O ator Nicolas Cage é um enigma. De atuações excelentes, como as que protagonizou em Coração Selvagem (1990), Despedida em Las Vegas (1995), A Rocha (1996), A Outra Face (1997), Cidade dos Anjos (1998) e O Senhor das Armas (2005), Cage conseguiu descer até o “submundo” em filmes como Perigo em Bangkok (2008), Presságio (2009), o péssimo dos péssimos Vício Frenético (2009), Caça às Bruxas (2011) e o sonífero Outcast (2014).
Depois de uma enxurrada de filmes ruins, fiquei tentada a desistir de Nicolas Cage antes mesmo de saber como ele torrou quase toda a sua fortuna com excentricidades sem propósito (esqueleto de dinossauro, criação de polvo gigante, castelos, ilhas particulares, etc e etc). Recentemente, assisti Joe (2014) e fiquei imaginando que ainda existe uma luz no fim do túnel para o ator.
Neste drama independente, Cage interpreta o capataz de uma pequena empresa de envenenamento de árvores. Ele e seus funcionários fazem esse serviço para que as grandes madeireiras não tenham problemas em assassinarem as plantas locais e plantarem outras mais lucrativas. Joe é ex-presidiário e tenta lidar com seus rompantes de raiva, pois vive assombrado pelas injustiças que ocorrem no mundo. Certo dia, um garoto de 15 anos encontra Joe e sua turma trabalhando na floresta e pede emprego ao capataz. Esse adolescente é Gary Jones (Tye Sheridan), vítima de um pai alcoólatra, vagabundo e imprestável e de uma família disfuncional. Gary se sente responsável pela casa, procurando trabalho para comprar comida e cuidar da mãe e da irmã caçula, que deixou de falar depois dos abusos do pai.
Logo nos primeiros dias, Joe percebe como o garoto é esforçado, honesto, incansável em seu trabalho, e decide mantê-lo no grupo. A situação piora quando o menino traz o pai para trabalhar. Tomado pelo álcool, o sujeito atrapalha o serviço de todos. Quando pai e filho são dispensados, o garoto volta em meio a uma chuva torrencial para pedir o seu emprego de volta ao capataz. A partir daí, Joe percebe que aquele garoto em estado de vulnerabilidade pode ter uma vida diferente se for ajudado. Ao topar com Gary, o madeireiro vê suas feridas mais antigas subirem à superfície – assim como a sua capacidade de fazer o bem e corrigir injustiças.
Joe é um filme que trata de temas particulares com bastante carga emocional, fazendo de um assunto aparentemente clichê uma questão a ser discutida, um grito por justiça. É um drama rural, baseado no Texas profundo, e que ganha por ser conduzido de maneira certa. Com o longa-metragem, aprendemos que não basta apenas boa intenção: é preciso agir corretamente e viver o que se acredita, adaptando os sonhos às circunstâncias (sem, no entanto, esquecê-los).