Desde março de 2020 estamos caminhando para a construção de um novo mundo que surgiu após a pandemia de covid-19, oriundo do isolamento social, do uso de máscaras, do home office, do ensino remoto, que com a chegada das vacinas, culminou em novas formas de nos relacionarmos. Diversas adaptações em nosso cotidiano foram necessárias a fim de mantermos o desempenho e produtividade de antes da pandemia.

Contudo, antes mesmo da pandemia muitas pessoas já se queixavam de amanhecerem cansadas, como se as noites de sono não fossem suficientes para restaurar e revigorar suas energias. Neste sentido, a pandemia de covid-19 somente agravou os sintomas de uma sociedade já adoecida mentalmente e exausta, que naturalizou uma cobrança excessiva por produtividade e resultados, sob o discurso de uma positividade, muitas vezes tóxica.

Com tanta pressão por performance e perfeição, doenças como a depressão, a ansiedade, o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, o transtorno de personalidade e a síndrome de burnout vieram à tona, prejudicando a saúde física e principalmente a mental, caracterizando-se como os principais males do século XXI.

No livro “Sociedade do cansaço”, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, o autor traça um panorama do mundo e realidade na qual vivemos, imersos num sistema que valoriza indivíduos inquietos e hiperativos, envolvidos em tarefas variadas, obcecados por trabalho e desempenho. O autor descreve a obsessão pelo trabalho como sendo uma das principais características da sociedade ocidental pós-moderna, um traço que pode deixar o indivíduo muito propenso a desenvolver doenças neurais, esgotamento e cansaço.

Han (2017) também afirma que a sociedade do cansaço existe pela ausência ou falta de repouso e que a civilização deste modo caminha para uma nova barbárie, sendo a sociedade atual caraterizada como hiperativa, porém de maneira vazia de ser e com uma positividade vaga e superficial. Portanto é ilusão acreditar que quanto mais ativos e produtivos formos mais livres seremos, pelo contrário, este modo de agir nos torna escravos e carrascos de nós mesmos.

A sociedade de desempenho, de acordo com Han produz depressivos e fracassados, à medida que estamos sempre nos cobrando por produtividade, não realizando o descanso devido, o qual afeta negativamente nosso bem-estar. Sendo assim, de certa forma as redes sociais influenciam a denominada sociedade de desempenho que vem a culminar na sociedade do cansaço. Embora as pessoas estejam cada vez mais conectadas digitalmente, paradoxalmente estão mais isoladas em si mesmas.

Os inúmeros estímulos oriundos do uso das tecnologias e mídias sociais favorecem que o indivíduo perca o foco e a atenção, e consequentemente o olhar contemplativo para a vida. Deste modo o envolvimento em múltiplas tarefas o torna com baixa concentração e uma atenção rasa e deficiente, dando lugar a inquietação e a sensação de sempre não dar conta de tudo que precisa ser feito.

Em tempos de excesso de positividade e uma busca incansável por produção é primordial conhecermos quais novos caminhos a humanidade está construindo, seja no âmbito profissional e/ou nos relacionamentos. Também é importante ter um olhar crítico sobre si e sobre metas e objetivos inalcançáveis, reconhecendo nossas limitações e imperfeições, sempre buscando formas de nos protegermos destas patologias que cada vez mais acometem os indivíduos na contemporaneidade.

REFERÊNCIAS

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. 2.ed. ampl. Petrópolis-RJ: Vozes, 2017.

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