Eu tinha acabado de completar três anos de idade quando o filme “Ghost: Do outro lado da vida” (1990), do diretor Jerry Zucker, ganhava a telona e o coração do público em meio à Guerra do Golfo, à reunificação da Alemanha, a eleição direta do presidente Fernando Collor de Mello, destituído do cargo em 1992, à morte de Cazuza e vitórias esportivas.

A história do banqueiro Sam Wheat (Patrick Swayze), assassinado na frente da namorada pelo que acreditava ser um ladrão de carteira, não fazendo a passagem para o outro plano por questões mal-resolvidas e pelo amor que sente por Molly (Demi Moore), conquistou em cheio a audiência dos anos 1990.

Durante mais de duas horas de filme, somos espectadores dos esforços do espírito de Sam na tentativa de comunicar-se com Molly, desejando avisá-la dos perigos que corre e sem poder de atuação em um mundo que não lhe pertence mais. Antes de morrer, Sam estava em um excelente momento da vida: havia conquistado mais espaço no trabalho, mudado para o mesmo apartamento com a amada e protagonizado a famosa e sensual cena de amor em meio à argila e vasos inacabados de cerâmica.

Depois de sua morte, Molly permanece melancólica e confusa, recebendo visitas do amigo do casal, o cínico Carl (Tony Goldwyn). Quando Sam descobre a verdade sobre o seu assassinato, acaba topando com a trambiqueira Oda Mae Brown (Whoopi Goldberg), cujo ofício de vidente servia apenas para enganar pessoas. O fato é que Oda Mae é efetivamente médium, e Sam aproveita a oportunidade de comunicação para fazer uma ponte com Molly e tentar salvá-la.

Sam Wheat (Patrick Swayze) e Molly (Demi Moore) no filme Ghost. Foto: Divulgação

Além do romance e do drama, a comédia do filme fica por conta de Whoopi Goldberg no papel da vidente. Seu desempenho foi bastante elogiado pela crítica e, apesar dos estereótipos que levanta, é uma personagem divertida e que carrega o espectador pelo filme sem derramar tantas lágrimas.

Disponbilizado no catálogo da Netflix, o sucessso de bilheteria volta para um público 29 anos mais velho – ou muito mais novo -, rememorando o romance e a trilha sonora marcante (desafio alguém que assistiu Ghost a tentar pensar na música “Unchained Melody”, na versão da dupla The Righteous Brothers, sem associar ao filme).

Acumulando diversas premiações e indicações, além de alavancar a carreira dos atores, especialmente de Demi Moore e Whoopi Goldberg, até então desconhecidas do grande público – Patrick Swayze já trazia na bagagem ‘Dirty Dancing’ (1987), “Ghost: Do outro lado da vida” continua prendendo nossa atenção por tratar de temas como a existência após a morte, até que ponto espíritos conseguem perceber aqueles que ficam, qual é o destino dos “bons” e dos “maus” e açucarando nosso café com narrativas sobre amor atemporal.

Se você, assim como eu, assistiu ao longa ainda criança mas segue impactado, essa é uma boa oportunidade de dar mais uma chance para um clássico do cinema e, óbvio, retrato de uma época. Se o seu registro de nascimento caminha a largos passos do lançamento do filme, não perca a chance de vê-lo e descobrir porque certas tramas persistem além-tempo.

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