No dia 12 de março é comemorado o dia do bibliotecário e este ano a nova gestão do Conselho Regional de Biblioteconomia da 7ª região (CRB-7), eleita recentemente, incentivou as instituições do estado do Rio de Janeiro a comemorarem o dia do bibliotecário durante todo o mês de março.
Os bibliotecários da Biblioteca Central do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense (BCG/SDC/UFF) organizaram um evento cujo tema foi Biblioterapia (Bíblio + terapia, que significa o cuidar das emoções e sentimentos através de literatura selecionada). Embora não seja um tema novo, este ainda é pouco explorado na formação acadêmica e muitos desconhecem esse ramo para atuar. No 1º andar da BCG, uma mesa foi organizada sobre o tema onde estão expostos livros, alguns trabalhos de conclusão de curso da Universiade e periódicos do acervo da biblioteca.
O evento contou com a participação da professora Nanci Nóbrega, pós-doutora em letras pela PUC-Rio, professora de biblioteconomia aposentada da UFF e pesquisadora do Instituto Interdisciplinar de Leitura/Cátedra UNESCO de leitura PUC-Rio. Esta comemoração aconteceu na última segunda-feira, dia 19 de março de 2018, na Sala Paulo Freire, no Bloco D da Faculdade de Educação (Campus Gragoatá, UFF).
Além dos bibliotecários e alunos das instituições (UFF, UFRJ e Unirio), o evento contou com a presença da psicóloga e biblioterapeuta Cristiana Seixas, que é mestranda em Educação/UFF e autora do livro Vivências em Biblioterapia: práticas do cuidado através da literatura. Estavam presentes também Débora Ambinder, superintendente de Documentação (SDC/UFF), Ângela Albuquerque de Insfrán, chefe da Biblioteca Central do Gragoatá (BCG), e Marcelo Marques Oliveira, presidente do CRB-7.
Na abertura, a importância do profissional foi mencionada em diversas áreas e, principalmente, nas universidades, estando presente em todos os lugares da instituição, principalmente, nas bibliotecas universitárias. O presidente do CRB7 fez um breve relato de experiência na Biblioteca Popular Municipal Aguinaldo Pereira de Macedo, na Vila Ipiranga, em Niterói. Lá desenvolve um projeto com idosos, onde há o Clube de Leitura (leituras de livros infantis carregadas de emoções e sentimentos, como o livro A cidade dos carregadores de pedras) e outras atividades como assistir filmes e passeios em museus.
Nanci proferiu a palestra Biblioterapia: a leitura como cuidado, onde a biblioteconomia foca no social, pois a Biblioterapia é o compartilhamento de leituras com o outro; é quando acontece o diálogo entre as pessoas e as leituras, sendo uma reconstrução constante do ser. Segundo a rofessora, a Biblioterapia é uma ação semelhante à mediação de leitura e diferente de performance de leitura.
A Biblioterapia é humanização. É preciso estar atento ao silêncio; para ter diálogo, é preciso escutar e olhar. A Biblioterapia é transdisciplinar e trabalha no plural (leituras e interpretações). Durante o trabalho de selecionar os textos, as perguntas: “Para que/quem? Por quê? Como?” são fundamentais, pois direciona a atenção e a intenção; é um trabalho de “bastidores”, onde seleciona ao mesmo tempo leitura para o ouvinte coletivo e o ouvinte individual, independente da idade: do bebê na creche ao idoso no asilo.
Nanci mencionou que “quanto mais leitor, melhor ledor”, é a leitura como um todo. Nesta hora, me remeteu ao pensamento de Paulo Freire “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, e compreendi quando a palestrante iniciou a sua apresentação fazendo uma singela homenagem ao educador e a vereadora Marielle Franco, como sonhadores que tinham como ideal transformar o mundo.
A professora participa de dois grupos de estudos de Biblioterapia: Grupo Ledores iiLer PUC-Rio e do AYTY (Ninho em Tupi Guarani). Comentou que nestes grupos as primeiras leituras literárias feitas são as narrativas tradicionais, aquelas com “Era uma vez…” e as facécias (que são histórias engraçadas, de deboches e às vezes cruéis).
Segundo ela, depois dessas leituras, inicia-se com os contos para ouvintes adultos e a literatura infantil para bebês e crianças. Após as leituras, há um trabalho da escrita que são os diários de bordo ou escrever poemas exteriorizando os sentimentos. Nesses grupos há duas regrinhas quando se realiza o trabalho biblioterápico: não se pergunta sobre a vida do outro e não se fotografa.
Nanci finalizou a sua apresentação com a seguinte mensagem: “Meu relato de experiência é este deslumbramento intenso, esta aprendizagem constante […] Esta ambição desmedida de transformação. Com o outro, com a leitura, com as narrativas, com nossas próprias singularidades, com os afetos. É nesta Biblioterapia/Biblioteconomia que acredito e dou fé.”