Todo dia era dia de índio, mas agora eles só têm o 19 de abril, cantava Baby Consuelo a canção Curumim chama cunhatã que eu vou te contar (Todo dia era dia de índio) de Jorge Ben Jor em meados da década de 80. Mais de trinta anos depois o trecho dessa canção pode ser modificado para se adequar a realidade, mesmo com versos que continuam atuais mudaria a parte citada para, todo dia não é dia de índio, mas agora nem o 19 de abril eles têm.
A lógica do mundo atual é que com o passar do tempo e dos avanços científicos e tecnológicos é que as civilizações se desenvolvam e propague suas culturas. Principalmente com o avanço da ideologia da globalização, em que “todas as culturas” (generalização irônica) se integram e com uma ciência e conhecimento interdisciplinar, em que as áreas se misturam e compartilham suas teorias e pesquisas. Assim deveria ser com as diferentes culturas, a heterogeneidade deve ser preservada.
Esse avanço seguiu o rumo contrário com a civilização indígena, ao invés de integrar, separou e vem contribuindo para a devastação de uma cultura tão sábia e rica como a dos índios.
Estamos ensinando nas escolas de forma fragmentada que a cultura indígena se resume ao dia 19 de abril, basta consultar os livros didáticos que vai estar detalhado a figura de um índio em uma oca ou com vestimentas estranha totalmente desconectada com a História do Brasil e ao olhar dos estudantes.
Em nome da globalização neoliberal estamos ceifando o futuro indígena. Atualmente a mídia brasileira e os seguidores das ideologias de Cabral e Paes colocam os índios como invasores, a religião condena suas práticas como demoníacas, os governantes estão preocupados com a (PEC) 215 e na diminuição das terras indígenas.
Não resta muita saída para os índios na cultura da modernidade. Os princípios regidos pelo o que estão denominando como avanço é totalmente contrário a ideologia de vida indígena. No mundo dos índios não existe espaço para desmatamento, plantação de soja em larga escala, destruição de aldeias e muito menos construções megalomaníacas.
A terra para o povo indígena não é uma mercadoria, não é um produto de compra e venda. Para os índios a terra é vida, história. É onde foram enterrados seus ancestrais.
Hoje se você passar por uma escola vai ver grande parte dos alunos pintados e fantasiados de índios em atividades de comemoração do dia do índio, mas nas mentes desses alunos a cultura indígena não está contextualizada com a realidade. Talvez aqueles jovens que queimaram o índio Galdino também foram pintados em suas escolas para comemorar o 19 de abril.
Começamos o desenvolvimento tirando dos índios o pau-brasil, depois tentamos tirar a liberdade os escravizando, atualmente estamos tirando suas terras. A maneira mais fácil em destruir uma civilização é apagando a sua cultura e história, isso já começamos a fazer, o que vêm pela frente não precisa ser dito.
Hoje não é dia de índio.
“Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá
Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito…”
(UM ÍNDIO – CAETANO VELOSO).