Propuseram-me um fazer um texto direcionado a bibliotecários, estes e estas que intermediam um acervo-tesouro {Livros! Oba!} do público. Permitam-me, primeiro, que eu me apresente. Sou Getúlio Mac Cord, engenheiro, radialista, compositor, apaixonado pelo Brasil e autor do Livro Tropicália, Um Caldeirão Cultural.

Permitam que apresente meu Livro, lançado pela Editora Ferreira em 2011, resultado de 30 anos de labuta. O trabalho conta com capa de Elifas Andreato, prefácio de Tom Zé e orelha de Jards Macalé. Trata-se do resultado do sonho de um menino de 17 anos {Eu!} que queria descobrir qual era a dele, qual é a deste País-Nação Brasil e a relação entre os dois, e escolheu a Tropicália por ser este movimento muito rico culturalmente, envolvendo música popular, música erudita, teatro, artes plásticas, cinema, TV, empreendedorismo, moda e muito mais.

Você gosta e quer do Brasil? Prove, então, deste Caldeirão! A Tropicália foi iniciada em 1967, mas com base sólida no Modernismo de 1922 e na antropofagia cultural. A primeira partedo Livro é a história do movimento, o que propiciou seu acontecimento, sua eclosão, e caminhos que se seguiram. Eu tinha que escolher um ano para terminar e foi 1981, em plena abertura política e com a turma da paulicéia desvairada dando sinal de vida e (de novo) modernidade na MPB através da chamada Vanguarda Paulista de Arrigo Barnabé, Grupo Rumo, Premê e tantos outros. Tudo com a devida contextualização histórica de cada momento. A segunda parte, conforme já disseram alguns leitores, a mais “saborosa”, traz depoimentos históricos de pessoas direta ou indiretamente ligados à Tropicália. Os depoimentos são apresentados na primeira pessoa, dando uma verdade e um realismo que, modéstia à parte, tem agradado aos próprios depoentes como o exigente escritor, pesquisador de música e crítico musical José Ramos Tinhorão que, quando presenteei-lhe com um exemplar do Livro, foi direto para o índice e deste para seu depoimento. Leu-o de caboa rabo e disse: “Você escreveu muito bem. Eu continuo pensando exatamente isso.” Ou o diretor do antigo Teatro Jovem, aqui do Rio do fim dos anos 70, que dirigiu o histórico espetáculo Rosa de Ouro (que revelou Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Clementina de Jesus e outros) que me disse ao ler meu Livro: “Você acertou a mão, hein?!” O trabalho conta ainda com um “Frutos Tropicalistas”, a Discografia, eum Indice Remissivo e Onomástico, para estudos e consultas.

Minha geração {sou de 1961} foi essencialmente televisiva: Batman {Batmacumba iê-iê!!}, Flintstones, Jetsons, Manda Chuva… E, quando ele mandou a chuva, foi para o tropicalistas como Jorge Mautner, este Deus da Chuva e da Morte. Mautner nem tinha ligação direta com o movimento que ajudaria a cultivar. Mas, “comunista de carteirinha”, LIA E LÊ MUITO, assim como um pessoal da família “comunista” de outro tropicalista, Tom Zé, que com isto ganhou o ótimo hábito de LER, LER, LER e LER! Os Livros sempre tiveram esta faceta de oráculo-Nostradamus-do-mundo, de janela-internet-desplugada-mas-conectada-a-tudo. Prá mim, o Rádio ainda era forte fonte de informação e cultura, mas a Rádio Nacional já tinha sido covardemente esvaziada pela ditadura que escurecia a informação e a formação dos brasileiros como um todo, especialmente depois da nefasta sexta feira 13 de dezembro de 1968, quando foi decretado o Ato Institucional número 5, que acabava com os (então restantes) direitos essenciais dos cidadãos.

Voltando ao Rádio no Rio de Janeiro, havia a Mundial AM, “superquente”, concorrente da Tamoio, e depois a Rádio Nacional FM {Restabeleçam, Oh Governantes!} entre outras, ótimas. Tocava-se ainda {acreditem!} de tudo (estou falando de diversidade musical geral), mas este é outro assunto. O pior é que, à época, “queimava-se” (com e sem aspas) Livros. Tom Zé contou uma vez que seu caminho de vida (intelectual) vinha seu epicentro em Irará no interior da Bahia onde nasceu, num mundo pré-gutemberguiano, rústico, isento de leituras, tendo depois atingido a um grau bastante sofisticado de leituras, até chegar à TV e ao cartaz, mundos da informação rápida que, de novo, prescindiam da leitura e dos Livros.

Eu, que admirava, admiro e admirarei os Livros daqueles que chamo de Descobridores” do Brasil (Euclides da Cunha, de Os Sertões; Gilberto Freyre, de Casa Grande e Senzala; Darcy Ribeiro, de O Povo Brasileiro e outros) uma referência para tudo que se pretendia e pretende para este País-Nação Brasil, através de um mundo ou vários mundos de possibilidades na Terra Brasilis Mas, por incrível que pareça, eu não me apaixonava pelos Livros em geral naquela época, simplesmente por desconhecimento, pela ignorância, falta de intimidade, de sintonia e até distância. Isto tudo ao contrário de meus filhos, Glauber e Gabriel, hoje, 121107, com 8 (oito) anos, que tem na Escola, nas Bibliotecas e em Casa um contato o mais natural possível com os Livros. Eu procuro deixá-los completamente à vontade e com intimidade com todos os tipos de pepitas-Livros.

