Por Tássia Di Carvalho, do O Dia.

Bibliotecas-Parque: projeto que era a menina dos olhos da gestão Sérgio Cabral sofreu readequações esta semana.

Grupo de Valsa Noite e Encantos que ensaiava na Biblioteca da Rocinha há três anos não sabe se poderá continuar após redução do horário Foto:  Fernando Souza / Agência O Dia

Grupo de Valsa Noite e Encantos que ensaiava na Biblioteca da Rocinha há três anos não sabe se poderá continuar após redução do horário
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia

O corte de verbas no governo do Estado afetou diretamente a Cultura. As Bibliotecas-Parque, projeto que era a menina dos olhos da gestão Sérgio Cabral sofreu readequações esta semana. Desde o dia 14, anúncios afixados nas paredes das unidades Rocinha, Manguinhos, Niterói e Centro avisavam os novos horários: de terça a sexta das 12h às 18h30, antes o horário era de terça a domingo, das 10h às 20h e flexível para projetos das comunidades.

“Estamos superindignados. Ensaiávamos terças, quintas e sábados a noite. O que vamos fazer agora? Vamos para a rua?”, se questionava Alexander Izaias, 35, coordenador do Grupo de Valsa Noite e Encantos. Há seis anos, Alexander dava aulas para os jovens de 14 a 27 anos, há três usava a Biblioteca da Rocinha. “É a faixa etária em maior risco social. Cadê o apoio do governo?”

Alexander afirma que na Rocinha não há outro espaço que possam usar e que a maioria de seus alunos estuda ou trabalha, por isso não pode ensaiar durante o dia. “Temos 20 apresentações em festas de debutantes este ano, além de um festival em maio e outro em julho e não podemos ir sem ensaiar.”
A preocupação é partilhada por Yasmin Guimarães, 18, moradora da Cruzada São Sebastião, que dança há três anos. “Eu deixava de sair para estar aqui na biblioteca, o que vou fazer agora?”

Além dos novos horários, usuários apontam também a redução no quadro de funcionários desde o ano passado. “Cortaram seguranças, funcionários de limpeza o problema não é só o horário”, denuncia Antônio Carlos Firmino, 48, fundador do Museu Sankofa.

Estado terceirizou gestão

Desde o início do ano, a gestão das bibliotecas-parque está sendo feita pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). Procurado pelo DIA, nem a empresa nem a Secretaria de Estado de Cultura responderam sobre a readequação do horário, nem apontaram um motivo para a mesma. Além da Rocinha, as outras unidades da rede em Manguinhos, Niterói e Centro também sofreram ajustes. Em sua página no Facebook, a Biblioteca Parda Rocinha justificou a mudança com cortes financeiros.

“O horário de funcionamento da rede de bibliotecas-parque está passando por um ajuste provisório (de terça a sexta, das 12h às 18h30), compatível com o atual cenário de restrição orçamentária. Assim que a situação for normalizada, anunciaremos os novos horários”, dizia a nota publicada na rede social na última quarta.

Anistia Internacional critica estado

Segundo Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional, o governo do estado está retrocedendo em uma política que estava atingindo a juventude positivamente. “É inadmissível que equipamentos culturais e educacionais sejam desmontados quando deveriam estar sendo ampliados.”

Para Atila, o potencial de criatividade, beleza e inteligência existente nesses territórios precisa ser estimulado e apoiado, valorizando as iniciativas já existente e criando novas oportunidades. “Os adolescentes de territórios periféricos e favelas carecem de oportunidades de acesso ao lazer, cultura e educação. É um grande retrocesso.”

ONGs ficam sem sede

Todos os projetos da Rocinha que não possuem sede usavam a estrutura da biblioteca para reuniões, apresentações e aulas. Segundo Antônio Carlos Firmino, 48, fundador do Museu Sankofa, que investiga a história da favela, a redução no horário da biblioteca prejudicou o grupo, que se encontrava lá. “Não dá para falar que o problema está no horário. O governo não valoriza a cultura.”

Fundador do jornal ‘Fala Roça’, Michel Silva, 20, teme que com a re dução, os jovens parem de ler. “Quando chegarem lá e virem fechada vão acabar perdendo o interesse pela leitura.”

A sensação de abandono também é compartilhada pelos moradores de Manguinhos. Segundo Raphael Santos, 26, do jornal ‘Fala Manguinhos’, aos fins de semana os jovens que aproveitavam a unidade estão abandonados. “Me preocupo com eles, já dizia o velho ditado: mente vazia é oficina do cão.”

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