RIO – Marcelo Lima, sócio proprietário da Biblioart, empresa do ramo de conservação e restauração de acervos bibliográficos e documentais, é formado em Biblioteconomia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É especialista em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia e em Gestão e Preservação do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde – Patrimônio Documental. Conservador-Restaurador Membro da Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais (ABRACOR). Tem trabalhos publicados na área de conservação e restauro. Nesta entrevista ele fala sobre a empreitada de tocar uma atividade que ainda está em vias de se consolidar no Brasil.

Chico de Paula: Marcelo, como surgiu a ideia da empresa?

A ideia surgiu a partir da identificação do número limitado de empresas especializadas em conservação e restauração de acervos bibliográfico-documentais, bem como em obras de arte em suporte papel. A ideia inicial era a constituição de um ateliê onde eu pudesse dar continuidade às práticas técnicas adquiridas nas instituições pelas quais eu passei. No início fomos desenvolvendo alguns trabalhos esporádicos. A demanda foi aumentando, principalmente pelo fato de sermos indicados a outras instituições pelos nossos clientes. Começamos a ser conhecidos pela qualidade técnica do nosso trabalho. A princípio comecei a trabalhar sozinho. Hoje mantemos uma equipe constituída por cinco conservadores/restauradores com certificação técnica.

C. P.: Que dificuldades você encontrou ao longo do caminho?

Não passamos por grandes dificuldades. No início não éramos uma empresa, mas apenas um ateliê onde realizávamos pequenos trabalhos. A constituição da empresa em 2007 ocorreu devido ao grande número de solicitações de proposta para tratamento. Recebemos um convite para higienizarmos a Biblioteca Municipal de Quissamã [município do interior do Rio de Janeiro] e para tal foi necessária à constituição legal da empresa.

C. P.: Quais os são produtos e/ou serviços que a Biblioart oferece hoje?

A Biblioart hoje é uma empresa consolidada no mercado com o tratamento de mais de 50 acervos entre: bibliotecas, arquivos e museus.   Trabalhamos em acervos significativos de valor histórico e artístico. A Biblioart oferece os serviços de consultoria para elaboração de planos de conservação preventiva ainda com gestão de preservação em acervos.  Temos larga experiência em tratamento de acervos raros e preciosos. Nas áreas técnicas oferecemos todos os serviços relativos à conservação e restauro: higienização de acervos; restaurações de livros e documentos; encadernações; restaurações de encadernações; tratamento de acervos fotográficos; obras de arte sob papel; plantas em papel vegetal, mapas, gravuras, desenhos, entre outros.

C. P.: Existe um mercado apto a esses serviços?

Sim, um mercado crescente, devido principalmente à conscientização da importância da preservação do patrimônio cultural.

C. P.: E você sempre teve uma disposição pessoal e depois a sua carreira profissional contribuiu para que de alguma forma você seguisse esse caminho?

A descoberta da conservação foi também a descoberta de uma grande paixão. Eu decidi que eu seria conservador/restaurador. Para isso, desde o ano de 2002 eu participo de todos os eventos relacionados. Durante minha formação, passei por grandes instituições onde aprendi tudo o que sei: Arquivo Público do Estado; Arquivo Nacional; Biblioteca Nacional; Fundação Casa de Rui Barbosa. Tive a sorte de conhecer e ter trabalhado com pessoas que fazem parte da história da conservação no Brasil, e hoje ser reconhecido por eles. A área de conservação e restauro me possibilitou também conhecer pessoas extraordinárias como profissionais e principalmente amigos.

C. P.: Marcelo, você acredita que o poder público tem despertado para essa questão das bibliotecas, das obras raras e mesmo para a questão das memórias sociais? Como é que você enxerga essa questão?

