Por O Globo

Na manhã desta quinta-feira, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, anunciou oficialmente André Sturm como novo secretário de Cultura do município. Doria também falou sobre o Conselho de Cultura, que auxiliará na gestão da pasta, e será presidido pelo empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

Diretor do Museu da Imagem e do Som em São Paulo (MIS-SP) desde 2011, Sturm foi responsável por incrementar a programação da instituição, com a realização de grandes exposições como as dedicadas ao Castelo Ra-tim-bum, Stanley Kubrick, David Bowie, Tim Burton e François Truffaut. Ele também é dono de um complexo de cinemas no cruzamento da avenida Paulista com a rua da Consolação, o Cine Caixa Belas-Artes, e tem uma distribuidora de filmes, a Pandora.

Antes de chamar Sturm para o cargo, Doria havia consultado Boni, que recusou o convite sob a justificativa de que a mudança do Rio para São Paulo seria muito complicada. O empresário de telecomunicações, no entanto, ficou interessado no projeto e aceitou participar do conselho de notáveis.

Em entrevista a O GLOBO, Sturm fala sobre os desafios que vai enfrentar à frente da nova secretaria, entre os quais a gestão do Teatro Municipal e a manutenção da empresa de audiovisual do município, a Spcine.

Na segunda-feira, foi realizada na Câmara Municipal uma audiência pública sobre o orçamento para a secretaria de Cultura, que este ano ficou (até novembro) em R$ 636 milhões ou 1,81% do bolo total da administração municipal. Há um consenso de que esse montante deveria aumentar para 3%, mas também há divisões profundas entre produtores culturais da periferia e do centro. Como vai lidar com isso?

Eu fui convidado para assumir a secretaria de Cultura no sábado, o orçamento obviamente ainda não era do meu conhecimento. A discussão na Câmara Municipal foi feita na segunda de manhã e não me senti confortável para participar do debate. Vou lidar com que vier. Imagino que ainda em dezembro vou ter conhecimento da verba. Depois, vou montar um plano de trabalho e levar pro prefeito aprovar. É com isso que vamos trabalhar no ano que vem. Não podemos pensar que para trabalhar mais com a periferia temos de tirar recursos do centro. A discussão é outra: com os recursos que temos o que fazemos para render mais. Foi assim que trabalhei no MIS. Lá os recursos que a gente tinha eram exatamente os mesmos durante três anos. Dinheiro é a solução dos problemas, não o problema. Temos de pensar em ações que alcancem a população como um todo.

Atingir periferia, centro, programas mais eruditos, mais populares. Desenho disso na cabeça?

A palavra popular tem dois sentidos: no sentido de que muita gente vai e popularesco. Acho que não fiz nada no MIS que fosse popularesco. A preocupação sempre foi fazer uma programação de qualidade que conseguisse se comunicar com todos os públicos. Uma exposição do Stanley Kubrick não é uma exposição blockbuster. Ele morreu em 1999 e a mostra estava cheia de gente jovem, porque a gente fez de um jeito que comunicava com quem não tinha visto nenhum filme dele. Falei aqui hoje: se a gente levar Mozart para tocar na periferia mais longe e pobre da cidade, três minutos depois está todo mundo acompanhando com o dedinho. Mesmo sem nunca ter ouvido, porque aquilo comunica com a população. Partir do princípio de que nas periferia as pessoas só gostam de funk e axé é um equivoco completo. A gente tem que oferecer para a cidade todo o tipo de programação. É claro que algumas exigem mais conhecimento. Essas vão ser colocadas em seus lugares adequados. A secretaria de Cultura e a Prefeitura têm cerca de 100 equipamentos, entre bibliotecas e centros culturais, fora o Teatro Municipal e os mais conhecidos. Eu quero fazer das bibliotecas mini, mini mini-MIS. Não vamos só fazer atividades literárias nas bibliotecas. Eu quero levar música, cinema e dança para esses lugares.

Entre outros problemas que vai enfrentar está o Teatro Municipal, que foi objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) por parte da Câmara Municipal.

Não é o Teatro Municipal que é vítima da CPI. É a gestão de um cidadão que cometeu atos errados. O Municipal é um patrimônio da cidade espetacular, tem vários corpos artísticos. O prefeito está muito atento a isso, pediu que examine o caso. Agora, ele pediu que antes de hoje não fosse feito nada, para não colocar a carroça na frente dos bois. Vou visitar a secretária de Cultura, Maria do Rosário Ramalho, que se colocou à disposição. E começar a entender todas as questões. E o Municipal é uma delas, mas pra mim não é mais importante do que, por exemplo, as bibliotecas — eu adoro e quero torná-las pólos culturais na cidade. Claro que o teatro tem mais visibilidade por ser o que é, mas pra mim ele está na mesma linha de outros equipamentos da cidade.

Outra questão que tem suscitado muita discussão é a empresa de audiovisual do município, a Spcine, que tem apenas dois anos. Será mantida?

O prefeito gosta muito do que significa a Spcine, deu total apoio para que a gente a mantenha e, dentro do possível, expanda. Também deu autonomia pra escolher o novo presidente da Spcine. O secretário da Educação, Alexandre Schneider, é um amigo de anos, foi meu calouro na Fundação Getúlio Vargas. Então, estou muito feliz porque essa possibilidade de manutenção das salas nos CEU’s e até a ampliação está asfaltada para que aconteça. A empresa de audiovisual do município é um grande legado do atual prefeito, inquestionável. As pessoas que estão lá são muito talentosas, o atual presidente da Spcine, Alfredo Manevy, é meu amigo e colocou o cargo à disposição, porque tem outros planos de vida. Não teria nenhum problema de trabalhar com ele. De qualquer forma, estou na iminência de indicar um novo presidente. A maioria da equipe deve ser mantida.

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