“Vivemos em tempos difíceis”, é o que mais se ouve nos últimos dias. O Brasil se transformou numa espécie de república bananeira, daquelas que surgiram aos montes, em décadas passadas, na querida e sofrida América Central. Para estancar este espectro em nosso país, é preciso que os democratas se unam, deixando de lado as suas cores partidárias, em defesa do estado democrático de direito, e da democracia brasileira, tão violentada e jamais implantada em sua plenitude, por aqui.
O presidente do Brasil, com sua retórica totalitária e sua sanha golpista, dobrou a aposta e avançou sem cerimônia no que ele chama de “quatro linhas da constituição”, e ameaça dar um golpe de estado, caso a sua vontade não seja feita no tocante às eleições do próximo ano. Entendendo ser ele o soberano, Bolsonaro acusa ministros do STF tanto de impedir a questão do tal voto impresso auditável (como se o STF legislasse), quanto de incluí-lo injustamente no inquérito de “mentiroso” (inquérito 4781).
De forma vil e covarde, Bolsonaro passou a última semana destilando seu rancor, seu ódio, suas mentiras e sua pequenez para os seus fãs que o saúdam todos os dias no curral feito em frente ao Palácio da Alvorada. Fosse ele um ser qualquer, tudo o que falou para o contingente que faz questão de ir lá ouvi-lo, não seria noticiado, entretanto (e infelizmente), ele é o presidente da República.
Voluntariamente, o presidente desistiu de governar o país. Essa tarefa foi passada de forma não oficial para o grupo político que sempre está na situação, conhecido vulgarmente como Centrão. Uma vez não cumprindo com suas obrigações constitucionais e para o qual foi eleito, Bolsonaro tem tempo para ficar viajando o Brasil, não para fazer algo que valha a permanência dele no cargo, mas para espalhar mentiras e fomentar conflitos que podem ser sérios para o próximo pleito.
Não podemos permitir que ele faça da presidência da república o que quiser. Não dá para ficar olhando um sujeito que sempre foi indisciplinado, vulgar e com comportamentos pouco republicanas fazer o que ele acha que pode, sentado na cadeira mais importante do país!
Embora a democracia brasileira tenha mecanismos que servem de freio e contra peso para barrar sanhas totalitárias e manter a harmonia dos poderes, infelizmente parece que estamos sem procurador-geral da República, tamanha é a subserviência com que Augusto Aras trata de assuntos que cabem a ele. Na verdade, Aras não trata de assunto nenhum quando o sujeito em questão é o presidente da república.
E pensar que Geraldo Brindeiro, procurador na mesma época em que Fernando Henrique era presidente, é conhecido até hoje como “engavetador geral da república”. Todavia, e a bem da verdade, FHC não atacava as instituições como Bolsonaro ataca; o problema com FHC era de outra ordem.
A última invencionice do presidente foi fazer a mesma coisa que o mestre e senhor dele fez nos Estados Unidos, qual seja: levantar suspeita sobre o sistema eleitoral que, diga-se de passagem, sempre o elegeu desde que ele começou a concorrer a cargos públicos através do voto.
O que causa espasmos é que ele levanta suspeita de um sistema que sempre o elegeu, não apresentando provas, pelo contrário, dizendo em alto e bom som que ele não possui provas, mas apenas evidências (se eu parar para nomear as evidências que tenho sobre as relações ocultas em que a família dele está envolvida, daria um livro e, mesmo assim, não fico por aí vociferando sobre isso).
Parei para ler a tal da PEC que estava tramitando na comissão especial do voto impresso na Câmara. Em um dos pontos era expresso ao prever que a contagem dos votos seria de forma MANUAL e nos locais de votação. E quem contaria os votos? As pessoas que trabalharam nas eleições, os representantes dos partidos políticos e membros da sociedade civil que desejassem participar da contagem.
Este encontro de torcidas organizadas com suas paixões afloradas é chamado pelos defensores da PEC de transparência. Imagine você, em pleno 2022, o Brasil, país reconhecido por ter um sistema de eleição a frente do seu tempo, retornar 26 anos na história para fazer a vontade de um homem mimado e doente de 56 anos… “me polpe, se polpe, nos polpe!”
A PEC foi rejeitada na comissão especial por 23 votos a 11, encerrando de vez a discussão sobre essa loucura. Todavia, numa manobra para acenar ao Planalto, Artur Lira, terceiro homem na sucessão presidencial, disse em coletiva na tarde da sexta-feira, dia 6 de agosto, que vai levar a questão para ser debatida e votada em plenário da Câmara.
Lira mostra que, a despeito da opinião pública e dos flagrantes abusos e arroubos autoritários vindo de Bolsonaro e da turma fardada que tem saudade dos tanques nas ruas, ele vai continuar pagando pedágio para quem o fez presidente da Casa. Há quem diga que essa manobra de Arthur Lira é uma forma dele se livrar de vez dessa questão, a mostrar para o bolsonarismo que ele tentou, mas não passou; a saber!
A democracia precisa acionar os mecanismos para sua própria defesa. Regimes com vieses autoritários e que foram vencidos ao longo do “breve século XX”, parafraseado Eric Hobsbawm, utilizaram da democracia para serem instalados, e uma vez no poder, queriam usurpar a democracia. Não dá para assistir tudo isso sem fazer nada. Nossa democracia é jovem e titubeante ainda, mas nós podemos nos levantar e dizer não a todo discurso autoritário.
É hora de nos unirmos, seja lá as ideologias que nos embalam enquanto agentes sociais; há algo maior do que elas e que precisa urgente de defesa! Apesar de você, Bolsonaro, amanhã vai ser outro dia; apesar de você e sua caterva, nós iremos às urnas em outubro de 2022, e, queira os céus, varrer você e os seus para a lata de lixo da história!