Pluralidade e simplicidade, essas são as melhores palavras para definir felicidade. Somos doutrinados de tal forma pelas instituições sociais que tudo que foge ao padrão merece ser morto, massacrado e abolido.

Eu não lembro bem quanto eu tentei mudar minha grafia, me lembro de que ela era a fealdade encarnada! Eu escrevia em cursiva e, às vezes, nem eu entendia o que anotava. Dois amigos esse mês me fizeram recordar disso, um falando do esforço que fiz para voltar a aprender a escrever em letra de forma e o outro pelo hábito que adquirir na infância e nunca perdi: não uso ponto em cima do i, eu simplesmente faço uma bola.

Tentei encontrar algo escrito por mim dessa época, só pra ilustrar a evolução e que não é exagero, contudo após tantas mudanças de casa, meu passado se esvaiu para a lixeira, literalmente. O fato de não fazer um i com ponto e sim com bola foi o epicentro de inúmeras divergências com professores. Hoje olho pra esse ponto obeso nos meus “is” como uma medalha da luta da inocência contra a doutrinação autoritária… (exagerado né?!! Sempre fui assim).

A ideia central desse texto é sobre rigidez com que vemos as coisas em inúmeros aspectos da vida, não temos tolerância e bradamos em alto e bom som: não posso aceitar isso!

Nosso registro intelectual passou por inúmeras transformações. O início dos nossos registros foi com pictogramas (a pintura do que dizer); passamos para ideogramas, usados até os dias de hoje por alguns povos, como o chinês e japonês; até finalmente o alfabeto fonético, onde não seria preciso decorar como se faz cada desenho, mas a representação de poucos símbolos com som do que queremos dizer.

Esse pequeno ponto, que muitos sofreram pra se adequar, em primeiro lugar nem sempre existiu.  Segundo uma fonte dúbia de confiança, chamada internet:

ancestral fenício do nosso I, yod, significava “mão dobrada sobre pulso aberto de xerxes”. O símbolo original fenício com o tempo assumiu a forma de zigue-zague e foi adotado pelos gregos, como era uma tendência grega simplificar os desenhos fenícios, o zigue-zague se tornou uma linha reta e passou a se chamar iota (ι), que representava os sons de y e i.

 

Pode-se dizer que os gregos (sempre eles), ao introduzirem vogais no sistema de escrita, desenvolveram o primeiro alfabeto moderno. O abecedário romano, empregado até hoje, derivou do alfabeto grego. Para os romanos o iota representava os sons de i e j. Inicialmente existiam apenas as letras capitais (maiúsculas), as minúsculas correspondentes surgiram na Idade Média. Seu uso cursivo, com ligaduras entre as letras, modificou bastante sua forma gráfica e aumentou a diferença entre i e j.

A mudança maior nas letras ocorreu quando a Escrita Carolina foi introduzida como o que hoje chamaríamos «Corporate Typeface» pelo imperador Carlos Magno (768–814), e propagou-se rapidamente não só no enorme território do reino franco, mas também por todo o Ocidente cristão. Com o apoio incondicional do imperador Carlos Magno, houve uma campanha de literacia e uma «escrita unificada». A partir de 819, a Carolina foi introduzida com sucesso na maioria das chancelarias, scriptoria e escolas de escrita do reino franco. Com poucas exceções, como a Irlanda, a Carolina expandiu-se rapidamente em toda a Europa Central. Depois da romana, foi à nova «escrita universal».

Até século XII, o j não se diferenciava do i. Nos manuscritos medievais, fez costume alongar a letra i especialmente quando inicial. Ajude-me agora o leitor mais sábio. O ponto no i foi introduzido um pouco mais tarde, principalmente para diferenciar o “i” do “u” quando escritos em cursiva e juntos. Foi uma evolução natural , assim como a extinta trema, usado em diversas línguas para alterar o som de uma vogal ou para mostrar a independência dessa vogal em relação a uma vogal anterior.

Se a História de um simples ponto pode ser tão rica e plural, porque queremos sempre que todas as coisas sejam do jeito que vemos? Deixe simplesmente elas serem…

Excelentes exemplos de Escrita Carolina, online na Biblioteca de Lyon:
http://florus.bm-lyon.fr/
http://www.ceec.uni-koeln.de/

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