Este ano, a Biblioteconomia Brasileira comemora 100 anos. O Decreto 8.835 de 11 de Julho de 1911 estabeleceu a criação do primeiro Curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional graças ao esforço de Manuel Cícero Peregrino da Silva, então diretor da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1900-1924 com intervalos). No entanto, as aulas só começaram em abril de 1915 por desistência dos inscritos, na época, funcionários da escola.

Em São Paulo, no ano de 1929, instalou-se no Mackenzie College o Curso Elementar de Biblioteconomia orientado pela bibliotecária americana Dorothy Muriel Gedds Gropp. Na época, este curso era voltado para os funcionários da biblioteca, professores e bibliotecários de outras instituições. Este curso encerrou suas atividades com a criação do Curso de Biblioteconomia do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, em 1936, criado por Rubens Borba de Moraes. No entanto, por questões políticas é fechado e, em 1940, encontra apoio na Escola Livre de Sociologia e Política onde reinstala o curso.

A Biblioteconomia no Rio e em São Paulo

Mas a grande polemica da época girava em torno das diferenças que havia entre a Biblioteconomia do Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro. As escolas eram guiadas por diferentes visões. Em São Paulo, a escola era basicamente técnica, influenciada pela Columbia University, enquanto no Rio de Janeiro a Biblioteca Nacional, fundamentada na escola francesa École de Chartes, mantinha suas raízes humanísticas, conservadora e enciclopedista.

Com a “americanização” do curso da BN, a instituição notou que os saberes até então ministrados não correspondiam mais às demandas das bibliotecas de órgãos públicos, nem das demais que sentiam a falta de técnicos especializados. Com isso, desde 1944 não há diferenças significativas entre os saberes ministrados em São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, supostamente, devia haver outras diferenças nas práticas e no modo de ensinar entre os dois estados, como bem ressalta César Augusto Castro em sua obra História da Biblioteconomia Brasileira. Na década de 40, com a expansão do ensino superior no Brasil. Ocorreu a criação ou anexação de Cursos/Escolas de Biblioteconomia por meio das Universidades, e também, reivindicações pela classe bibliotecária. Embora, o ensino fosse, a partir de então, ministrado em universidades, o nível cultural dos candidatos diminuiu consideravelmente, pois, o perfil dos estudantes de Biblioteconomia passou de intelectuais para ser de alunos que não obtiveram êxito em outros vestibulares e, também, a procura pelo curso de Biblioteconomia era inferior aos demais.

As décadas de 1950 e 1960 possibilitaram de forma acentuadas a descentralização dos profissionais do eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Também foi neste período que a profissão foi regulamenta e ganhou força com as ações do IBICT, FEBAB, ABEBD, Conselhos e Associações.

O primeiro Currículo Mínimo

Em 1962 foi estabelecido o primeiro Currículo Mínino de Biblioteconomia. Na época foi criada uma comissão formada por especialistas que elaboraram uma proposta ao Conselho Federal de Educação (CFE), que por sua vez não seguiu à risca as orientações dos profissionais da área aprovando um currículo que não agradou a todos.

As mudanças nas escolas começaram a partir de 1963, entretanto, elas não se limitavam a oferecer as disciplinas obrigatórias, incluindo em seus currículos plenos, outras disciplinas. Com o passar dos anos, Suzana Mueller (1988) observou que as disciplinas culturais eram demasiadamente amplas, no currículo de 1962, ocasionando em geral um conhecimento superficial e pouco significativo, frustrando a intenção da formação humanística.

Na década de 70, a área recebe seus primeiros periódicos científicos e a ascensão dos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) que proporcionaram avanços significativos para a Biblioteconomia, com ações que contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica da área.

A partir de 1979, por iniciativa da ABEBD, começou, novamente, a discussão sobre a necessidade de um novo Currículo Mínimo. Em 1982, foi estabelecido o novo Currículo Mínimo de Biblioteconomia. Mas, novamente, o CFE não aceitou todas as solicitações da comissão formada por acadêmicos, ocasionando, mais uma vez, descontentamento na área. Uma vez que “o currículo então vigente (de 1982), na opinião dos autores da proposta, representava uma barreira, especialmente, para as escolas de menores recursos”, ressalta Mueller.

Na década de 1990 os Currículos Mínimos deram vez às Diretrizes Curriculares Nacionais que não mais instituía a obrigatoriedade das disciplinas, mas sim orientava a organização dos currículos nas instituições de ensino. Até os anos 2000 observou-se uma absorção das novas tecnologias por parte da Biblioteconomia, tornando a carreira mais dinâmica e mais atrativa aos jovens desejosos de se inserir no mercado de trabalho, mas que ainda estavam indecisos sobre que carreira seguir. Nesse sentido, a biblioteconomia adentra o século XXI com uma cara bem diferente daquela de seus primórdios. É claro que isso não garante que a Biblioteconomia destes novos tempos será melhor ou pior, mas certamente será diferente.

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