Mas era justamentealí, na vontade de descobrir –e de se descobrir –no País-Nação Brasil que meu ímpeto também, modestamente desbravador, surge do nada para saber tudo: só aquelas perguntinhas básicas. Em mineirês claro: Don cô vim? / On cô tô? / Pron cô vô? Sim, porque, carioca que sou, tive que buscar até em Minas Geraes as palavras certas para expresssar, aqui, aquela minha busca. E vi na MPB, mais especificamente na Tropicália, o caminho, o alçapão para eu mergulhar bem fundo no Brasil e/ou capturar todas as informações que respondessem às tais perguntinhas.

E onde entra o papel do Bibliotecário nesta história hoje? Vou voltar um pouco no tempo da minha própria história: O mesmo papel que tinha o empregado da loja de departamentos americana Sears, instalada no Rio de Janeiro onde hoje funciona o Shopping Praia (de) Botafogo… (ops, na “lingua pátria” fala-se na ordem inversa). Em seu departamento de discos, aquela megaloja permitia que se pudesse ouvir, nas várias cabines disponíveis, qualquer LP, os discos de música da época. E em suas prateleiras, abertas diretamente a acesso ao público, expunha –como poucas –tudoque era gênero, estilo e som até mesmo não-música. Quer saber de alguns dos discos que eu ouvia e comprava na época? “Transa”, de Caetano; “Dez Anos Depois”, comemorando magistralmente os 10 primeiros anos grupo vocal MPB-4; o piano clássico de Cristina Ortiz; “A Missa do Vaqueiro”, do Quinteto Violado, queles discos “malucos” de Alice Cooper (cujo show assisti no Maracanazinho) e até discos de vinhetas, usados para programa de Rádio, com sons de trem, avião etc. Eu nem tinha (ainda) meu programa de Rádio, mas ficava fascinado nas suas possíveis utilizações e curtia aquilo também!

E o bibliotecário? E a biblitecária? Ali, era aquele “moço” ou “moça” que nos atendia prontamente para nos apresentar àquelas tantas preteleiras e nos tornar, como eles, íntimos de tudo, e com intimidade de quem pode ver tudo, ouvir tudo, sentir tudo, e, claro, fazer suas escolhas. E quando faltava “aquele” disco? Na hora, aparecia uma caneta “mágica” que anotava as sugestões e dava até estimativa de prazo para receber o produto. Muito de tudo:facilitação, apresentação, fechando o elo daqueles transeuntes-clientes que iam, como eu, ouvir, ouvir, ouvir e, o que interessava no casoa eles, comprar. Nessa hora, também havia vantagem: Clube do Disco: compre 10 e ganhe 1 de graça à sua escolha!! E para os duros estudantes, como eu, havia uma coisa boa a mais: podia se convencer alguém de comprar e pedir para registrar para você, em suaficha, aquela compra, se a criatura não participasse do Clube do Disco. E hoje? Isso pode virar uma febre: quem ler 10 Livros, vai poder pegar (ou comprar com desconto) mais Livros, e até ganhar prêmios e livros. Mas os maiores prêmios são: o maior prazerao ler e a descoberta de mais e mais Livrinhos bacanas!

Claro {Que tal?!!} apresentando sorrisos inclusive (e principalmente) das capas-rostos dos Livros; fazendo os visitantes “tropeçar” sobre os Livros e, aí sim, só fechar o “círculo”… que hoje, porincível que pareça é diferente: a moçada é devoradora de Livros! Basta a roda para brincar. Basta um input… e observar!

Exposições temáticas, papos de apresentação de autores e Livros… A cada experiência, mais contato, mais um leitor, e o elo se completa! E o milagre se faz! Sim, bibliotecário é um facilitador, um ser “de Marte” que apresenta o “Senhor” Livro para todos poderem passar a chamá-lo de “você”! É como dizem os Titãs, “A gente não quer só comida a gente quer comida, diversão e arte”. E o Livro é alimento sagrado.

Campanha: Instale uma banca de Livros em sua Drogaria, Farmácia e afins. Livro é remédio também! Se quiser, também instale uma biblioteca na loja. A versão homeopática e sem constrangimento do preço do Livro alivia a dor da gente! E o afago, cliente, paciente incauto, se dará com um (ou uma) bibliotecario (a) dando sugestões aos males da cabeça e o corpo (que padece junto). Não quer instalar nem uma livraria diversificada nem uma biblioteca, mesmo de Livros doados… tudo bem… mal  pra você… vai ter que acatar lei federal! E, quem sabe, o velho tipo faceiro se verá livre, quem sabe, de muitos males do Brasil.

Mais Livros.Uma coisa puxa outra: Dizem que é atribuído a Saint Hilaire, um viajante estrangeiro aqui pelo Brasil dosanos 1810, a frase “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. Sabendo disso o genial modernista Mário de Andrade escreveu em Macunaima: “Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são!”. Mário de Andrade brincava com a frase do viajante e fazia uma crítica ao chamado higienismo, característico do pensamento médico e de alguns setores conservadores. Penso eu que o médico tem que cuidar da saúde. Não da doença.

Encerrando esse papo, esta Proposta de Escrita 121107, ao contrário de Kleber Santos, aqui já aqui citado, que disse em seu depoimento “não ter mais nada a declarar”, eu tenho muito a declarar: eu existo, sou brasileiro, tropicalista e estou aqui à postos para convites e palestras, desde que eu não pague para isso, desde que seja viável e prazeiroso para todos, desde que o Brasil e os brasileiros e brasileiras possam, cada vez mais, se identificar e se descobrir e mesmo se sentirem também descobridores de sua pátria!

Título: Tropicália, Um Caldeirão Cultural

Autor: Getúlio Mac Card

Editora: Ferreira

ISBN: 9788578421793

Ano: 2011

Páginas: 448

Veja o livro no skoob.

Comentários

Comentários