Segundo dados de uma pesquisa realizada em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 116 milhões de pessoas tem acesso à internet no Brasil, o que correspondia a 64,7% da população total do país naquele mesmo ano. Um relatório sobre economia digital divulgado em outubro de 2017 pela Conferência das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento colocou o Brasil em quarto lugar no ranking mundial de usuários de internet, atrás da China com 705 milhões, da Índia com 333 milhões e dos Estados Unidos com 242 milhões de pessoas. Todavia, em se tratando do percentual da população conectada o Brasil apresenta dado muito inferior se comparado principalmente a países cuja a conexão a internet se encontra bem estabelecida, como o Reino Unido que tem 94% da população conectada, o Japão com 92%, a Alemanha com 90% e os Estados Unidos e a Rússia com 76%.

É verdade que somente na década de 90 os computadores pessoais se tornaram mais populares no mercado brasileiro e o preço passou a ser acessível a uma parte maior da população. No entanto, foram com os smartphones que um número maior pessoas passou a ter acesso à internet. No final de 2014 o Brasil era o sexto no mercado mundial de smartphones.

O fácil acesso permitiu que a web fosse inserida na rotina de milhares de pessoas sem que ao menos fossem preparadas para otimizar e maximizar seu uso.

Infelizmente quando o assunto é educação o Brasil assume uma posição muito inferior. Com o 60º lugar no ranking global de qualidade de educação segundo a pesquisa encomendada à consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) pela Pearson em que foram analisadas as notas de testes efetuados por estudantes de 40 países entre 2006 e 2010.

A comparação entre o resultado das duas pesquisas sugere um nicho ainda pouco explorado no Brasil, o uso da tecnologia na educação. A ideia é que a tecnologia seja auxiliadora e complementadora no processo educativo e não ferramenta para a substituição de práticas de ensino. Essa concepção deve ficar clara principalmente quando tratamos de ensino extraclasse. É então que podemos falar de biblioteca como uma instituição capaz de sobreviver, ao contrário do que diz  senso comum, as transformações impactadas pelas tecnologias de informação e comunicação.

Em se tratando de apoio ao ensino as bibliotecas possuem experiência milenar, aliás é possível falar em biblioteca mesmo antes das instituições formais de educação.

Sem dúvida a internet revolucionou o modo de pesquisa. Sem contar com os e-books disponibilizados em ambiente virtual, muitos até de modo ilegal. Essa disponibilização de fontes na internet criou a falsa ilusão de que as bibliotecas se tornariam locais obsoletos. Isso se deve a representação da biblioteca no contexto social, a função de guarda e manutenção de fontes de informação a que foi condicionada.

As bibliotecas antes de mais nada são locais de interação, entre o leitor e o documento, o leitor e o bibliotecário mediador da informação disponível, o leitor e os outros membros da comunidade, o leitor e toda a tecnologia que a instituição dispõe. Todas estas relações sofrem influências umas das outras. A própria relação leitor e documento é diferente quando há relação de mediação entre o leitor e o bibliotecário, independente do suporte em que a informação esteja. Uma das funções da biblioteca é cuidar para que o leitor seja informacionalmente letrado, ou seja, capaz de pesquisar, avaliar, comparar e usar adequadamente a informação disponível. Esse processo é essencial para o aprendizado.

O próprio processo de busca de informação na internet requer que o leitor possua competências informacionais, principalmente relacionadas a estratégia de busca, apuração dos resultados e senso crítico para julgá-los. As pesquisas na internet recuperam conteúdos muitas vezes rasos, duplicados e sem embasamento. Além dos mais os esforços despendidos pelas bibliotecas em manter os históricos de informação não são objetivos dos canais da web. Um exemplo disso é a informação jornalística que por vezes se perde no emaranhado de novas notícias. Diferentemente das hemerotecas em que um assunto era cuidadosamente acumulado em pastas classificadas. Por outro lado, algumas práticas substituídas pelo mecanismo de busca deixaram lacunas no processo de aprendizado, são elas a necessidade de localizar um assunto em um índice ou sumário e conhecer suas ramificações e posição na classificação, orientar o usuário na compreensão do status quo na construção do seu próprio conhecimento.

A função da biblioteca transcendem a guarda ou disseminação de informação. Todavia esse é o cerne da sua existência. A importância social da biblioteca pública é assegurado na transmissão de informações utilitárias, no auxilio ao usuário quanto a localização de um lugar em que ele precise ir, no fornecimento de um número de telefone útil para a resolução de uma questão pessoal, no ensino de como imprimir uma conta pela internet e/ou acessar um e-mail, no conforto de ter vários materiais de pesquisa sobre diversos assuntos, e que não estejam desmantelado em várias páginas na internet. Na conversa de balcão sobre um livro ou entre estantes com outro usuário inicia a biblioterapia. Na parada, na interrupção de uma vida acelerada e ao mesmo tempo estática enfrente a uma tela. A própria biblioteca pública de Nova York ainda não interrompeu seu serviço de atendimento por telefone que já dura há mais de 40 anos porque até hoje recebe mais de 30.000 chamadas por ano.

Nos últimos anos muitos países tem inaugurado grandes bibliotecas em que a interação é o foco. Na Finlândia, primeiro lugar no ranking mundial de educação, com 86% da população com acesso à internet, tem na biblioteca pública o serviço cultural mais utilizado. Seu sistema de bibliotecas é considerado o mais avançado e um dos melhores do mundo. São 102 milhões de empréstimos por ano em um país com 5,2 milhões de habitantes. São 64 milhões de visitas registradas na biblioteca anualmente. “Na biblioteca pública da era da informação, serviços físicos e virtuais apoiam e reforçam-se mutuamente.” diz o site finlandia.org.br do Ministério das Relações Exteriores da Finlândia. Em 2017, em comemoração ao aniversário de 100 anos de independência os finlandeses ganharam mais uma biblioteca publica primorosa.

Em um país como o Brasil a maioria das pessoas não sabe ou não compreende a função da biblioteca na sociedade. O papel de servir e munir os usuários de informação relevante e fidedigna que vão auxiliá-lo a ter uma vida mais digna e irá capacitá-lo para que isso aconteça durante toda a vida. A verdade é que a desvalorização do ensino formal e obrigatório reflete no ensino informal ou extraclasse, e diretamente nas bibliotecas que são vistas puramente como um equipamento educacional, excluindo seu papel cultural e na sociedade.

As bibliotecas que se mostram ativas, acreditam que precisam oferecer grandes espetáculos  esporádicos e que na maioria das vezes pouco influenciam a dinâmica da sociedade, promovendo ações isoladas, contação de histórias, distribuição de livros, sem aplicação prática e sem a conquista do cliente. Tudo inicia com o descaso e a ausência de profissionais que reconhecem a função e a importância da biblioteca.

É fato que não somos uma não em condição de discutir o fim da biblioteca. Ao contrário, deveríamos nos perguntar qual é o papel social da biblioteca e como ela pode contribuir para o nosso aperfeiçoa mente individual e coletivo.

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