O cenário hoje é muito diferente de nove anos atrás. Podemos identificar um relativo aumento nas solicitações. Há três anos começamos a realizar um número significativo de consultorias na área de conservação preventiva. Isso mostra uma conscientização da importância de se conservar para evitar a restauração, o que deveria ser critério para todas as bibliotecas. Quando é necessário restaurar, pressupõem que os livros passaram por condições inadequadas de guarda; significa na maioria das vezes que os acervos não estão sendo tratados da forma correta, e logo se verificar a necessidade de intervenção em dezenas de itens da coleção. O importante é se pensar na conservação preventiva para que desta forma seja possível à qualidade de toda a coleção ao passo que na restauração o tratamento é individual.  No entanto, não é para comemorarmos o panorama atual. Ainda esta muito distante do desejado. Verificamos diariamente centenas de livros destinados à destruição. Elaboramos dezenas de propostas e verificamos a frustração dos nossos colegas bibliotecários, arquivistas e museólogos, cientes da perda, porém, sem nada poderem fazer. O patrimônio cultural precisar ser preservado e a conscientização deve partir de todos os responsáveis. O poder público esta gradativamente entendendo esta necessidade e acredito que estamos no caminho certo. Devagar, porém certo.

C. P.: Como é que se faz para contatar a Biblioart?

Trabalhamos da seguinte forma: a partir do contato realizamos uma visita técnica sem custo à instituição. Elaboramos e enviamos uma proposta de tratamento com todas as informações necessárias: estado de conservação, níveis de degradação, proposta para tratamento, materiais a serem utilizado, forma de tratamento, preços e etc. Caso seja aceito, retiramos os itens do acervo, transportamos, tratamos e devolvemos. A Biblioart pode ser contatada pelos telefones (21) 26180868 e 91510673 ou através do nosso site www.biblioart.com.

C. P.: Marcelo, a gente agradece a sua entrevista e se você quiser fazer as considerações finais, o espaço está aberto.

Primeiro eu gostaria de agradecer o convite para falar para meus colegas de profissão. Sinto-me honrado. Gostaria também de atentar para a importância da conscientização da preservação de nossos acervos.  A destruição dos livros se dá não somente pelos agentes de degradação, mas também, pela indiferença, falta de cuidado, atenção e principalmente pelo desconhecimento. Enquanto bibliotecários ou qualquer outro profissional responsável por acervos, temos da mesma forma a responsabilidade com sua preservação e permanência.  Através da conservação preventiva é possível retardar significativamente a destruição dos livros. Importante lembrar que os livros e documentos possuem uma degradação natural e esta degradação é acelerada pelos diversos agentes. Com um pouco de cuidado e conhecimento é possível a aplicação de medidas que ajudam a conservar, muitas delas com custos baixos ou até mesmo sem custo financeiro, no entanto, com muito esforço e força de vontade.  Através da internet é possível pesquisarmos sobre o assunto: conservação preventiva. Podemos identificar centenas de publicações a respeito. Se cada um de nós, parar dez minutos que seja por dia e lermos algum texto, a contribuição será valiosa. Ainda atento para o fato de que algumas medidas por mais cheias de boa vontade causam danos irreversíveis aos documentos, neste sentido, nunca realizem nenhum tipo de intervenção em livros e documentos sem o devido conhecimento. Na conservação preventiva, como já informado, é possível intervir, como por exemplo: tirando um vaso de planta dentro do ambiente do acervo; mudando as estantes de posição para não serem incididas pela luz, aplicando cortinas, limpando os ambientes de guarda, ainda conscientizando os usuários no manuseio correto e tantas outras atitudes. No entanto, para conservação e restauro é indispensável à contribuição de um profissional especializado. Nunca tente colar um livro, colocar fitas adesivas e tudo o mais, qualquer processo interventivo deve ser realizado por profissional qualificado, sem conhecimento o melhor tratamento para um livro com problemas é deixá-lo guardado do jeito que se encontre até que se possa consultar um profissional, caso seja possível a contratação de um profissional, solicite certificados de qualificação técnica; perguntem os trabalhos que já tenham realizado; os materiais a serem utilizados, obtenham o máximo de informação possível, certifiquem-se de que seus acervos estarão sendo tratados da forma correta. Com comprometimento, estudo, carinho, atenção, dedicação, apelo, e amor conseguiremos prolongar a vida útil dos nos acervos e garantir que nosso filhos possam ter acesso a obras que guardaremos para eles.  Obrigado!

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