Anna: Eu passei essa lição para as crianças. É um bom exemplo de pensamento científico, porque a música é pura matemática…

Rei: Acordes, formados por notas em intervalos de terças et cetera, et cetera

(do filme “Anna e O rei” versão de 1999)

Neste ano de 2012, junto com o início do período letivo, as escolas, públicas e particulares, deverão trazer em sua grade de matérias um espaço para a educação musical. Espera-se que isso ocorra em vista da lei nº 11.769/2008 que torna a educação musical obrigatória em todas as escolas, sendo o ano de 2011 o último do prazo para adequação.  A sanção dessa lei é um grande passo em um antigo debate: até onde a educação musical pode ajudar na educação formal?

De acordo com a professora Alicia Maria Medeiros, a música tem uma presença constante na vida da maior parte dos indivíduos: “A música faz parte da vida de todo ser humano. Antes mesmo de seu nascimento e, acompanhando-o por toda a vida, a música está presente nos mais variados momentos do ser humano”. A simples exposição de uma criança à música já pode fazer grande diferença em várias etapas do seu desenvolvimento como a comunicação, a audição e até mesmo na percepção de suas emoções.

A musicalização de estudantes vem nesse mesmo viés de desenvolvimento de capacidades, mas, uma vez que, é feita de maneira a trazer resultados práticos planejados, pode ser utilizada de forma mais racional e eficiente dentro das escolas e ocupar importantes papéis no processo de ensino-aprendizagem. Isso pode ocorrer desde uma maneira indireta, fomentando o desenvolvimento, além das capacidades básicas citadas anteriormente, de habilidades sociais e conhecimentos culturais, até uma maneira mais direta, ajudando na concentração e no interesse do aluno pelo conteúdo formal.

A obrigatoriedade por lei da educação musical nas escolas não especifica como deve ser feita a sua ligação com as outras atividades escolares, mas ainda assim há incontáveis iniciativas de professores das disciplinas formais utilizando-se de recursos musicais como uma maneira descontraída de passar conteúdo e atrair o interesse dos alunos.

Embora a eficiência das canções criadas pelos professores para facilitar a absorção de conteúdos tenham algum tipo de durabilidade mágica na mente dos estudantes, levando suas lembranças por muitos anos além do ensino médio, a participação da música no aprendizado está muito longe de se resumir a isso. A música tendo um fim em si mesma ou se estendendo para suas interpretações traz grandes possibilidades pedagógicas em sua bagagem cultural e história, na sua natureza matemática e até mesmo na sua contribuição para a coordenação motora. O caráter interdisciplinar na educação musical é um dos principais trunfos para que as capacidades desenvolvidas possam ser empregadas de maneira eficiente em outras disciplinas. Para isso é preciso que ela seja trabalhada de maneira adequada tanto nas aulas exclusivamente de música quanto em trabalhos realizados junto a outras disciplinas. O sucesso e os bons resultados dessas ações interdisciplinares dependem em grande parte de que os profissionais atuantes estejam devidamente preparados. “A questão do universo musical utilizado pelos educadores musicais exige um mínimo de conhecimentos a serem adquiridos e apropriados em sala de aula para que possam ser trabalhados no atendimento dos interesses e necessidades dos alunos, inclusive com a possibilidade de modificação e renovação.” afirma a professora Alicia Maria.

Outra faceta da educação musical pode ser no incentivo à permanência no ensino formal. Nessa rota existem vários projetos que têm como elemento principal e que trazem como objetivos a frequência dos participantes à escola. Um exemplo disso é A Escola Olodum, que preza não só pela manutenção dos jovens na educação formal, como também desenvolve iniciativa para formação de profissionais capazes de ministrar conteúdos voltados para História e Cultura Afro-Brasileira. Mara Felipe, coordenadora pedagógica da escola, nos conta que através do uso da música pretende-se “interagir na formação de cidadãos conscientes e capazes de enfrentar as desigualdades, rompendo as armadilhas dos preconceitos raciais e sociais garantindo o espaço participativo, radicalizando a democracia e a conquista de direitos no combate às exclusões”.

Essa discussão traz ainda pontos que extrapolam os limites da questão educacional, alcançando uma magnitude da cultura como um todo. O ensino da música traz à tona costumes culturais, fatos históricos e debates sobre inclusão, pois o Brasil é “uma nação multirracial e pluriétnica, de notável diversidade cultural, [e] a escola brasileira ainda não aprendeu a conviver com essa realidade” conforme nos conta a professora Mara Felipe.

A educação no país passa por momentos de avanço desde a última década, apesar de ainda não ter recebido a atenção necessária para que alcance de fato a qualidade que o país necessita. A educação musical é, sem dúvidas, um dos componentes que precisa ser levado em consideração na batalha pela qualidade de ensino e, para isso, é essencial que a questão do ensino da música nas escolas seja valorizada. Nas palavras da professora Alicia Maria, a educação musical “deve ser entendida, reconhecida e respeitada como área de conhecimento”.

Para saber mais: O ensino de música na escola fundamental.

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