Por Soraya Batista, do Portal UPP-RJ

A seleção dos livros foi feita em um mês de intensa pesquisa no acervo da Biblioteca Parque de Manguinhos / Bruna Basilio

A seleção dos livros foi feita em um mês de intensa pesquisa no acervo da Biblioteca Parque de Manguinhos / Bruna Basilio

Criada há três anos, a Companhia de Teatro Manguinhos em Cena está abrindo novos caminhos para além da Biblioteca Parque de Manguinhos (BPM). O desafio desta vez é a produção de audiolivros para atender ao público com deficiência visual que frequenta as bibliotecas do Rio de Janeiro com setores de acessibilidade.

O projeto, premiado pelo edital Fomento à Cultura Carioca, tem patrocínio da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro/Secretaria Municipal de Cultura, como parte do calendário de comemorações pelos 450 anos da Cidade, e vai gerar a coleção “Audiolivros da Biblioteca Parque de Manguinhos” com a gravação de 10 obras literárias escolhidas pelo grupo no acervo da Biblioteca.

A seleção dos livros foi feita em um mês de intensa pesquisa no acervo da BPM. O critério para a escolha das obras foi baseado na ideia de traçar um percurso afetivo e referencial do grupo Manguinhos em Cena relacionado ao acervo da Biblioteca Parque, priorizando livros que não tivessem exemplares no setor de acessibilidade dedicada aos deficientes visuais.

Haroldo Cesar, 53 anos, participa do Manguinhos em Cena desde 2012

Haroldo Cesar, 53 anos, participa do Manguinhos em Cena desde 2012

O resultado foi uma coleção, de títulos variados de autores brasileiros, que reúne poesia, novelas, peças de teatro e literatura infanto-juvenil. Entre os livros escolhidos, “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto, é a homenagem afetiva do grupo à comunidade, já que o autor nasceu e viveu na área de Jacaré e de Manguinhos.

Outro livro a ser gravado é “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes, que tem como cenário uma comunidade carioca, em uma homenagem do grupo aos 450 anos do Rio. Para o público infantil, a escolha foi “O homem que contava histórias”, das autoras Roseane Pamplona e Sônia Magalhães. O título foi trabalhado pelos atores do grupo no “Palavra Viva”, projeto que leva contação de histórias de autores brasileiros para crianças de escolas públicas da região de Manguinhos.

Para entrar em estúdio, os atores do grupo, que até então só tinham experiência em teatro, passaram por um curso de capacitação para a gravação com a atriz, dubladora, leitora, diretora e produtora de audiolivros Mônica Magnani.  Ao todo, 16 atores da companhia vão participar do projeto como leitores dos livros, sob direção de Ana Carina, atriz, produtora e uma das coordenadoras do projeto Manguinhos em Cena, que deu origem ao grupo em 2012.

Jorge Mathias, 53 anos, conta que se redescobriu no teatro

Jorge Mathias, 53 anos, conta que se redescobriu no teatro

“Estamos há três meses ensaiando as leituras, nos preparando para entrar no estúdio, sempre enfocando a experiência final do público que vai ouvir os livros: para eles, a voz dos atores será o guia para a construção de cada história ou poema em sua imaginação. É  uma experiência nova, em que os atores estão aprendendo uma linguagem de interpretação e mergulhando de maneira profunda no universo das palavras, buscando expressão e sutileza para alimentar a imaginação de quem vai ouvir os livros”, explica a diretora.

Haroldo Cesar de Castro, 53 anos participa do Manguinhos em Cena desde 2012  e foi um dos escolhidos para participar do projeto. Com sua voz grossa e imponente, ele participou da leitura do livro “Cordel”, de Patativa do Assaré e será o  narrador do livro “Não tenho culpa de que a vida seja como ela é”, de Nelson Rodrigues.

“Para mim, esse é um trabalho de muita relevância pelo objetivo que ele tem, de ajudar uma pessoa que não tem condições de ler a entender a história do autor. Você acaba fazendo parte  dessa energia, fazendo com que uma  pessoa entenda uma história que um gênio lá atrás criou. Isso é muito satisfatório.”

Jorge Mathias, 53 anos, também participa do Manguinhos em Cena desde sua criação, em 2012 e conta que se redescobriu no teatro. Agora ele está enfrentando o novo desafio de gravar audiolivros, que segundo ele é um trabalho prazeroso, mas que requer uma atenção redobrada.

O grupo gravou 10 obras literárias para o acervo da Biblioteca

O grupo gravou 10 obras literárias para o acervo da Biblioteca

“De todos os trabalhos que a gente já fez, esse é o mais bonito para mim. Nós estamos fazendo algo para essas pessoas que tem essa impossibilidade de não ter livros para ler. É uma responsabilidade muito grande e, ao mesmo tempo, temos que ter um cuidado muito grande. Não podemos simplesmente vender o livro, temos que ler de uma maneira que não vá causar uma má impressão”, explicou.

Os atores entraram em estúdio em maio deste ano e a previsão é de que a coleção seja lançada até o fim de 2015 e distribuída gratuitamente para 10 bibliotecas do Rio com setores de acessibilidade.

Todos os audiolivros estão sendo gravados no estúdio da Biblioteca Parque Estadual, em uma parceria institucional do Manguinhos em Cena com a Secretaria de Estado de Cultura, o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) e a rede de Bibliotecas Parque do Rio de Janeiro.

Relação completa de livros a ganharem as vozes dos atores do Manguinhos em Cena:

  1. “O homem que contava histórias”, de Roseane Pamplona e Sônia Magalhães
  2. “Não tenho culpa de que a vida seja como ela é”, de Nelson Rodrigues
  3. “O santo e a porca”, de Ariano Suassuna
  4. “Tratado geral das grandezas do ínfimo”, de Manoel de Barros
  5. “Baú de espantos”, de Mário Quintana
  6. “Cordel”, de Patativa do Assaré
  7. “Teatro de Arena: uma estética de resistência”, de Izaías Almada
  8. “Corpo Poético, uma pedagogia da criação teatral”, de Jacques Lecoq
  9. “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes
  10. “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto

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