Agatha Christie, conhecida mundialmente como “rainha do crime”, é uma das escritoras mais lidas, traduzidas e publicadas do mundo. Gerações inteiras ainda crescem lendo e se envolvendo nos romances de mistério e intrigas da autora inglesa, cujo xeque-mate segue o ritmo certo para prender a atenção: segredos codificados nos mínimos detalhes. 

A receita não é diferente em “O Mistério Sittaford“, onde o fio condutor parte do assassinato do capitão endinheirado (e pão duro) Joseph Trevelyan, proprietário da mansão Sittaford e de mais seis bangalôs próximos ao palacete. A revelação do homicídio ocorre de forma curiosa, já que acontece por meio do jogo mesa-girante, apontado como portal de atividade mediúnica e muito popular na Europa e nos EUA a partir do século XIX.

A investigação da polícia leva ao nome do sobrinho do capitão, James Pearson, que carrega no histórico certos “pecadilhos financeiros” efetuados na empresa onde trabalha, além de ter estado presente no local do crime e se evadido de forma imediata. Sendo o principal acusado, o jovem boêmio só pode contar com os esforços e determinação de sua noiva, Emily Trefusis, descrita no livro como uma mulher bonita e bastante focada.

Ao invés de seguir o perfil de “noiva aflita, com os nervos em frangalhos”, Emily emprega toda a sua inteligência em descobrir quem é o verdadeiro assassino do capitão Trevelyan. Para isso, conta com o apoio do jornalista Charles Enderby, enviado para cobrir o fato e, como todo bom jornalista (pelo menos assim o dizem), faz tudo pelo furo, pela notícia de primeira mão.

Como jornalista, dei algumas gargalhadas e balancei a cabeça ao perceber o senso comum empregado para descrever os profissionais da imprensa, tidos como “abutres oportunistas”, conceito que parece estar impregnado no imaginário popular – na maioria das vezes, não sem razão:

“Conheço bem os da sua espécie. Nenhuma decência. Nenhuma discrição. Juntam-se ao redor de um homicídio como urubus rondando uma carcaça.”

“O Mistério Sittaford” traz toda a perícia literária-criminal que tornou Agatha Christie famosa, e foi considerado pelo The New York Times como “um dos melhores livros que ela já escreveu”. Eu o achei interessante, palpável, com um toque de realidade maior, mas, mesmo com mais de duas décadas de convivência com a “rainha do crime”, ainda sinto algumas peças faltando no tabuleiro.

Explico: o desfecho é surpreendente, os bandidos geralmente são pessoas acima de qualquer suspeita, porém, em quase todos os livros que li da autora, achei que faltou um ponto de ligação entre o criminoso e o motivo. Apesar das pistas que Agatha vai lançando no decorrer do livro, percebo que, na maioria dos casos, a biografia dos culpados é pouco esmiuçada e a razão do delito costuma ficar solta no ar. Todavia, mesmo essa pequena “falha” não ofusca o brilho dos romances da escritora inglesa, sempre cheios de segredos e imaginação.

Ficha técnica:

Título: O Mistério Sittaford

Original: The Sittaford Mystery

Tradução: Carlos André Moreira

Editora: L&PM

Ano: 2010

Páginas: 256

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