Nos últimos vinte e cinco anos – ou mais -, os zumbis se tornaram os monstros mais vistos e discutidos nas rodas de conversa. “Resident Evil”, “The Walking Dead”, “Guerra Mundial Z”, “Z Nation”, “Maggie: A Transformação”, “Cargo” e “Madrugada dos Mortos” são exemplos de uma lista extensa e que parece não ter fim.

Há até espaço para a comédia pastelão, como em “Zombieland”, “iZombie” e “Orgulho e Preconceito e Zumbis”, e também para o romance teen, caso de “Meu Namorado é um Zumbi”. Na literatura, a temática é semeada como milho em solo fértil. Basta procurar pelo tema para esbarrar em títulos diversificados. “Celular”, de Stephen King, e “As Crônicas dos Mortos”, de Rodrigo de Oliveira, são lembranças que se perdem no meio de tantas opções.

Referências à parte, ninguém consegue trazer melhor a temática zumbi do que os sul-coreanos. Pelo menos, essa é a minha impressão ao assistir os excelentes “Invasão Zumbi” (2016) e a série recém-lançada pelo Netflix, Kingdom (2019).

Em ambos os trabalhos, esbarramos em mortos-vivos crus, sedentos, tão velozes quanto o seu instinto canibal e com enredos que costuram muito bem a fuga de humanos, seus dramas existenciais – que não diminuem de tamanho com a aproximação do apocalipse – e a possibilidade do mundo como conhecemos ser completamente destruído.

Dirigida por Kim Seong-hun, importante nome do cinema sul-coreano, em parceria com a roteirista Kim Eun-hee, Kingdom começa a tecer a tapeçaria do drama quando um jovem príncipe tenta visitar seu pai e é impedido pela rainha e os guardas do palácio.

Sentindo que há algo estranho, ele entra às escondidas e sente um fedor de putrefação vindo de uma sombra dentro do cômodo real. Intrigado, o príncipe-herdeiro e seu guarda pessoal partem em busca do último médico que tratou o monarca.

Kingdon é Kim Seong-hun, importante nome do cinema sul-coreano. Imagem: divulgação

Neste ínterim, pacientes de uma modesta clínica do interior transformam-se em monstros – na série, o termo zumbi não é utilizado – depois de ingerirem uma sopa com pedaços de carne humana contaminada.

Logo, a “doença” se espalha e ataca os mais diversos distritos e vilas. Além da matança produzida pelos mortos vivos, o espectador acompanha de perto as intrigas palacianas na busca pelo poder. Gente capaz de matar com naturalidade, forjar realidades e editar decretos autocráticos, como é o caso do ganancioso Lorde Cho.

Não há tempo para cansaços ou mesmices em Kingdom. Enquanto acompanhamos a luta humana pelo poder na Coreia Medieval, especificamente na Dinastia Joseon – entre 1392 e 1897 -, começamos a torcer pelos personagens.

O príncipe Lee-Chang (Ji-Hoon Ju) vai alterando o comportamento mimado e egoísta ao ter contato com a miséria do povo; o amor improvável do corregedor medroso (Suk-ho Jun) pela médica Seo-bi (Bae Doo-na) e a esperteza de ninja do guerreiro que ninguém sabe o nome ou a origem (cujo nome do ator eu sequer consegui localizar e faço aqui a mea-culpa).

A infestação da doença de mortos-vivos nasceu das trapaças e jogos políticos, mostrando o total distanciamento entre a dita nobreza e as classes inferiores (todo o resto). Diferença que cai por terra quando os indivíduos são canibalizados pelos doentes, pois todos viram membros de uma só legião desgovernada.

Essas e outras abordagens tornam Kingdom – renovada para a segunda temporada – série essencial para o catálogo dos interessados na temática. E a contar pelo material produzido massivamente durante os últimos anos, tem muita gente de olho.

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