assuntos do nosso dia a dia e possui muitas atitudes de pessoas idosas. Inclusive durante a peça ouvi duas senhoras cochichando que estavam se identificando. De repente, a peça torna-se dramática quando o assunto se volta para a violência sexual, onde esta se vê diante de uma situação que a fez relembrar que ela também já havia sido violentada. O público ficou bem comovido e a peça foi bastante aplaudida. A maioria da plateia nunca tinha ido ao teatro e teve a primeira oportunidade de assistir a uma peça. Ao final, a atriz comentou um pouco da sua história e finalizou com a seguinte fala “Mais amor, por favor, e para sempre.” Clique aqui para assistir um pequeno documentário sobre a peça.
Em seguida, foi homenageada Rosângela Sá, moradora do bairro do Salgueiro, que foi vítima de seu ex-marido que atirou em seu corpo 2L de gasolina, em 2009, provocando queimaduras em diversas partes do corpo. Este caso tornou-se internacionalmente conhecido. Veja a reportagem Organização Sueca visita Movimento de Mulheres em São Gonçalo. O depoimento dado por Rosângela Sá foi comovente. Ver o quanto esta mulher sofreu e o quanto ela está superando, apesar das marcas que o agressor deixou em seu corpo. Ela declarou: “Amo a vida. Não tenho vergonha das minhas marcas no meu rosto, quem deve ter vergonha é o agressor. Nada justifica a violência. Não aceite nenhum tipo de violência. Tenha coragem, mulher. Não tenha medo de ameaça. Denuncie.”
Por fim, teve o desfile de roupas do Movimento das Mulheres do Salgueiro (SG), feitas de retalhos de indústrias da cidade.
O SESC São Gonçalo vem configurando-se como pólo de informação, cultura, educação e entretenimento na cidade, pois este pólo possui o único teatro do município. Trouxe informação, conhecimento e entretenimento sobre o tema mulher, direito e violência através das palestras, do material entregue que destaca mulheres em vários segmentos da sociedade de forma cronológica, do depoimento da Rosângela Sá, da peça e do desfile. Valeu à pena ter participado de um evento que proporcionou emoções gerando muitas reflexões sobre a temática. Deu orgulho de ser mulher, pois somos guerreiras e de ver São Gonçalo com olhos de esperança num futuro melhor.